Bulgária – Por uma sociedade em que mães e filhos possam sorrir

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 15/07/2023 13:30                                                                        ENCONTRO COM O MESTRE                                                                                                                                      Por Dr. Daisaku Ikeda 

Da série “Viagens Inesquecíveis – Com um Coração como o Sol”.

 

Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda, à dir., dialoga com a ministra da Cultura, Ludmila Zhivkova, durante o evento comemorativo dos 1.300 anos de fundação da Bulgária nos subúrbios da cidade de Sófia (maio 1981) Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Fotos: Seikyo Press

Brasil Seikyo publica, nesta edição, a vigésima primeira parte da série de ensaios do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, “Viagens Inesquecíveis — Com um Coração como o Sol”, na qual ele narra suas recordações das pessoas com quem criou laços de amizade nas localidades que visitou no Japão e em diversos países, abordando também aspectos da cultura e história locais. A série foi veiculada, a princípio, na revista mensal Pumpkin e em livro; depois também foi divulgada no jornal Seikyo Shimbun

Desta vez, apresentaremos a parte “Bulgária — Estenda o Brilho da Cultura para a Vida do Futuro”, extraída do volume 4, da coletânea de ensaios de mesmo nome da série, lançada pela editora Ushio.

A Bulgária está localizada na península balcânica, ao sudeste da Europa. Tornou-se palco de intercâmbios entre a Ásia e a Europa e nutriu uma rica cultura como uma “encruzilhada de civilizações”. Foi há 42 anos, em maio, que Ikeda sensei visitou o país pela primeira vez e foi recepcionado pelo coral dessa nação cultural amante da paz. O país comemora 1.300 anos de existência. Vamos aprender sobre o “espírito indomável” e o “coração benevolente”, enraizados nas pessoas desse país, fortalecidos em meio às repetidas turbulências vividas, e darmos uma nova partida com renovada decisão.


Que as rosas
exalem felicidade
para mães e filhos.

É o quinto mês [quando o texto foi publicado] em que a brisa sopra com refrescância e doce fragrância.

Em maio, no Japão, temos o Dia das Crianças e o Dia das Mães. É o “Mês das Mães e das Crianças” que ressoa afetuosamente o amor benevolente das mães, as quais desejam o desenvolvimento saudável de seus filhos, com a sincera gratidão dos filhos, os quais oram pela saúde e longevidade de sua mãe.

Nesta época, flores de todos os tipos e cores brilham jubilosas. Entre elas, como a “rainha das flores”, sinto que as rosas se destacam pelo seu aspecto especialmente elegante e nobre.

A rosa possui uma dignidade singular capaz de transformar o ambiente de um quarto simplesmente por ela estar inserida ali.

Certa ocasião, ofereci um poema a uma amiga que se dedicava arduamente ao movimento cultural de base: Garrafa de leite / adornada / com uma rosa”.

Queria louvá-la e incentivá-la dizendo que onde quer que seja e, mesmo sozinha, ela é capaz de iluminar tudo o seu redor, tal como uma rosa que floresce com altivez e nobreza, e nisso estão a verdadeira força do caráter de uma pessoa e o poder da cultura.

A Bulgária, na Europa Oriental, é também chamada “terra das rosas”. Naturalmente, a rosa é a flor nacional.

Relembro em meu coração a bela canção de boas-vindas da Bulgária:

Neste dia maravilhoso de hoje, por favor,
Receba esta rosa búlgara.
Deixe-nos falar sobre essas montanhas, este mar e sobre todos nós
Através desta rosa com uma doce melodia.

Ouvi dizer que a Bulgária produz cerca de 70% do óleo de aroma de rosas (matéria-prima para o perfume) consumido no mundo. Na área cercada por duas cadeias de montanhas (as dos Bálcãs e as de Sredna Gora), existe o “Vale das Rosas”, onde as rosas são cultivadas ao longo de 120 quilômetros.

Houve um tempo em que uma base de fabricação de armas foi montada nesse “Vale das Rosas”. Contudo, agora é um perfumado “jardim de paz”, onde pessoas do mundo inteiro se reúnem, especialmente nos meses de maio e junho. Podemos dizer que isso simboliza que as rosas ganharam das armas e a cultura superou a barbárie.

Quando meus amigos búlgaros vêm de longe ao Japão, eu também os recepciono calorosamente com um coração de amizade e de paz.
[Nota do Editor: Ikeda sensei dedicou o poema: Rosas / Dignas e distintas / Mesmo em meio ao caos do mundo. / Oh, aroma da paz, / Oh, brilho da amizade. Ele recorda os dias de sua primeira visita à Bulgária em maio de 1981.]

Foi no 1.300º aniversário de fundação da Bulgária (1981) que gravei meu primeiro passo na capital Sofia, atravessando de avião as montanhas dos Bálcãs ainda cobertas de neve prateada.

Reprodução/Foto-RN176 Fotos tiradas por Ikeda sensei em maio de 1981: vistas de dentro do avião, montanhas dos Bálcãs, que se erguem no centro da Bulgária, na “encruzilhada de civilizações – Foto: Seikyo Press

É uma “cidade das florestas”, exatamente como é cantada em suas canções folclóricas: “Oh, minha linda floresta / Que cheira a juventude”. A cadeia de montanhas do Monte Vitosha que avistava ao longe era magnífica.

Desde o início da minha chegada, havia uma coisa que os líderes das mais diversas áreas com quem me encontrei enalteciam: a Bulgária é um país que ama a paz e valoriza a cultura. Significava que alianças militares não são perenes, e que o mais importante eram as alianças culturais.

Em vez do tamanho de suas terras, do seu poderio militar ou econômico, valorizavam mais a grandeza do espírito humano, sua riqueza, beleza e os laços formados.

A sábia líder Ludmila Zhivkova, então presidente do Comitê Cultural (correspondente à ministra da Cultura), disse resolutamente:

O mundo não deve viver mais sob a ameaça da guerra. [Crianças] Morrem antes que possam aprender a escrever — antes que possam escrever as mais acalentadas palavras do mundo — “mãe” e “liberdade”. Não devemos permitir que isso continue.

Podemos dizer que um mundo verdadeiramente de paz é uma sociedade em que mães e filhos podem viver com o sorriso no rosto.

Asas da cultura de paz

[Nota do Editor: A Bulgária é uma “encruzilhada de civilizações”, um ponto-chave no Caminho da Seda que liga o Leste ao Oeste, marcada por vários ciclos de ascensão e queda. Sensei fala sobre a alma de seu povo, que não sucumbe às provações, por meio de sua história de superação e de construção de uma rica cultura.]

Existe o seguinte ditado búlgaro: “O sol também nasce à nossa porta”.1 Quem vive com forte otimismo e é o sol que ilumina as pessoas são as mulheres.

No romance do grande escritor Ivan Vazov, há uma cena comovente em que uma mãe, que espera ansiosamente pelo retorno do filho em segurança do campo de batalha, fica sensibilizada ao ver soldados inimigos sendo capturados e levados à prisão, e intercede: “São pessoas boas… Sinto pelas mães dessas pessoas… Será que elas sabem como seus filhos estão?”.2

Durante a guerra, lembro-me de que minha mãe também disse em relação à prisão de uma pessoa nascida no país inimigo pelos soldados japoneses: “Coitada! Coitada! Como a mãe dela deve estar preocupada com ela!”.

Podemos dizer que o “espírito indomável”, que enfrenta as adversidades, e o “coração do amor benevolente”, que se importa com o outro, são as asas da cultura de paz.

Tornem-se leões
que todos manifestem o espírito indomável
em sua vida.

A família da Dra. Axinia Djourova, importante historiadora de arte do Leste Europeu, com quem publiquei uma coletânea de diálogos, também possui esse “belo espírito de leão”.

Lutando contra o fascismo cruel, seu pai recebeu a condenação de morte diversas vezes, e sua mãe só escapou da prisão porque estava grávida. Segundo a Dra. Djourova, depois da guerra, a mãe, que não pôde estudar tanto quanto desejava, criou muitos filhos ao mesmo tempo em que voltou a estudar, aprendeu técnicas de engenharia têxtil e presenteou as crianças com roupas lindas feitas por ela mesma. Ela ensinou a alegria de continuar aprendendo e a arte de dar cores à vida.

Ela relata que seu pai lhe transmitiu o modo de viver: em primeiro lugar, viver com perseverança diante das provações; em segundo, quando surgir a oportunidade, agir com ousadia; em terceiro, distinguir com sabedoria se é o momento de perseverar ou de tomar atitude com coragem. E ainda, ele dizia frequentemente: “Qualquer que seja a situação, o ser humano é sempre o ser humano”.3 A Dra. Djourova afirma que ele lhe ensinou o mais importante: o valor da natureza humana.

Reprodução/Foto-RN176 Fotos tiradas por Ikeda sensei em maio de 1981: cidade de Plovdiv, uma das mais antigas do mundo — o espírito indomável do povo búlgaro pulsa em sua longa história – Foto: Seikyo Press

Ela declarou que a missão das mulheres neste mundo é “proteger o valor e a espiritualidade da vida humana”.4

[Nota do Editor: “A missão das mulheres é proteger o valor e a espiritualidade da vida humana”, disse a Dra. Djourova. Falando sobre essa crença, Ikeda sensei enfatiza a importância de “escolher o caminho mais difícil”.]

Suplantar o caminho das dificuldades, explorar a dignidade da vida, prezar e salvar outras vidas e construir a paz.

Meus amigos também estão trilhando corajosamente por esse majestoso caminho da missão da Bulgária. Da Universidade Soka, que eu fundei, existem alunos que foram estudar na Bulgária e acabaram adotando-a como segunda pátria e estão contribuindo para o bem-estar da sociedade búlgara. Como bons cidadãos, todos estão atuando pelo bem das pessoas, da comunidade e estão ampliando com entusiasmo a rede de amizade e de convivência humana.

“Compartilhemos!” —, assim como o jovem poeta Hristo Botev bradou, dividindo alegrias e tristezas!


Que o grande coro
ecoe alegremente
até os céus,
exultante e
sem arrependimentos
do caminho do juramento!

No topo: presidente Ikeda, à dir., dialoga com a ministra da Cultura, Ludmila Zhivkova, durante o evento comemorativo dos 1.300 anos de fundação da Bulgária nos subúrbios da cidade de Sófia (maio 1981)

Fotos: Seikyo Press

Notas:

  1. Shigeo Kurihara. Provérbios Eslavos. Hayka.
    2. Kaette Kimasuka. InIvan Vazov Tanhenshu. Tradução: Rokuya Matsunaga. Daigakushorin.
    3. DJOUROVA, A.; IKEDA, D. Utsukushiki Shishi no Tamashii. InObras Completas de Daisaku Ikeda. v. 109. Seikyo Shimbunsha.
    4. Ibidem.

Publicado no Seikyo Shimbun do dia 11 de maio de 2023.