ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 09/06/2023 10:10 MATÉRIA DA DIVISÃO SÊNIOR DA BSGI Por Divisão Sênior da BSGI
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração da matéria – Ilustração: GETTY IMAGEM
Caros amigos e amigas da Divisão Sênior, desejamos que estejam desfrutando excelente saúde, superando com sabedoria e coragem os desafios da época, fundamentados na prática budista e nas orientações de Ikeda sensei.
Diferentemente do Brasil, o Dia dos Pais no Japão é celebrado neste mês de junho. O país do sol nascente é a terra natal dos Três Mestres Soka: Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda. Em sua trajetória de vida, mesmo extremamente concentrado na grandiosa e desafiadora tarefa de edificar e conduzir a Soka Gakkai, ao lado de sua respectiva esposa, cada um deles instruiu seus filhos com todo o zelo.
Dessa forma, refletiremos sobre um tema de extrema importância: a família.
E o que é família?
Nos dias de hoje, de forma clara, é possível perceber que não existe um modelo-padrão do que seja uma família ou de como ela deva ser. A família possui diversas formações e abrange um número imenso de características e relações.
De acordo com os dicionários, de forma geral, “família” é um grupo de pessoas que partilha ou que já partilhou a mesma casa, normalmente elas possuem relações entre si de parentesco, de ancestralidade ou de afetividade. Com essa descrição, podemos entender que família é a base da nossa relação social, formada pelas pessoas com as quais somos mais próximos, íntimos e temos afinidade.
Durante o pós-guerra, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, compreendeu em seu íntimo quão importante era uma base familiar sólida, para cada integrante desse núcleo superar as amarguras da vida. Por isso, em dezembro de 1957, ele estabeleceu as “Três diretrizes eternas da Soka Gakkai”, das quais a primeira é justamente a “Prática da fé para criar a harmonia familiar”.
Referente a esse tema, nosso mestre, presidente Ikeda, reflete:
A família é um ponto de segurança e esperança necessário na vida. É uma fortaleza de felicidade e de paz; um ambiente para se revitalizar, recarregar as baterias todos os dias. Contém um vínculo positivo, que nutre a alma e constrói o caminho para o autoaprimoramento e a realização; um castelo de harmonia e crescimento.1
Meu papel na harmonia familiar
Como podemos construir e manter uma família harmoniosa? Ikeda sensei nos direciona da seguinte forma:
Em primeiro lugar, devemos nos esforçar para sermos pessoas alegres e radiantes, cuja presença envolva todos os familiares com a luz da compaixão. Em segundo, precisamos nos respeitar mutuamente, reconhecendo que os vínculos familiares entre pais e filhos ou entre cônjuges e parceiros consistem em laços cármicos que se estendem pelas “três existências” — passado, presente e futuro. Em terceiro, devemos prestar uma contribuição positiva à sociedade e trabalhar para desenvolver sucessores que também façam o mesmo.2
Dentre os inúmeros desafios da vida, podemos dizer que a construção de uma família harmoniosa está entre os maiores. Nesse contexto, diversos companheiros da Divisão Sênior e pessoas em geral podem enfrentar questões como dificuldades financeiras, choque de gerações, conflitos no lar causados por vários motivos, podendo ser até divergências devido à prática budista. Essas são algumas das possibilidades dessa maravilhosa missão que é conviver num ambiente familiar. Pois os familiares são os que mais nos conhecem: nossas virtudes e defeitos. No seio familiar, não há como se esconder. Nele, somos genuinamente nós mesmos, da forma mais pura e transparente possível.
Sobre esse ponto, no capítulo “Longa Jornada”, da Nova Revolução Humana, Shin’ichi Yamamoto incentiva um membro da Divisão Sênior, que estava aflito por ter filhos que não praticavam o budismo, dizendo:
Pensar que seus filhos aceitarão a prática budista porque o senhor está praticando é superestimar a condição de pai. Se eles são maiores de idade, já possuem seus próprios pensamentos e vivem com base neles. Cabe ao senhor, de um lado, respeitar a opinião deles; do outro, se deseja realmente que eles compreendam e aceitem a prática do budismo, o senhor próprio deve provar em sua vida diária quanto a prática budista é extraordinária. Em todo caso, deve se esforçar em se tornar alvo do orgulho e do respeito de seus filhos. (…) Se o senhor deseja a felicidade dos seus filhos e ora sinceramente para concretizá-la, esse sentimento atingirá o coração deles e certamente os despertará para a prática da fé. Além disso, essa oração produzirá benefícios e boa sorte para proteger seus familiares. Por isso, não há necessidade de ficar aflito, nem de impor a prática do budismo.3
Esses são incentivos acolhedores e extremamente adequados à época em que vivemos, na qual o intenso fluxo de informações pode nos distanciar do convívio familiar, por conta da relação estreita com as mídias sociais, entre outros problemas. Mas depende de cada um de nós pôr em prática essa vivência, mesmo nas questões mais simples, tais como jantar à mesa, brincadeira com as crianças, bate-papo descontraído ou assistir a um filme no sofá.
O mais importante é o diálogo sincero e aberto, desarmado. Além disso, é fundamental buscar um desafio conjunto da prática da fé. Importante também levar em consideração a característica de cada indivíduo da família, ciente de que cada um tem suas características, e buscar utilizar as diferenças individuais como trampolim para a harmonia e o aprendizado mútuo.
Não existe receita
Cada família é única, e não existe uma receita pronta para cultivar e desenvolver a harmonia. Contudo, podemos afirmar com base nas orientações do presidente Ikeda que criar um ambiente alegre e respeitoso envolve — sobretudo dos pais — a sensibilidade em reconhecer virtudes, angústias, vulnerabilidades e sonhos de cada um. E a partir dessa “radiografia da alma”, implementar, com dinamismo e entusiasmo, ações de encorajamento, amor, correção e incentivo. Embora de fato não exista uma receita, temos a imensa boa sorte de desfrutar uma grandiosa filosofia de vida que possui sólidos e sábios ensinamentos para o cultivo da vida humana voltados para o humanismo, o respeito e a felicidade.
DS que comprova
Eu me chamo José Carlos Júnior, tenho 44 anos, e em maio de 2023 completei quarenta anos de prática deste maravilhoso Budismo Nichiren, que iniciei junto com minha mãe aos 4 anos.
Nós sempre sofremos com problemas financeiros, e isso contribuiu para que eu não tivesse condições adequadas de estudar. Muitas foram as adversidades, ainda sim eu acalentava sonhos que pareciam ser impossíveis. Na juventude, esses obstáculos pareciam não ter fim. A desarmonia em nossa família era constante em razão de meu falecido pai ser alcoólatra e todos os dias chegar a casa bêbado, causando sofrimento a todos nós e, principalmente, à minha mãe, agredindo-a. Eu não suportava assistir àquela cena. Ia para frente do Gohonzon recitar daimoku até que a situação se acalmasse. Algum tempo depois, houve a separação dos meus pais e minha mãe nos criou sozinha ainda com mais dificuldades, mas sem desistir da sua fé de jamais abandonar o Gohonzon. Fui crescendo e compreendendo que o Gohonzon é a minha própria vida.
Os anos se passaram, desafiei e venci nos estudos, formei-me em enfermagem no ensino superior e concluí dignamente minha atuação na Divisão dos Jovens. Já em 2020 trabalhava em duas grandes instituições no Rio de Janeiro. Estava tudo bem, até que em março do mesmo ano foi declarada oficialmente a pandemia da Covid-19.
Com a pandemia, também veio uma crise financeira na família, pois todos os processos judiciais do meu companheiro, que é advogado, foram bloqueados em razão do fechamento do Fórum e do cancelamento das audiências, deixando-o sem nenhum valor para receber e para arcar com despesas e compromissos. Nossas dívidas aumentaram e chegamos a ponto de sentarmos e discutirmos a possibilidade de vender nosso apartamento para saldar as dívidas. Nesse meio-tempo, recebi uma promoção no hospital para assumir a coordenação interina de um complexo obstétrico, a qual melhorou ainda mais a minha remuneração. Mesmo assim, foi um período de muita dificuldade financeira. Após longos diálogos, decidimos alugar o apartamento, em vez de vendê-lo, e mudar para a cidade de Saquarema, RJ, uma vez que esse era um objetivo futuro e há tempos pensávamos nisso.
O ano 2021 chegava com novos benefícios e desafios, visto que tudo estava a nosso favor. Meu companheiro recebeu todos os processos que estavam atrasados, achamos uma excelente casa na nova cidade, um emprego garantido que me foi prometido e, melhor, ao lado de casa. Então, resolvi pedir demissão do emprego maravilhoso que eu tinha. Enfim, mudança realizada! E agora, cadê o emprego prometido? Pois bem, o emprego não aconteceu. Intensifiquei meu daimoku todos os dias para transformar a causa do sofrimento em felicidade. Fiz algumas entrevistas, mas sem sucesso.
Li uma orientação no Brasil Seikyo do dia 24 de julho de 2021 que falava da “teoria de valor” do presidente Makiguchi sobre o emprego dos princípios do “belo, do benefício e do bem”.4 Fiz um resumo sobre o emprego e coloquei no oratório para eu me lembrar toda vez que orasse. O fim do ano de 2021 se aproximava e o emprego não chegava. Quase sete meses sem trabalhar. Determinei que até o último dia do ano eu estaria empregado. Não poderia mais me permitir ser derrotado pela escuridão fundamental da minha vida.
Em 3 de dezembro de 2021, foi publicada no Diário Oficial, da Cidade de Cabo Frio, uma chamada para duzentos enfermeiros para a Prefeitura e lá estava meu nome. Tomei posse no dia 16 de dezembro desse ano, e no dia 8 de janeiro de 2022, comecei meu primeiro plantão. Também me tornei professor de enfermagem na cidade de Saquarema e meu objetivo é formar profissionais que fazem a diferença na enfermagem e na vida de cada paciente.
No início de 2023, fui convidado a assumir a coordenação-geral do centro cirúrgico do hospital em que atuo. Nesses primeiros meses, conseguimos implantar as primeiras cirurgias por videolaparoscopia dentro do município, o que nunca aconteceu em nenhum hospital da rede pública.
Cada dia comprovo a grandiosidade de Ikeda sensei em meu local de trabalho. Comprovei nesses quarenta anos de Budismo de Nichiren Daishonin a grandiosidade do Gohonzon, a grandiosidade do meu mestre e me tornei daquele menininho com grandes sonhos um integrante da Divisão Sênior, um verdadeiro “pilar de ouro”.
José Carlos Rocha Pereira Junior, CGERJ, RM Região dos Lagos.
Reprodução/Foto-RN176 José Carlos, à dir., com seu companheiro, Lincoln Silva – Foto: Arquivo pessoal
Reflexão sobre a matéria
“Ao julgar os méritos relativos das doutrinas budistas, eu, Nichiren, acredito que os melhores critérios são aqueles da razão e da prova documental. E ainda mais importante que a razão e a prova documental é a prova real.”5
“A prova mais convincente para desenvolver o kosen-rufu é a felicidade que estabelecemos em casa. E é essa felicidade que sustentará a nossa convicção diante de qualquer pessoa.”6
Estimados companheiros, após lermos de forma atenciosa e cuidadosa os trechos da Nova Revolução Humana e do Gosho descritos acima, devemos refletir com honestidade e seriedade como está a harmonia e felicidade na minha família e que tipo de ação estou desenvolvendo para criar verdadeiramente a harmonia familiar em minha casa.
Em meio à realidade cotidiana, certamente realizamos esforços redobrados para atender às demandas do trabalho, do aprimoramento contínuo em estudar mais e é comum apoiarmos os companheiros da nossa organização. Todos esses nossos empenhos são preciosos, louváveis e com certeza criam uma imensurável boa sorte em nossa vida, como também nos faz exercitar o cumprimento da nossa própria missão.
Mas, se não voltarmos os olhos, a atenção, a dedicação para construir a felicidade dentro de casa, junto dos nossos familiares, estaríamos falhando em criar a prova mais importante para o desenvolvimento do kosen-rufu, nossa mais elevada missão.
O presidente Ikeda nos orienta: “Nós falamos sobre o kosen-rufu como um movimento a ser promovido na sociedade, mas seu verdadeiro eixo encontra-se em nosso lar, na família”.7
Nós, pilares de ouro Soka, temos papel decisivo na criação da harmonia familiar, e o primeiro passo é cultivarmos esse forte desejo consciente da importância da comprovação familiar para o kosen-rufu.
Luís Otávio Vieira Arcoverde da Silva, vice-coordenador da CGERJ
Notas:
- IKEDA, Daisaku. Cinco Diretrizes Eternas da Soka Gakkai. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2017. p. 20.
- Ibidem.
- IKEDA, Daisaku.Nova Revolução Humana. v. 6. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019.
- Cf. Brasil Seikyo, ed. 2.573, 24 jul. 2021, p. 15.
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 626, 2020.
- IKEDA, Daisaku. Expansão.Nova Revolução Humana. v. 8. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019.
- Ibidem.
Ilustração: GETTY IMAGES
Foto: Arquivo pessoal