O mistério da múmia de Amósis I

ROTANEWS176 E POR ISTOÉ  08/05/20 09h30                                                                                                        Por Jo Pasquatto

Descobertos no final do século 19, restos mortais chamam a atenção por cabelos e órgão genital intactos

Reprodução/Foto-RN176  DETALHES A múmia que se supõe ser do faraó é uma das pequenas peças de um quebra-cabeças (Crédito: Divulgação)

Muitas dúvidas e incertezas têm acompanhado as descobertas arqueológicas ao longo dos séculos. São imprecisões relacionadas não só à descoberta em si, mas também ao estado de preservação em que se encontram os restos mumificados. Um desses duplos enigmas da arqueologia moderna se refere à múmia de Amósis I, ou ao que se supõe serem os restos mortais do faraó egípcio, que teria reinado entre 1570 e 1544 a.C. Mas o que chama a atenção neste caso, cuja tumba foi descoberta em 1899 e identificada em 1902, é que cabelos e órgão genital estavam intactos.

Doutor em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo e diretor-executivo da Dabbar Arqueologia, Jorge Fabbro, explica que as descobertas arqueológicas são como pequenas peças de um imenso quebra-cabeça. “Sozinhas, elas não significam nada. Contudo, corretamente posicionadas em seu contexto, permitem que, aos poucos, consigamos vislumbrar a imagem de um remoto passado”, disse. “Cabelos encaracolados e falo proeminente oferecem pouco mais do que estimular a curiosidade inconsequente.” Para ele, a múmia que se supõe ser do faraó Amósis I é uma dessas peças e suas características são peças ainda menores.

Ele compara uma sepultura intocada à fotografia de uma época, mas afirma não ser esse o caso de Amósis I. O caixão do faraó, lembra, estava numa sepultura secundária, com vários outros faraós, provavelmente para evitar saques aos túmulos. “As ataduras que envolviam a múmia traziam o nome de Amósis I, mas não eram as originais; o corpo havia sido evidentemente reenfaixado”, disse Fabbro. O que torna incerta a identidade da múmia, segundo ele, são características craniofaciais muito diferentes das múmias de familiares conhecidos. Além disso, ele não foi sepultado com os antebraços cruzados sobre o peito, como é típico dos faraós desse período. Amósis I é um mistério.