De sutiã rasgado a encanto embaixo d´água: a rotina de uma sereia profissional

ROTANEWS176 E POR TERRA 28/06/2023 07h58                                                                                                      Por Marcela Ferreira

Há 10 anos sendo sereia, Karoline conta os perrengues e as alegrias que já viveu em apresentações.

 

Reprodução/Foto-RN176 Karoline trabalha como sereia profissional há 10 anos no Aquário de São Paulo Foto: Divulgação/Aquário de São Paulo

Já imaginou trabalhar debaixo d’água, sorrindo e encantando crianças e adultos com uma cauda? Esse é o trabalho de Karoline Carmagnani da Silva, 28 anos, há 10 anos, como sereia profissional no Aquário de São Paulo. A profissão é nova e inusitada, mas segundo ela, a demanda é crescente e o interesse na área tem aumentado cada vez mais.

Antes de se tornar sereia profissional, Karoline era atleta de nado sincronizado desde os seis anos, e hoje também atua como fisioterapeuta, quando não está debaixo d’água. A natação é pré-requisito para quem deseja virar uma sereia da vida real. Por isso, quando recebeu o convite, viu a chance de realizar um sonho de infância.

“Eu era atleta de nado sincronizado no Corinthians, e aí apareceu um funcionário do Aquário atrás de atletas para trabalhar como sereia. Na época eu tinha 18 anos”, lembra Karoline. O convite foi para que ela fizesse um teste nadando no tanque e interagindo com as crianças por trás do vidro.

“Eu falei: ‘Gente, isso aqui é o sonho de toda menina que sempre viveu vendo sereias’. Eu vesti a cauda de sereia, a gente entrou no tanque e, na época, a gente entrou num tanque que tinha peixes. Deu um medinho, mas depois foi algo muito natural, como se eu tivesse nascido para aquilo”, conta.

Reprodução/Foto-RN176 A caracterização é parte importante do dia a dia da sereia profissional Foto: Divulgação/Aquário de São Paulo

Apesar do teste ter sido em um local com peixes, as apresentações feitas por Karoline e por outras sereias profissionais acontecem em um tanque específico para elas, sem animais aquáticos. Pelo vidro, elas interagem com o público que visita o Aquário.

Além das habilidades com o nado e a capacidade de segurar a respiração, o carisma é fundamental na profissão “porque no nado sincronizado, quando a gente sobe para respirar, já tem que respirar sorrindo! E embaixo d’água é a mesma coisa, por ter esse encontro com as crianças. Por isso ter uma boa base na natação ou no nado sincronizado é um pré-requisito, além da segurança”, explica.

Outro fator importante é a apneia, isto é, a capacidade de ficar sem respirar por um período de tempo. Karoline conta que fez um curso de apneia para poder melhorar sua performance e a condição pulmonar, e antes de entrar no tanque, faz exercícios de respiração.

No dia a dia, o preparo também é importante antes das apresentações. Além da alimentação e alongamento, a caracterização ajuda Karoline a entrar no clima para entreter os visitantes do Aquário de São Paulo.

Reprodução/Foto-RN176 A parte mais satisfatória do trabalho é encantar as crianças, segundo Karoline Foto: Divulgação/Aquário de São Paulo

“Eu sempre procuro me alimentar com comidas mais leves antes de entrar na água porque acabo ficando quatro horas por dia na água, direto. Depois, chego no Aquário, faço a maquiagem, faço um pouco de treino de respiração para entrar mais confiante, coloco a cauda, a gente se caracteriza e se transforma na sereia”, relata.

O segredo para tudo dar certo, segundo Karoline, é ficar atenta e controlar o nervosismo ao usar a cauda, já que as pernas ficam presas, limitando os movimentos. Nas apresentações no Aquário, a cauda é fornecida pelos contratantes, mas a sereia profissional conta que possui a própria cauda, que usa para eventos ou para posar para fotos nas redes sociais.

Situações inesperadas

Como em qualquer outra profissão, Karoline revela que já passou por alguns perrengues e situações inusitadas. O entusiasmo das crianças ao se depararem com as sereias do Aquário de São Paulo às vezes é tão grande, que fica difícil conter.

“Já me assustei muito com crianças que bateram nos vidros do tanque. Um simples toque que você dá no vidro, dá um eco absurdo lá dentro, e eu não sabia. A primeira vez que fui dar tchau para uma criança e ela fez aquilo, deu uma sensação de ‘o que está acontecendo?'”. Apesar do susto, hoje Karoline ri da situação e costuma ficar mais atenta.

Em outra ocasião, a própria fantasia de sereia foi quem causou problemas para a sereia. “Já aconteceu também de eu estar iniciando a sessão e meu sutiã rasgar na alça. Saí correndo do tanque, por sorte eu tinha um sutiã extra, que sempre tenho”, lembra. No fim, a situação se resolveu antes dela iniciar a apresentação.

“As pessoas acham que é fácil, que é tranquilo mergulhar, e na verdade tem o controle de muitas coisas, da respiração, do condicionamento físico, a parte da interação. O pessoal às vezes vê e fala: ‘Isso é fácil, eu também faço’, mas é difícil, e a cauda é pesada. A gente faz o movimento parecer super leve, mas por trás há um controle grande”, revela.

Amor pela profissão

Apesar dos sustos, a profissão é extremamente recompensadora, segundo Karoline. “O que me faz querer trabalhar todos os dias como sereia é a parte das crianças. É um amor, um encanto… Nós, de dentro do vidro, não conseguimos enxergar quase nada, mas quando eu vejo que tem uma criancinha pulando, aquilo me emociona. As crianças me fazem ter essa emoção e esse amor pela profissão”, diz.

Até os adultos costumam entrar na brincadeira, que envolve o lado lúdico: “As pessoas perguntam se estamos nadando de verdade mesmo, e sempre dizemos que sim, então é muito prazeroso.”

Karoline acredita que o mercado de trabalho para as sereias profissionais está em ascensão. “No Brasil, são poucos os lugares, no Aquário de São Paulo as sereias são uma atração fixa. Hoje tem bastante séries e filmes que chamam a atenção de quem realmente gosta, meninas ou meninos. Mas para quem tem interesse, é importante ter uma base na natação, já ajuda muito, o principal é ter condicionamento, ter carisma e paixão, porque é puxado”, completa.