ROTANEWS176 E POR TERRA 25/02/2022 17h00 Por Ana Claudia Cichon
Gabriela Zidoi tenta retornar ao Brasil após invasão russa
Isolada em um hotel junto a outras jogadoras do seu time, FC Kryvbas Women, Gabriela Zidoi espera apenas por uma notícia: a data do seu voo de volta para o Brasil ou para Portugal, onde seus pais vivem atualmente.
Aos 21 anos, a jogadora passa por momentos de tensão na Ucrânia, que desde a última quinta-feira (24) sofre com ataques russos. Em conversa exclusiva com o Papo de Mina, Gabriela destacou que está segura, recebendo todo o suporte necessário, mas que seu empresário e o clube estão fazendo o possível para tirá-la do país o mais breve possível.
“Ainda não tem uma data, não tem como dizer, mas eles estão procurando uma saída”, disse. Com alguns aeroportos atacados, o espaço aéreo ucraniano está fechado, e trens também se tornaram uma difícil opção. O que muitos moradores estão tentando fazer é chegar até a fronteira com a Polônia, para então buscarem voo para outros destinos, mas o deslocamento não é considerado seguro.
Reprodução/Foto-RN176 Gabriela Zidoi pede mais apoio da Embaixada para deixar a Ucrânia Foto: Arquivo Pessoal/Gabriela Zidoi
Hoje na cidade de Kryvyi rog, localizada mais ao centro, Gabriela relatou que já se sente mais tranquila, pois este é considerado um dos locais mais seguros da Ucrânia, já que ainda não sofreu ataques, mas a quinta-feira, 24, foi de bastante pavor.
“Estávamos em hotel perto de uma base militar, e houve explosões próximas de onde estávamos. Tremia o prédio onde estávamos, sentia como se fosse do nosso lado. Pessoas chorando, correndo, pegando mala, documentos. Foi complicado”, descreveu a atleta.
Depois da transferência, todos continuam isolados, e somente alguns responsáveis saem para buscar ou comprar coisas específicas. Fora isso, ninguém pode sair. Há ainda a recomendação de apagar as luzes à noite, por segurança, segundo relatos da jogadora.
“Mas aqui não ouvimos barulho de avião, de ataque, graças a Deus”.
As outras jogadoras e membros da comissão técnica, apesar de estarem seguras no hotel, com comida e suprimentos, não se sentem 100% tranquilas, preocupadas com familiares que estão em outras cidades alvos de ataques. “Assim como a minha família no Brasil e em Portugal está preocupada, eles também estão”, afirmou.
Reprodução/Foto-RN176 Gabriela Zidoi joga futebol desde os 7 anos de idade, e já passou por times do Brasil e Portugal Foto: Arquivo Pessoal/Gabriela Zidoi
Brasileiros pedem auxílio à embaixada
Na quinta-feira, logo que foram noticiadas as primeiras explosões, um grupo de jogadores brasileiros dos principais clubes ucranianos divulgou vídeo pedindo apoio ao governo brasileiro e à embaixada para deixarem o país.
Segundo Gabriela, pessoas próximas a eles chegaram a contatá-la, mas pela distância entre as cidades (os atletas estão, junto de suas famílias, em um hotel em Kiev), não foi possível a junção, além de a cidade onde ela está – Kryvyi rog – ser considerada mais segura.
Em relação à embaixada, porém, a jogadora fez algumas críticas: “Têm dado suporte, mas não como a gente queria”. Segundo ela, não dão a resposta nem a ajuda que os brasileiros precisam no momento. “Deveriam estar mais preocupados conosco, porque não somos daqui”, reforçou.
Reprodução/Foto-RN176 Jogadora brasileira relata pavor e explosões Foto: Reprodução/Instagram
Carreira
Nascida em São Paulo, Gabriela joga futebol desde os sete anos de idade – mas sempre em clubes masculinos. Aos 15, já morando na Bahia, começou a atuar pelo Atlântico, único time feminino da região. No ano seguinte, se mudou para o Espírito Santo, e jogou pelo Vila Nova. Depois de uma lesão no joelho, aos 16 anos, retornou ao clube, e ainda teve uma passagem pelo Serra, também de Vitória.
Aos 18 anos acompanhou os pais na mudança para Portugal, e não desistiu do sonho do futebol nem mesmo em outro continente. Jogou pelo Futebol Clube Benfica e pelo Atlético Clube Portugal, até conhecer seu empresário e receber uma proposta para atuar no atual clube, o FC Kryvbas Women, da Ucrânia – uma aposta, segundo ela.
As maiores dificuldades? Cultura, culinária e o idioma. “Já consigo sobreviver, mas não falo fluentemente”, ela brincou.
Questionada sobre a possibilidade de deixar a Ucrânia assim que começaram as notícias sobre a crise entre Rússia e Ucrânia, ela explicou que cogitou muito voltar para o Brasil ou ir para Portugal, ou mesmo tentar outro clube.
“Tem a questão do contrato com o clube e o mercado de transferência, que não é tão fácil”, concluiu.