ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 12/08/2022 17:01 ENSAIO No dia 24 de agosto, comemoram-se 75 anos da conversão do presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, ao Budismo de Nichiren Daishonin. Brasil Seikyo relembra o ensaio de Ikeda sensei sobre a data, publicado em três partes na série “Reflexões sobre a Nova Revolução Humana” na revista Terceira Civilização.
Por Ho Goku
Reprodução/Foto-RN176 Três Mestres Soka:Tsunesaburo Makiguchi, ao centro; Josei Toda, à esq.; e Daisaku Ikeda, à dir – Ilustração: Kenji Mase. Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI Fotos: Seikyo Press
“Ter fé é compreender o significado da vida e aceitar os deveres e as responsabilidades a ela vinculados.”2 Essa famosa frase é do escritor russo Liev Tolstói.
Considero-me realmente afortunado por ter me engajado em diálogos com muitos pensadores ilustres do mundo inteiro. Sigo esse curso porque sei que o diálogo, mais que qualquer outro meio, exerce uma grande influência na vida de uma pessoa e de toda a humanidade.
“Em busca do amanhecer depois de uma era de escuridão” — esse foi o tema do meu diálogo A Noite Clama pela Alvorada com o historiador de arte francesa René Huyghe (1907–1997). Membro da Academia Francesa e um dos mais importantes intelectuais da Europa, Huyghe sempre depositou grande confiança na Soka Gakkai, descrevendo-a como uma “força que evitará a deterioração da sociedade”.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Dr. Huyghe provou ser um destemido defensor da cultura, preservando a Mona Lisa e outras grandes obras-primas do Louvre e evitando que elas caíssem nas mãos dos nazistas. Os líderes culturais do mundo inteiro reconhecem a importância de sua contribuição.
Quanto mais profunda a escuridão, mais próximo está o amanhecer. Huyghe enxergava esse grande alvorecer da esperança na Soka Gakkai, e nos confiou essa tarefa. Ele também defendia a necessidade de, no século 21, a humanidade unir o racionalismo e a espiritualidade e dar uma partida revigorante tendo como base o respeito à vida, afirmando que isso seria atingido por meio de uma nova renascença e de reforma religiosa.
Cinco anos haviam se passado desde o falecimento de Huyghe, a quem estimava como um aliado do nosso movimento. Sua esposa, Lydie Huyghe, contou-me que em seus últimos dias ele falava constantemente da nossa profunda amizade, e ela me brindou com várias lembranças do seu falecido marido.
Considero as amizades profundas e duradouras que fiz com pessoas do mundo inteiro como um tesouro do coração que lego aos jovens.
Quando a humanidade se perde da luz da filosofia e da religião corretas, ela só pode acabar vagando na escuridão.
Meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, disse: “A afirmação nos escritos budistas de que ‘A Lei pura ficou obscurecida e perdida’3 não se refere somente ao Budismo de Shakyamuni. Após setecentos anos, o Budismo de Nichiren Daishonin também quase ficou obscurecido e perdido. Porém, o espírito de Daishonin foi protegido e preservado pelo presidente Makiguchi. A Soka Gakkai surgiu em resposta ao chamado de Daishonin”.
Em junho de 1943, o clero intimou o presidente Makiguchi, Josei Toda, que, na ocasião, era diretor-geral, e os demais líderes da Soka Gakkai a comparecer ao templo principal Taiseki-ji. Isso ocorreu quando o Japão, sob forte influência do Estado xintoísta, engajava-se na Guerra do Pacífico, combatendo seus vizinhos asiáticos.
Na sala de audiência do alojamento Daibo, na presença do sumo prelado Nikkyo, os clérigos pressionaram a organização de leigos a aceitar o talismã xintoísta, o qual o governo militar impunha a toda a nação. Mas Makiguchi sensei recusou-o, declarando que, definitivamente, a Soka Gakkai não aceitaria o talismã. Ele foi rigoroso com o clero pedindo que seguisse o exemplo de Daishonin e advertisse as autoridades governamentais.
Porém, já naquela época, o talismã xintoísta estava consagrado no Shoin, um dos maiores prédios do templo Taiseki-ji, que havia sido confiscado pelos militares. O clero tornou-se corrupto e decadente, não era mais condutor da herança da “fé dedicada ao kosen-rufu”. Esse grande mal foi claramente percebido por Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda.
O verdadeiro espírito do shakubuku de Nichiren Daishonin — de “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” — foi herdado e mantido somente pela Soka Gakkai. Em contrapartida, o clero, revelando sua natureza covarde e ardilosa, desviou-se de seu dever de realizar o shakubuku, a prática correta do budismo para os Últimos Dias da Lei.
Esperava-se que os clérigos, que diziam praticar o Budismo de Nichiren Daishonin, fossem os primeiros a abandonar o transitório e a propagar o ensinamento do Sutra do Lótus, bem como a abraçar calorosamente e proteger os leigos. Porém, o clero inescrupuloso e egoísta apossou-se do máximo de oferecimentos que podia da Soka Gakkai — organização que havia impulsionado o movimento pelo kosen-rufu em uma escala sem precedentes e que, por décadas, prestou generosas contribuições ao templo Taiseki-ji — e então se voltou contra nós numa tentativa de nos subjugar. As pessoas de consciência ficaram enraivecidas com essa conduta deplorável sem igual na história religiosa por sua ingratidão, infâmia e imoralidade.
No aniversário de falecimento do meu mestre [Josei Toda] do dia 2 de abril de 1979 — ano tempestuoso em que fui forçado a renunciar à presidência da Soka Gakkai — compus este poema:
O espírito de não poupar
a própria vida,
de devotar-se abnegadamente à propagação da Lei,
é encontrado somente
na Gakkai.
Nichiren Daishonin escreveu: “Os vários ensinamentos do Buda são todos propagados pelas pessoas”4 e “Se a Lei é suprema, a pessoa que a abraça também é suprema. Nesse sentido, falar mal dessa pessoa é falar mal da Lei”.5
Na cerimônia de posse como presidente da Soka Gakkai (em 1951), Josei Toda proferiu seu juramento de atingir a meta de 750 mil famílias na organização. Naquele período, com 23 anos, imediatamente respondi, lançando-me à grande onda de propagação da Comunidade Omori, em Ota, a qual liderava.
Reprodução/Foto-RN176 Jovem Daisaku Ikeda, quarto a partir da esq., e seu mestre, Josei Toda, quinto, tocam instrumentos musicais em encontro realizado em Shizuoka (1958). Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI – Foto: Seikyo Press
Como discípulos, qual o significado de empreender uma luta “diretamente ligados ao mestre”? Conforme enfatizado na declaração de Toda sensei de que “a Soka Gakkai era mais importante que sua própria vida”, a “relação direta” entre mestre e discípulo encontra-se somente no empenho conjunto, como parte da Soka Gakkai e na batalha para expandir o movimento pelo kosen-rufu. Tudo o mais é mera teoria abstrata.
Eu também não poderia permitir que os inúmeros ataques infundados ao mestre continuassem sem uma resposta. Enfrentei e repreendi cada um — independentemente de quem fosse — que ousasse difamar meu mestre e atacar a integridade da organização. Como responsável pelo Departamento de Relações Públicas da Soka Gakkai, enfrentei diretamente os autores dos artigos difamatórios e lutei para que publicassem a verdade.
O intrépido escritor francês Romain Rolland (1866–1944) publicou um claro brado: “O verdadeiro espírito revolucionário é aquele que não tolera nenhuma mentira social”.6
Nichiren Daishonin clama:
Cada um dos senhores deve reunir a coragem do rei leão e jamais sucumbir às ameaças de ninguém. O rei leão não teme outros animais, e da mesma forma agem seus filhotes. Os caluniadores são como raposas que uivam, mas os seguidores de Nichiren são como leões que rugem.7
Como verdadeiro discípulo do rei leão Josei Toda, lancei-me corajosamente à luta e me empenhei com todas as minhas forças para proteger a Soka Gakkai e impulsionar nosso movimento pelo kosen-rufu.
Os jovens não devem se comportar como espectadores, satisfazendo-se em seguir os veteranos. Não devem agir como “chacais” que uivam somente a distância. Jovem é aquele que se levanta por suas crenças e, com coragem e esforço próprios, cria um novo rumo para a história.
Por repetidas vezes enfrentei com indignação o clero, que causou sofrimento e dor ao meu mestre. E quando os sacerdotes de outra escola budista invadiram algumas das residências dos nossos membros para lhes furtar o Gohonzon, tomei medidas para que fossem levados à justiça e devidamente punidos. No Debate de Otaru, ajudei a conquistar uma grande vitória para o nosso lado. Também assumi a liderança no combate à injustiça durante o Incidente do Sindicato de Mineradores de Carvão de Yubari, quando a liberdade religiosa de nossos companheiros esteve ameaçada.
“Se sentissem e compreendessem suas dívidas de gratidão, então, de dois golpes que desferissem em mim, receberiam um em meu lugar.”8 Essa é uma passagem dos escritos de Nichiren Daishonin que tenho sempre comigo.
No dia 3 de julho de 1957, fui detido e encarcerado sob falsa acusação de estar ligado ao Incidente de Osaka — coincidentemente, no mesmo dia e por volta da mesma hora em que Josei Toda, fora libertado da prisão doze anos antes. Eu estava decidido a não permitir que as autoridades perseguissem novamente meu mestre que se encontrava extremamente debilitado. Ainda hoje orgulho-me de ter evitado que as autoridades prendessem Toda sensei.
Daishonin escreveu:
No final, nosso corpo se tornará nada mais que terra nos campos e nas colinas. Portanto, é inútil poupar nossa vida, pois ninguém — por mais que deseje — poderá se apegar a ela para sempre. Mesmo as pessoas longevas raramente ultrapassam os cem anos de idade. Todos os eventos de uma existência são como cenas num sonho durante um breve cochilo.9
Eis uma grande verdade. Não podemos levar fama ou bens materiais para a nossa próxima existência. Assim sendo, uma vez que vivemos, vamos nos dedicar à eterna e indestrutível Lei Mística. Uma vida assim é igualmente eterna e indestrutível.
O kosen-rufu é a promessa de Daishonin. Portanto, a vida do Buda é manifestada infalivelmente na vida de todos os membros da Soka Gakkai que se empenham pelo kosen-rufu. É exatamente isso o que Nichikan Shonin afirma em um de seus comentários.10
O modo de vida da Soka Gakkai é realmente um drama sublime e maravilhoso de autorrealização em que cada pessoa possui uma missão única a cumprir nesta vida, cercada e estimada por muitos companheiros na fé.
No topo: Três Mestres Soka:Tsunesaburo Makiguchi, ao centro; Josei Toda, à esq.; e Daisaku Ikeda, à dir.
Fonte:
Terceira Civilização, ed. 414, fev. 2003, p. 6.
Notas:
- Ho Goku: Pseudônimo de Daisaku Ikeda.
- TOLSTÓI, Liev. A Calendar of Wisdom[Calendário de Sabedoria]. Tradução: Peter Sekirin. Nova York: Scribner, 1997. p. 25.
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 410, 2020.
- Ibidem, p. 63.
- Ibidem, p. 63-64.
- ROLLAND, Romain. Quinze Ans de Combat: 1919–1934[Quinze Anos de Combate: 1919–1934]. Paris: Les Éditions Rieder, 1935. p. xxxvii.
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 263, 2019.
- Ibidem, p. 88.
- Ibidem, p. 17.
- Nichikan Shonin escreveu: “Por meio do poder da Lei Mística, manifestamos a vida de Daishonin dentro de nós” (Kanjin no Honzon Sho Mondan[Comentários sobre o Verdadeiro Objeto de Devoção], p. 676).
Ilustração: Kenji Mase
Foto: Seikyo Press