Ainda mais saudável

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  20/02/2021 06:10

NOTÍCIAS/ REDAÇÃO

Apesar de o principal assunto da área da saúde ser a pandemia ocasionada pelo coronavírus, é necessário manter os cuidados contra outras doenças infecciosas

Reprodução/Foto-RN176 Foto de algumas habilidades  e alimentações saudável – Editora Brasil Seikyo – BSGI

O surgimento do novo coronavírus, causador da pandemia da Covid-19, impulsionou fortemente a população mundial para a importância dos cuidados com a proteção e a higiene para evitar a contaminação. Porém, muito antes de esse vírus aparecer, outras doenças também infecciosas já estavam na pauta dos profissionais da área da saúde, algumas delas passando despercebidas pelas pessoas. Mesmo que há quase um ano grande parte da população, governos e órgãos de saúde se mantenham firmes nessa luta de combate à pandemia, muitas outras doenças infecciosas também merecem atenção.

O que são doenças infecciosas? São aquelas causadas por micro-organismos (vírus, fungos ou bactérias) que se instalam no organismo humano e, ao se proliferar, causam fortes alterações no sistema imune, provocando graves doenças. Entre as mais comuns estão malária, febre amarela, sarampo, dengue, zika, chikungunya, influenza e sífilis. Cada doença tem suas formas de transmissão, entre eles, o contato direto com pessoa infectada, por meio de superfícies contaminadas, alimento, água, secreções respiratórias, contato sexual, contato com ferimentos ou por via de algum inseto ou animal.

Tecnologia a favor da saúde

Em 2018, antes do surgimento do novo coronavírus, outras doenças infecciosas consideradas prioritárias já estavam na mira do Organização Mundial da Saúde (OMS), entre elas a febre hemorrágica, síndrome respiratória coronavírus do Oriente Médio (Mers), síndrome respiratória aguda grave (Sars), zika, entre outras. Desde essa ocasião, foram iniciados estudos para identificar quais delas poderiam causar algum tipo de pandemia e para quais delas ainda não existiam protocolos suficientes. Dessa forma, o órgão pediu à comunidade científica esforços no desenvolvimento de vacinas e nos tratamentos das doenças listadas.1 Na época, dengue, febre amarela, Aids, tuberculose, malária, gripe causadora de doenças humanas graves, varíola e cólera não foram inseridas no plano, pois, mesmo sendo doenças que trazem grande preocupação à saúde pública, já havia investimentos, políticas e órgãos específicos dedica dos a elas.

Apesar de algumas doenças como febre amarela e cólera voltarem a crescer no país, esse tipo de incentivo ao estudo fomentado pela OMS, aliado aos avanços tecnológicos, vem apresentando excelentes resultados. Em entrevista ao Brasil Seikyo, a Dra. Keilla Freitas, infectologista do Hospital Sírio Libanês e diretora da clínica Regenerati, afirma: “Sem dúvida, a tecnologia tem ajudado no combate a doenças infecciosas de várias formas, tanto no estudo como na elaboração de vacinas mais eficazes na vigilância epidemiológica em âmbito mundial dos subtipos desses vírus. As vacinas podem ser atualizadas e melhoradas para combater subtipos diferentes de cada doença e isso se dá, basicamente, porque os estudos são contínuos.”

O desenvolvimento de tecnologias na saúde tem colaborado para a solução de muitas questões, por isso é tão importante manter os investimentos nessa área.

Em janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde apresentou estudo no qual identificou treze desafios globais a serem sanados para o desenvolvimento da saúde pública até 2030. Um deles, uso e domínio de novas tecnologias, dá conta de que a “manipulação genética, biologia sintética e tecnologias digitais como inteligência artificial podem resolver muitos problemas”.2 Apesar disso, nesse quesito, afirmam que a partir daí “também levantam questões e desafios sobre monitoramento e regulação”, ou seja, uma luta constante para o desenvolvimento e aprimoramento da parte técnica, mas também da questão burocrática dentro dos órgãos de saúde.

Desequilíbrio ambiental

Outro fator que colabora para o alastramento de doenças infecciosas é o desmatamento. Atualmente considerada como responsável por 70% dos últimos surtos epidemiológicos que assolaram o mundo, a derrubada de árvores destrói também o que seria uma espécie de barreira natural do ecossistema. Em entrevista ao jornal espanhol El País, María Neira, diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, explica como isso ocorre:

Ao derrubar a floresta para substituí-la por agricultura intensiva e poluente, os animais que vivem nesses lugares nos quais o homem não havia entrado sofrem profundas transformações. Aparecem espécies com as que não estávamos em contato e que podem nos transmitir doenças. Passar de uma floresta tropical para um cultivo, com adubos e pesticidas que nunca tinham entrado nesse ecossistema, altera o tipo de vetores capazes de transmitir os vírus”.3

Cuidando do futuro

Desenvolver hábitos saudáveis na alimentação e na higiene evita uma série dessas doenças infecciosas. No caso dos adultos, é provável que fique mais fácil para eles cuidarem de si mesmos, mas também são os responsáveis por ensinar bons hábitos às crianças. Acompanhá-las no momento de lavagem das mãos, ajudar no uso das máscaras, ensinar como higienizar corretamente os alimentos são somente algumas das possíveis ações facilmente identificáveis na relação com os mais jovens. Essa forma de zelar pelo futuro daquela criança, assim como da humanidade, pode ser iniciada no seio da família, ambiente imediato onde estamos inseridos e base para a sociedade, conforme declara o Dr. Daisaku Ikeda, presidente da SGI:

O ambiente familiar representa um importante papel na formação dos hábitos da criança. Os adultos podem, até certo ponto, cuidar da própria saúde, ao passo que as crianças, não. Os pais devem proteger a saúde dos filhos. É importante que se conscientizem de sua responsabilidade de trabalhar com os filhos para desenvolver uma vida saudável em benefício deles.4

Reprodução/Foto-RN176 Dra. Keilla Freitas: É formada em medicina pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); pós-graduada em medicina intensiva pela Universidade Gama Filho e residência médica em infectologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); é também especialista em controle de infecção hospitalar pela Universidade de São Paulo (USP).

Três perguntas para a Dra. Keilla Freitas

Brasil Seikyo conversou com a infectologista para entender um pouco mais sobre como continuar a prevenir outras doenças infecciosas enquanto combatemos o coronavírus.

Brasil Seikyo: Em meio ao atual cenário pandêmico, ocasionado pelo novo coronavírus, outras doenças infecciosas continuam afetando a população brasileira. O que tem sido feito para combatê-las?

Dra. Keilla Freitas: Cada doença tem uma forma diferente de transmissão, e o combate a elas está relacionado com a forma como são transmitidas. Por exemplo, malária, febre amarela, dengue, zika e chikungunya são infecções transmitidas por mosquitos e a principal forma de combate é impedir a proliferação do transmissor. Com relação a febre amarela e influenza, a principal forma de prevenção é a vacinação em massa de todos aqueles que não possuem contraindicação. O mesmo vale para o sarampo que, apesar de ser transmitido de pessoa a pessoa, a principal forma de combate é a vacinação.

BS: O desequilíbrio do meio ambiente, inclusive as ações humanas, colabora para o alastramento de doenças infecciosas? Se sim, pode citar um exemplo de como isso ocorre?

Dra. Keilla Freitas: Uma das principais causas apontadas para o aumento da disseminação de doenças infecciosas é a diminuição dos espaços selvagens e a convivência do homem cada vez mais próximo a áreas antes silvestres. Exemplo disso é a febre amarela. Até o momento não existem registros de transmissão dessa doença em áreas urbanas pelo mosquito. O que temos são transmissões de pessoas para pessoas que, mesmo vivendo nas cidades tiveram algum contato com matas, que abrigavam o transmissor.

BS: Quais ações nós podemos adotar para combater essas doenças?

Dra. Keilla Freitas: A principal medida que precisamos tomar é a de atualizar o calendário de vacinação, inclusive de pessoas adultas saudáveis. Precisamos nos vacinar e ajudar na divulgação da importância da vacinação para todas as pessoas do nosso convívio. Além disso, medidas simples de higiene e de limpeza, como não deixar água parada, podem impedir a criação dos mosquitos da dengue. Outro fator importante é procurar um médico caso tenha sintomas de qualquer doença para não correr o risco de transmitir a mais ninguém.

Evitando doenças

Em especial, destinar atenção à higiene pessoal, além do uso de preservativo (para o caso das doenças transmissíveis sexualmente), é uma das principais formas de prevenção. Os cuidados não diferem muito daqueles que reaprendemos com a pandemia:

Manter cozinha e banheiro limpos.

Levar regularmente os pets ao veterinário.

Atenção à carteira de vacinação, sua e dos seus familiares.

Uso correto de máscaras faciais (cobrindo sempre nariz e boca).

Lavar as mãos corretamente e com frequência, usando água e sabão ou higienizar com álcool gel.

Evitar compartilhamento de objetos de uso pessoal como copos, talheres e escovas de dente.

Notas:

  1. Cf. OMS Divulga Lista de Doenças e Patógenos Prioritários para Pesquisa e Desenvolvimento em 2018. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5595:oms-divulga-lista-de-doencas-e-patogenos-prioritarios-para-pesquisa-e-desenvolvimento-em-2018&Itemid=812 Acesso em: 12 fev. 2021.
  2. Cf. OMS Destaca 13 Maiores Desafios de Saúde para a Próxima Década. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2020/01/1700342 Acesso em: 12 fev. 2021.
  3. Cf. Diretora de Meio Ambiente da OMS: “70% dos últimos surtos epidêmicos começaram com o desmatamento”. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-02-06/70-dos-ultimos-surtos-epidemicos-comecaram-com-o-desmatamento.html Acesso em: 15 fev. 2021.
  4. IKEDA, Daisaku. Sabedoria na Saúde —Um Novo Século de Saúde — o Budismo e a Arte da Medicina. Tradução: Elizabeth Miyashiro. 2. ed. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2010. p. 141.

Fontes:

Site oficial da Organização Pan-Americana de Saúde.

ONU News.

Site da Vigilância Epidemiológica.

Site Tua Saúde.