ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 15/07/2023 13:45 REDE DA FEDELIDADE Por Dr. Daisaku Ikeda
No trecho a seguir do romance Nova Revolução Humana, o autor, Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), conta como o casal Mizobuchi venceu grandes adversidades unindo-se com base na prática budista.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustrações de Ilustração: Kenichiro Uchida
[Em 1978, Shin’ichi Yamamoto (pseudônimo do presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, na obra) visitou a residência de Yoshihiro e Shizue Mizobuchi, na cidade de Takamatsu. Yoshihiro, médico e proprietário de uma clínica particular, era coordenador do Departamento de Profissionais da Saúde na região. Eles também eram líderes das Divisões Sênior e Feminina da província de Kagawa.]
Yoshihiro iniciara a prática em março de 1964, antes de sua mulher. Ele estava numa situação complicada em virtude de uma enorme dívida decorrente do fato de um amigo ter deixado de pagar uma nota promissória da qual havia sido fiador. Isso só o levou a desconfiar muito das pessoas, mas também lhe acarretou a preocupação de como lidar com credores. Não conseguia dormir e padecia de ansiedade terrível provocada pela tensão.
O fato de ele, um médico, não ser capaz sequer de curar a própria insônia, o perturbava ainda mais. Yoshihiro confidenciou seus problemas a outro amigo. Essa pessoa, membro da Soka Gakkai, falou-lhe sobre o Budismo Nichiren e, no dia seguinte, apresentou-o ao líder de comunidade. Citando exemplos dos escritos de Nichiren Daishonin, o líder de comunidade explicou-lhe eloquentemente sobre a causa da doença da perspectiva budista. Yoshihiro ficou muito impressionado. Convencido de que o budismo expunha um meio para superar doenças que a ciência médica não era capaz de entender, decidiu associar-se à Soka Gakkai.
Quando recebeu o Gohonzon, vários membros da Soka Gakkai foram à sua casa celebrar. Sua esposa, Shizue, não sabia quem eram aquelas pessoas ou por que estavam em sua casa e, com certeza, não ficou muito entusiasmada com os trajes delas. As roupas eram simples, e os sapatos, velhos e surrados. Não desejando se envolver muito com elas, nem lhes serviu chá.
Naquele dia, Yoshihiro recitou o sutra e daimoku sinceramente antes de ir se deitar. Caiu imediatamente num sono profundo. Era a primeira vez em dois anos que dormia bem. Ele acordou renovado na manhã seguinte.
Para Yoshihiro, aquela experiência abriu seus olhos para o valor da prática do Budismo Nichiren. (…)
Quando Yoshihiro contou à esposa que havia ingressado na Soka Gakkai, ela presumiu que devia ser algum tipo de associação médica.1 Shizue, portanto, ficou chocada ao descobrir, logo depois, que se tratava de um grupo religioso.
Ao se recuperar de sua severa ansiedade, Yoshihiro encorajou a mulher a se associar também à organização. Apesar de acreditar que poderia haver algo naquela prática religiosa, o pai dela era o principal representante dos adeptos de outra escola budista, e ela se preocupava com o que os outros pensariam. Shizue criticava a Soka Gakkai de maneira ríspida e se recusava firmemente a aderir à organização, alegando ao marido que tinha o direito de escolher a própria religião.
Yoshihiro disse que não apreciava o fato de ela criticar algo de que não tinha conhecimento e questionou o caráter dela. Ela acabou decidindo se filiar apenas no nome, mas sem intenção de participar das atividades.
Foi então que uma líder da Divisão Feminina a visitou para lhe oferecer apoio e encorajamento.
— Só me associei porque meu marido queria que eu o fizesse. Não frequentarei as atividades — disse-lhe Shizue.
A líder da Divisão Feminina respondeu:
— Independentemente do motivo que a levou a se converter, ao praticar o budismo, terá muitos benefícios. O budismo ensina: “Mesmo que alguém ainda não tenha despertado uma fé verdadeira, conquistará benefícios imensos conectando-se ao objeto [de devoção, ou seja, o Gohonzon] correto”.2
— O que quer dizer com benefício?
— Bem, o que significa para a senhora?
— Ter comida e roupas suficientes e um teto, creio eu.
— Sim, certamente isso é benefício, mas não é o único tipo. Há uma categoria de benefício mais importante. Por exemplo, desenvolver força interior, para não ser derrotada por nada na vida. Ou cultivar uma condição existencial na qual a vida em si seja incrivelmente prazerosa. Ou ter uma vida jubilosa, desejando realmente tornar outras pessoas felizes e podendo lhes ensinar o caminho infalível para a felicidade.
As palavras “força interior” a acertaram em cheio. Vendo o marido, que tivera de arcar com uma dívida enorme por ter uma índole bondosa, ela passara a se sentir muito ansiosa. Temia que a vida fosse repleta de reviravoltas inesperadas e de incertezas. (…)
Tanto Yoshihiro como Shizue passaram a se empenhar com maior seriedade à prática budista. Nisso, os parentes do casal e os médicos que Yoshihiro conhecia começaram a se opor à fé abraçada por eles. Era uma época em que ainda predominavam fortes equívocos e ideias preconceituosas em relação à Soka Gakkai.
Uma das pessoas contra a prática deles era a mãe de Shizue. Ela implorou em prantos à filha que desistisse, dizendo que nem estava conseguindo sair de casa de tanta vergonha. Entretanto, observando a condição do marido melhorar dia a dia, Shizue permaneceu inabalável. (…)
Sete anos depois de ingressar na Soka Gakkai, terminou de saldar a enorme dívida que fora forçado a assumir, e também superou totalmente os problemas cardíacos que desenvolvera subsequentemente.
Com base no desejo de Mizobuchi de proteger a vida das pessoas de sua comunidade, a clínica particular dele começou a aceitar casos de emergência 24 horas por dia. [Apesar da agenda de trabalho cheia, juntamente com sua esposa, ele também se devotava às atividades da Soka Gakkai com alegria. Durante a visita, Shin’ichi incentivou Yoshihiro:]
— (…) Não conseguiremos expandir nosso movimento em prol do kosen-rufu a não ser que os homens de nossa organização se levantem com sincera fé e ajam. Crie, não somente aqui em Kagawa, mas em toda a Shikoku, uma era em que a Divisão Sênior da Soka Gakkai assuma a liderança. Eu também sou da Divisão Sênior. Esforcemo-nos juntos — disse Shin’ichi, assentindo com a cabeça.
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Fonte:
IKEDA, Daisaku. Vitória. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 5, p. 138-158, 2019.
Ilustração: Kenichiro Uchida
Notas:
- A palavra japonesa Gakkai significa simplesmente “sociedade”.
2. Escritos em Vinte e Seis Volumes, de Nichikan.