Força para o diálogo

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  20/02/2021 06:23

ESPECIAL

HIROMASA IKEDA/VICE-PRESIDENTE DA SGI

Aprender com a Nova Revolução Humana | volume 20

 

O volume 20, da Nova Revolução Humana, retrata a primeira viagem de Shin’ichi Yamamoto à China e à União Soviética, seguida de sua segunda visita à China, todas elas ocorridas em 1974, no decorrer de um período de seis meses. Esse volume mostra como a Soka Gakkai, organização religiosa fundamentada no Budismo Nichiren, conseguiu manter diálogo com a China e com a União Soviética, países de ideologia marxista-leninista que nega o valor da religião.

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração Editora Brasil Seikyo – BSGI

Na época, as relações internacionais estavam cada vez mais complexas: as tensões da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética permaneciam elevadas, ao passo que a China e a União Soviética atracavam-se por conflitos ideológicos.

Diante desse cenário, em 1968, Shin’ichi havia apresentado uma proposta para a normalização das relações diplomáticas entre Japão e China. Essa iniciativa se baseava em sua convicção de que a amizade sino-japonesa ajudaria a amenizar as tensões entre Leste e Oeste que vinham se desenrolando na Ásia e, no futuro, levariam à solução das tensões em âmbito mundial.

Shin’ichi enfrentou uma enxurrada de críticas em virtude dessa proposta, alguns chegando a questionar por que um líder religioso deveria “vestir a gravata vermelha” (p. 13). No entanto, ele se manteve inabalável em sua convicção de que não se pode lutar realmente pela paz a menos que esteja disposto a assumir todos os riscos envolvidos. De sua parte, o compromisso com a tarefa de melhorar as relações entre os dois países era incondicional.

A Soka Gakkai e os ardentes esforços de Shin’ichi pela paz atraíram a atenção dos líderes chineses e dos soviéticos. Seu plano de visitar esses países ganhou forma em dezembro de 1973 e se concretizou no ano seguinte. O propósito da viagem não era promover o budismo em países soviéticos, tampouco se envolver em negociações políticas. Antes, buscava dar os primei ros passos para direcionar um mundo que estava dividido em blocos antagônicos rumo à harmonia e à paz. Como budista, seu maior objetivo era ajudar a unir um mundo despedaçado por interesses e ideologias nacionais.

Shin’ichi acreditava realmente que, “independentemente do sistema social ou político do país em que vivemos, somos todos seres humanos que nutrem o desejo comum de paz e prosperidade para todos os concidadãos” (p. 52). Respondendo às perguntas sobre a razão de sua visita àqueles países socialistas, ele declarou: “Vou para me encontrar com pessoas (…) Estou realizando essa viagem para construir pontes de amizade unindo o coração das pessoas” (p. 130). Suas sólidas convicções é que o motivavam a manter diálogos em prol da paz com a China e a União Soviética.

Estender a mão para o outro lado

Em maio de 1974, Shin’ichi parte para sua primeira viagem à China, com a decisão no coração de se tornar “uma ponte da amizade” (p. 129) ligando a China e a União Soviética. Essa determinação se fortalece por meio dos vários encontros que ele tem com pessoas dos dois países.

Por exemplo, quando esteve numa escola de ensino fundamental em Pequim, testemunhou alunos cavando uma trincheira profunda para a construção de classes subterrâneas e se preparando para um eventual ataque soviético. Lembrando-se imediatamente dos abrigos antiaéreos que foram escavados por toda a sua vizinhança durante a Segunda Guerra Mundial, decide, no fundo do coração, fazer tudo o que puder para prevenir hostilidades entre os países. Em outro episódio, durante a sua primeira viagem à União Soviética em setembro daquele ano, Shin’ichi conhece um museu na entrada para o memorial no cemitério em Leningrado (atual São Petersburgo) e expressa repúdio e indignação pela perversidade da guerra.

Por manifestar empatia pelo sofrimento devastador suportado pelas pessoas comuns dos dois países, sente-se impelido a realizar diálogos, um após outro, com líderes chineses e soviéticos, entre eles o primeiro-ministro chinês Zhou Enlai, além de educadores, intelectuais e jovens. Pouco a pouco, a harmonia da compreensão mútua que transcende estruturas sociais e políticas começa a repercutir na vastidão daquelas terras.

Durante a primeira visita de Shin’ichi à China, um representante da Associação da Amizade Sino-Japonesa lhe assegura: “Acredito que a China jamais invadirá outro país” (p. 48). Posteriormente, numa interlocução com o primeiro-ministro soviético Aleksey Kosygin, Shin’ichi emite sua honesta impressão sobre a visita à China, e a resposta de Kosygin é a seguinte: “Sinta-se à vontade para informar aos líderes da China que a União Soviética não atacará o país deles” (p. 213).

Quando esteve na China pela segunda vez, em dezembro de 1974, Shin’ichi transmite a mensagem de Kosygin a várias autoridades chinesas, entre as quais o vice-primeiro-ministro Deng Xiaoping, que atuava como uma ponte entre os dois países. No capítulo “Construindo Pontes”, Shin’ ichi pondera: “Quando expressamos a verdade corajosamente, conseguimos abrir a porta do coração dos outros e permitimos que a luz do espírito resplandeça intensamente. É assim que se cultivam sementes de confiança” (p. 163).

De fato, a postura de Shin’ichi de manter um diálogo franco e sincero ajudou a abrir os corações que estavam fechados, criando uma via para a confiança.

O escritor e comentarista político Masaru Sato abordou recentemente a diplomacia alicerçada no diálogo adotada pelo presidente Ikeda numa série intitulada “Estudos sobre Daisaku Ikeda”, a qual está sendo veiculada na revista semanal japonesa AERA. Na edição de 22 de junho, ele expressa que, quando revolucionários políticos esbarram num muro, fazem o que podem para derrubá-lo. O presidente Ikeda, contudo, estende a mão para os que se encontram do outro lado do muro e os convida a dialogar. Por meio do diálogo, tenta criar aliados e cultivar a compreensão entre aqueles que mantêm posições e perspectivas diferentes.

Realmente, a despeito das diferenças, Ikeda sensei persistiu em construir redes de paz e de humanismo com pessoas de diversos os estilos de vida. Quando buscamos o diálogo, removemos todas as barreiras e fronteiras entre nós.

Um trabalho de paciência e persistência

Ao contrário das expectativas de Shin’ichi, as relações sino-soviéticas continuaram a se deteriorar após a sua primeira visita a cada um dos países. Apesar de seus esforços não produzirem frutos de imediato, Shin’ichi recusa-se a abandoná-los. Afinal, como expõe o volume 16, ciente da crescente tensão entre Estados Unidos e União Soviética e entre China e União Soviética, o professor Arnold J. Toynbee, maior historiador britânico do século 20, confiara a Shin’ichi a tarefa de dialogar com todos os líderes desses países, com a esperança de que, assim, um dia isso possibilitaria o diálogo entre eles.

Depois de retornar de sua primeira viagem à China e à União Soviética, Shin’ichi continua a edificar e a aprofundar o diálogo com líderes de ambos os países. Quando autoridades chinesas lhe solicitam que se abstenha o máximo de visitar a União Soviética para não pôr em risco seus esforços para fortalecer a amizade sino-japonesa, sua resposta é: “Amo a China. Ela é muito preciosa para mim. Ao mesmo tempo, amo todas as pessoas. Toda a humanidade é preciosa” (p. 270).

Guiado por sua crença na natureza de buda que reside dentro das pessoas, e convicto de que, no âmbito mais fundamental, todas desejam a paz, Shin’ichi se mantém firme no caminho do diálogo.

Dezesseis anos mais tarde, esses esforços para servir de ponte entre China e União Soviética finalmente começam a prosperar. Em maio de 1989, ocorre, de fato, uma reunião entre o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev, e o presidente da Comissão Militar Central e governante da China, Deng Xiaoping, e eles anunciam a normalização das relações bilaterais. Shin’ichi fica muito feliz com a notícia.

Nem toda flor que se planta desabrocha imediatamente. Mas, com convicção ferrenha e ação persistente, nossos ardentes esforços com certeza frutificarão. Como enuncia o capítulo “Laços de Confiança”, “Grandes conquistas são obtidas mediante o acúmulo constante de várias pequenas e inconspícuas ações” (p. 276).

Esse capítulo também contém a seguinte decisão do nosso mestre: “O kosen-rufu representa a materialização da felicidade da humanidade e da paz mundial. Como budista, continuarei trabalhando de corpo e alma para atingir esse objetivo” (p. 273).

Mantenhamos acesa no coração a poderosa chama desse mesmo ardente senso de missão ao nos empenhar para abrir amplamente o caminho da paz mundial.

Principais trechos

O senhor está absolutamente certo. O trabalho abnegado em prol do povo e da sociedade é o espírito dos bodisatvas, o espírito do Buda; é a essência dos praticantes budistas. Sem ação, não há budismo. (“Caminho da Amizade”, p. 60)

Prezar e preservar a vida são regras de ouro universais para a própria sobrevivência da humanidade. (“Caminho da Amizade”, p. 95)

O relacionamento entre as nações no contexto político e econômico muitas vezes sofre interrupções e descarrilamentos em virtude de interesses nacionais. Por essa razão, Shin’ichi continuava frisando a importância de amplos intercâmbios culturais, educacionais e acadêmicos no âmbito privado, para se estabelecer a paz e a amizade bilaterais. (“Construindo Pontes”, p. 121)

O budismo, que expõe que todas as pessoas possuem a natureza de buda dentro de si, também é um ensinamento sobre a soberania do povo. E o movimento da Soka Gakkai em prol do kosen-rufu designa-se a consolidar um mundo no qual os cidadãos do povo sejam os verdadeiros soberanos e possam viver uma vida feliz e realizada. (“Construindo Pontes”, p. 158)

O mundo é um só, e a raça humana também. Um estender a mão para o outro e todos trabalharem juntos são uma inevitabilidade histórica. (“Construindo Pontes”, p. 183)

A sinceridade tem o poder de tocar o coração das pessoas de uma maneira que transcende fronteiras nacionais. Sinceridade é o que une as pessoas. (“Laços de Confiança”, p. 245)

Resumo do conteúdo

Caminho da Amizade

No dia 30 de maio de 1974, Shin’ichi visita a China pela primeira vez e, durante a sua estada, encontra-se com o vice-primeiro-ministro Li Xiannian.

Construindo Pontes

No dia 8 de setembro, Shin’ichi faz sua primeira viagem à União Soviética e, nesse ensejo, encontra-se com o gigante literário Mikhail A. Sholokhov e com o primeiro-ministro Aleksey Kosygin.

Laços de Confiança

No dia 2 de dezembro, Shin’ichi viaja novamente para a China e, no dia 5, encontra-se com o primeiro-ministro Zhou Enlai. Em seguida, parte para os Estados Unidos e entrega ao secretário- geral das Nações Unidas mais de 10 milhões de assinaturas clamando pela abolição das armas nucleares coletadas pela Divisão dos Jovens da Soka Gakkai. Além disso, mantém diálogo em prol da paz com o secretário de Estado Henry Kissinger.

Traduzido do Seikyo Shimbun, jornal diário da Soka Gakkai, edição de 24 de junho de 2020.