ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 23/06/2023 16:10 RELATO DIRETO DA REDAÇÃO DO JBS
A sergipana que venceu todo tipo de preconceito e deu partida no motor da vitória.
Reprodução/Foto-RN176 Ana Paula Mota Duarte Pinto, na BSGI, atua como responsável pela Divisão Feminina (DF) da Comunidade Siqueira Campos, em Aracaju, Sergipe.
Coisa boa é quando decidimos dar um basta no sofrimento, olhando para dentro de nós e enxergando a solução. É como um carro depois que seu motor foi ajustado: ouvir aquele barulho frenético de que “agora vai”. Sou Paula Mota, 47 anos, sergipana com muito orgulho, que só conseguiu dar a partida no motor da vida ao despertar para a coragem e a força que estavam “dormindo” no coração.
Minha mãe conheceu o budismo em Aracaju, SE, quando eu tinha 8 anos, por intermédio de uma tia. Cresci vendo a transformação da família, mas, ao vencer o carma, minha vez chegaria também. Compartilho essa jornada com vocês.
Aos 17 anos, comecei a namorar Alisson, que conheci no colégio, moço de bom coração. Porém, o convívio com jovens de má influência o colocou em uma situação complicada ao dar carona para um “amigo”, que, após mostrar que estava armado, começou cometendo assaltos e, por fim, tirou a vida de uma pessoa. Dessa forma, Alisson foi incluído na busca policial, depois julgado e condenado a trinta anos de prisão.
Eu o amava muito. Embora ele tentasse me convencer a seguir com a vida, decidi não abandoná-lo. Ficamos noivos, engravidei de Alanna e, em seguida, nos casamos. Meus pais não aceitavam me ver daquele jeito. Então, aos 21 anos, saí de casa para seguir o destino do amor da minha vida. Com ajuda do meu sogro, consegui uma casinha para morar, a qual nem porta tinha, apenas um fogão de duas bocas. Na prisão, Alisson começou a trabalhar, fez cursos e prestou vestibular. Era dele que vinha nosso sustento.
Reprodução/Foto-RN176 Da esq. para a dir., estão a filha Alanna, Paula, o marido Alisson e a caçula Alinne, em praça de Aracaju.
Tinham se passado três anos naquelas condições precárias, e me vi com minha filha, na época com 8 anos, chorando de febre e eu sem dinheiro para o remédio. Precisava sair daquela escuridão.
Reuni forças de onde nem sabia que tinha e comecei a orar Nam-myoho-renge-kyo. A sabedoria surgiu e decidi me reaproximar dos meus pais, que não encontrava havia dois anos. Em pouco tempo, o Gohonzon foi consagrado em meu humilde lar. Aos 25 anos, agora era minha vez de romper as amarras do destino.
Engrenagem do sonho
Volto no tempo aos meus 12 anos, quando, de tanto insistir, meu pai me deixou ajudar nas pequenas tarefas na oficina mecânica dele. Comecei lavando peças, mexendo em uma ou outra ferramenta. Depois, já montava motor e câmbio. Adorava aquele mundo, cheirando a graxa e óleo de motor.
Eu teria seguido carreira de mecânica desde aquela época, mas agora recitava Nam-myoho-renge-kyo como nunca para tornar realidade o meu sonho. Atualizei minha carteira de motorista, enviei currículos e logo fui chamada para entrevistas. Como o daimoku abre caminhos! A empresa automobilística nacional não me aceitou, contudo, a boa sorte me levou para uma das maiores multinacionais do segmento como mecânica.
Ali passei oito anos, sendo convidada depois para outra multinacional também japonesa, recebendo o dobro do salário. Na sequência, já estava com uma oferta para ganhar três vezes mais na principal concorrente. Aceitei, pois a cada empresa na qual trabalhava fui juntando dinheiro para um dia ter minha própria oficina.
Preconceito, assédio. Passei por tudo, mas minha conduta e força adquiridas com a prática da fé me tornaram uma profissional reconhecida em todo o estado. Em 2015, meu pai se aposentou e pude inaugurar minha oficina mecânica. Com minha especialização em modelos importados e nacionais, atualmente nossa carteira reúne mais de 4 mil clientes.
Não preciso dizer que as dificuldades foram muitas nesse período, mesmo após meu marido conseguir reduzir a pena de trinta para oito anos por boa conduta. As situações desafiadoras só foram superadas a partir da decisão dele de praticar sinceramente o budismo. Veio nossa segunda filha, Alinne, e nós, abraçados pela Soka Gakkai, fomos colocando nossa vida nos eixos da sabedoria e da comprovação das sagradas palavras: “Se crer neste Gohonzon e recitar o Nam-myoho-renge-kyo, não haverá oração sem resposta, nem pecado imperdoável, toda fortuna será concedida e toda justiça será provada”.1
Hoje, temos duas casas e meu carro zero. Neste ano, em duas ocasiões fui chamada para entrevistas nas mídias locais, rádio e TV, pelo reconhecimento numa profissão que geralmente é dominada por homens. Fico bem orgulhosa, porque comprovo assim a força do daimoku, que mudou minha história de vida. Por tantas vezes, agradeço ao presidente Ikeda por ter vindo ao Brasil, mesmo doente, e nos ensinar esta prática transformadora.
Reprodução/Foto-RN176 Cena de reunião da comunidade local
Na organização, atuamos com alegria como líderes de comunidade. Valeu a pena não desistir! Alisson é querido por todos, concretizou quatro shakubuku, e é líder das cinco divisões. Nossa filha Alanna, 24 anos, formada em veterinária, é responsável pela Divisão Feminina de Jovens (DFJ); e eu pela Divisão Feminina (DF). A caçula Alinne tem 15 anos e integra a Divisão dos Estudantes (DE).
Conciliando trabalho e afazeres, minha resposta é “Sim, pra tudo”, procurando dar o meu melhor. Adoro teatro, e buscamos inovar nas programações. Neste mês de junho, conquistei a vitória no Kofu (contribuição voluntária), da forma como havia objetivado. E a próxima meta é visitar as terras do Mestre no Japão.
Tudo é a força do Nam-myoho-renge-kyo, assim como Ikeda sensei incentiva: “Daimoku é a força que transforma o destino. É a fonte da energia da revolução humana”.2
Que vitória para meu coração, que um dia determinou dar uma guinada na vida! Gratidão resume meus dias. Muito obrigada!
Ana Paula Mota Duarte Pinto, 47 anos, é empresária do setor automobilístico. Na BSGI, atua como responsável pela Divisão Feminina (DF) da Comunidade Siqueira Campos, em Aracaju, Sergipe.
Notas:
- Nichikan Shonin Bundanshu[Coletânea de Frases de Nichikan Shonin]. Editora Seikyo Shimbunsha, 1980. p. 443.
- Brasil Seikyo, ed. 2.198, 5 out. 2013, p. A4.
Fotos: Arquivo pessoal