1968: um ano de revoluções e esperanças no mundo

ROTANEWS176 E AFP 01/05/2018 17:30

Reprodução/Foto-RN176 Manifestantes enfrentam as tropas e tanques do Pacto de Varsóvia, que invadiram a Tchecoslováquia para tentar por fim à Primavera de Praga em agosto de 1968 – AFP/Arquivos

Em 1968, os Estados Unidos acumularam fracassos no Vietnã, a juventude tomou as ruas de Berlim, Paris e México, e a Checoslováquia desafiou Moscou. Foi um ano de revoltas e esperança, que mais uma vez acabou em desilusão.

– Vietnã: os Estados Unidos devem negociar –

Desde 1961, e principalmente em 1964, os Estados Unidos mobilizaram uma grande quantidade de tropas para ajudar o governo no poder no Vietnã do Sul, cenário da guerrilha Vietcong, apoiada pelo Vietnã do Norte, comunista.

No final de janeiro, coincidindo com o Ano Novo Lunar, os Vietcongs e o Vietnã do Norte atacaram centenas de localidades ds sul, entre elas Hue e Saigon.

Essa ofensiva demostrou a força da guerrilha contra o colossal aparato de guerra dos Estados Unidos, o que prejudicou a credibilidade do governo do presidente Lyndon Johnson.

No final de março, Johnson anunciou um cessar parcial dos bombardeios americanos contra o norte. Em maio, começaram as negociações em Paris. Foi o início do longo processo que terminou em 1976 com a reunificação do Vietnã sob um governo comunista.

– A rebelião dos jovens –

Em meados nos anos 1960, os campus universitários dos Estados Unidos e Europa eram catalizadores das denúncias contra a guerra do Vietnã, sob o slogan “US go home!”.

Em 1968, o movimento foi ampliado para um questionamento de toda a sociedade. Foram incorporadas às críticas ao capitalismo (muitas vezes acompanhadas por uma fascinação pela China comunista) novas reivindicações: liberdade sexual, feminismo e ecologia.

Na Alemanha, uma tentativa de assassinato em 11 de abril do líder estudantil Rudi Dutschke, ferido à bala, iniciou uma revolta em Berlim, que acabou se ampliando para dezenas de cidades alemãs.

Na França, a universidade de Nanterre, próximo de Paris, foi o caldeirão da agitação. Foi fechada em abril, mas na noite de 10 de maio os confrontos se transformaram em insurreição na capital.

Dois dias mais tarde, os operários se uniram à revolta e uma greve geral paralisou o país durante várias semanas.

O General Charles De Gaulle, presidente da República, dissolveu a Assembleia Nacional em 30 de maio. Seus partidários realizaram uma manifestação nesse mesmo dia e ganharam as eleições legislativas em junho.

O movimento se ampliou e chegou a Itália, Turquia e Japão, além de vários países latino-americanos.

– Massacre na Praça das Três Culturas do México –

Na Cidade do México, em 2 de outubro, as forças de segurança mataram vários estudantes a 10 dias dos Jogos Olímpicos, em uma intervenção militar quando os jovens realizavam uma manifestação na Praça das Três Culturas, no bairro de Tlatelolco, pedindo a abertura democrática no país.

Segundo a versão oficial, cerca de 40 estudantes morreram na Praça das Três Culturas, mas organizações civis dizem que esse número é muito superior, entre 200 e 300.

O massacre ficou impune apesar das reclamações e tentativas nos tribunais de julgar Luis Echeverría, então ministro da Governação (Interior) e que depois foi presidente no período entre 1970 e 1976.

Isso aconteceu pouco antes da abertura dos Jogos Olímpicos do México, em que os atletas negros americanos subiram ao pódio com os punhos fechados para cima em protesto contra a desigualdade racial nos Estados Unidos.

– A Primavera de Praga –

Os ventos da revolta sopraram também no bloco comunista.

Na Checoslováquia, Alexander Dubcek, nomeado para liderança do partido comunista em janeiro, testou “socialismo de rosto humano” e liberalizou o regime.

Mas Moscou não aceitou a Primavera de Praga e em 21 de agosto enviou os tanques do Pacto de Varsóvia para invadir o país. Teve que esperar 20 anos para ver ressurgir a esperança.

A Polônia também viveu em março sua “primavera”, uma revolta estudantil fortemente reprimida pelo regime comunista. Como vários líderes estudantis eram judeus, as autoridades lançaram uma campanha antissemita que obrigou várias pessoas a migrarem.

– Direitos cívicos e assassinatos –

Nos Estados Unidos, 1968 foi um ano trágico para os ativistas contra a segregação racial. O pastor negro Martin Luther King, prêmio Nobel da Paz em 1964, foi assassinado em 4 de abril por um segregacionista branco em Memphis (Tennessee). Os confrontos chegaram às grandes cidades, como Washington.

Outro assassinato estremeceu os Estados Unidos em 5 de junho em Los Angeles, quando o senador Bob Kennedy, na noite de sua vitória nas primárias democratas da Califórnia, foi assassinado à queima-roupa pelo palestino Sirhan Sirhan. Ele era irmão de John F. Kennedy, assassinado em 1963.

– O martírio de Biafra –

No verão do mesmo ano, as imagens de crianças morrendo de fome na província independentista nigeriana de Biafra chocaram o mundo.

O conflito e principalmente o bloqueio imposto pela administração central, causaram mais de um milhão mortes, principalmente de fome e doença, entre 1967 e 1969.

A intervenção de médicos franceses marcou o início de um novo tipo de cooperação humanitária com a criação em 1971 da ONG Médicos Sem Fronteiras.