Força e diálogo para criar a época

ROTANEWS176 12/08/2023 13:45                                                                                                                            CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA

Capítulo “Sino do Alvorecer”, volume 30

 

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração da matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida

PARTE 33

Sob a referência da justiça divina, a Divina Comédia, de Dante, descreve o resultado cruel no mundo após a morte decorrente da inveja, da enganação, da arrogância, da violência, da mentira, da traição, entre outras. Pode-se dizer que é uma obra literária de luta contra todos os tipos de males que conduzem o homem à infelicidade.

Por mais que conquiste posição social, fama ou fortuna, enquanto não resolver a questão da morte, o ser humano não consegue estabelecer a felicidade nem o verdadeiro modo de viver. Pode-se dizer que a distorção da época atual é resultado da busca desenfreada pelos desejos de curto prazo, fugindo da questão mais importante do ser humano que é a morte.

Shin’ichi tinha forte convicção de que a nova Renascença da vida só aconteceria a partir do despertar das pessoas para a grande Lei da eternidade da vida chamada budismo.

Shin’ichi criou, ainda, um momento de diálogo com os jovens, dirigindo-se até as colinas de Fiesole, na periferia de Florença:

— O budismo dá uma grande importância ao diálogo. Está no extremo oposto da submissão das pessoas por meio do poder e do autoritarismo religioso. Shakyamuni elucidou a Lei pelo diálogo. E Nichiren Daishonin também deu a máxima importância ao diálogo. A reunião de palestra da Soka Gakkai também é realizada herdando esse espírito. Bem, se tiverem algo que queiram saber, perguntem sem cerimônias.

Com brilho nos olhos, os jovens perguntaram a Shin’ichi sobre temas como teoria de Dante, princípios da “unicidade da vida e seu ambiente” (esho-funi) e “simultaneidade de causa e efeito” (inga-guji). Quando diminuíram as perguntas, Shin’ichi disse avistando a cidade que se estendia no horizonte:

— Certamente virá o dia em que as chamas da Lei Mística brilharão nas janelas de muitas casas que enxergamos daqui. A época do kosen-rufu já chegou. Agora é o momento de todos se levantarem sós munidos de coragem. Quando Toda sensei tomou posse como segundo presidente da Soka Gakkai, o número de membros não passava de 3 mil. Porém, os jovens que despertaram para a missão de luta conjunta de mestre e discípulo se levantaram e, em menos de sete anos, a Soka Gakkai concretizou o empreendimento da vida do mestre, de 750 mil famílias praticantes. Essa foi a vitória do resoluto diálogo. Nós tínhamos a grande convicção no budismo. Todos se empenharam no estudo do budismo e falaram com raciocínio lógico sobre os princípios de forma clara. Havia uma abundante paixão. O diálogo une os corações e se torna a força para criar a época.

PARTE 34

Na tarde do dia 2 de junho, Shin’ichi Yamamoto despediu-se de cerca de cem membros que se juntaram na estação central de Florença, e embarcou no trem com destino a Milão. No lado de fora das janelas, via-se o rosto de muitos jovens que pareciam relutar a despedida. Em um diálogo sem palavras, Shin’ichi trocava os olhares através do vidro com o sentimento de “conto com vocês; é a época de vocês”.

O trem começou a se movimentar. Todos acenavam intensamente. Seus olhos estavam marejados. Shin’ichi também continuou acenando. Quando os jovens se levantam, o portal do futuro se abre.

Observando a cidade de Florença, ele sentiu como se ouvisse o altivo ressoar do sino do alvorecer, anunciando a Renascença do século da vida.

Os jovens daquela época cresceram vigorosamente e passaram a contribuir enormemente em prol da sociedade italiana. Em julho de 2016, 35 anos depois, o governo da República da Itália e o Instituto Budista Italiano Soka Gakkai firmaram o acordo de cooperação religiosa Intesa. Essa era, de fato, a prova da confiança da sociedade.

Shin’ichi chegou a Milão e, no dia 3, visitou Carlo Maria Badini, superintendente do Teatro alla Scala que se orgulha pela sua tradição e história de mais de duzentos anos. E, conduzido pelo superintendente, realizou uma visita de cortesia ao prefeito Carlo Tognoli no prédio da prefeitura de Milão, localizado em frente ao teatro.

Na verdade, estava prevista para outono daquele ano a apresentação no Japão do Teatro alla Scala a convite da Associação de Concertos Min-On e de outras associações. Essa apresentação que reúne um total de cerca de quinhentos integrantes seria numa escala sem precedentes. Seguindo à exibição da Ópera Estatal de Viena, realizada no ano anterior, havia uma enorme expectativa dessa apresentação no Japão do mais proeminente grupo de ópera do mundo.

Na ocasião do encontro, o prefeito Tognoli outorgou a medalha de prata da cidade para Shin’ichi. E, também, no Teatro alla Scala, dialogou com o superintendente Badini e com o diretor artístico Francesco Siciliani. O superintendente afirmou:

— Enaltecendo plenamente o valor do nome do Teatro alla Scala como também da Associação de Concertos Min-On, entidade musical de âmbito internacional, realizaremos a melhor apresentação.

Em sua fisionomia, notava-se uma decisão incomum para a apresentação no Japão.

A tradição não é criada meramente pela passagem dos anos. Os seguidos desafios de sempre fazer o melhor, sem compromisso, cultivam o nobre acúmulo de experiências ano após ano.

PARTE 35

O superintendente prosseguiu:

— Sem o esforço do presidente Yamamoto, essa apresentação não seria realidade.

Relembrando, as negociações para realizar a apresentação do Teatro alla Scala no Japão haviam sido iniciadas pelo diretor responsável pela Min-On, Eisuke Akizuki, há dezesseis anos quando ele visitou o teatro. Não havia exemplo anterior de uma apresentação convidando todo o grupo do Scala nem no Japão nem na Ásia. Quando tomavam conhecimento da intenção da Min-On em convidar o Teatro alla Scala, invariavelmente as pessoas do mundo cultural e artístico do Japão zombavam dizendo ser um sonho. Elas afirmavam que era impossível a Associação de Concertos Min-On ou a Soka Gakkai trazerem esse grande teatro de ópera, o melhor do mundo.

Mas Shin’ichi disse a Akizuki:

— Não precisa se preocupar. Sinto no Teatro alla Scala o espírito de altivo orgulho em contribuir sempre para a prosperidade da música. Não é possível que músicos herdeiros dessa tradição não se interessem pela Min-On que promove um novo e grandioso movimento musical do povo.

Exatamente de acordo com essa convicção de Shin’ichi, o Teatro alla Scala manifestou concordância pela apresentação no Japão, chegando finalmente a ponto de firmar um contrato provisório. Todavia, o falecimento do superintendente da época e o afastamento do seu sucessor devido a uma doença fizeram com que o assunto não avançasse.

Como fundador da Min-On, Shin’ichi veio sempre se empenhando em apoiar nos bastidores e, finalmente, foi definida a apresentação do Teatro alla Scala no Japão em outono de 1981.

Desafiar persistentemente com o sentimento de avançar corpo a corpo a cada barreira encontrada. O acúmulo dessas ações faz com que se realizem empreendimentos considerados impossíveis pelas pessoas e se crie uma nova história.

No dia seguinte, 4 de junho, Shin’ichi foi convidado pela Editora Mondadori e dialogou com o diretor de publicações educacionais e com outros. Essa era a maior empresa de publicações da Itália e havia um plano para editar as obras provenientes do diálogo de Shin’ichi com intelectuais do mundo em língua italiana, razão da visita desse dia.

Mais tarde, essa editora publicou a Sabedoria do Sutra do Lótus, obtendo grande repercussão. Essa publicação se tornou uma força para divulgar os ideais, cultivar o diálogo espiritual e desenvolver a cultura.

PARTE 36

Ao final da tarde do dia 4, Shin’ichi Yamamoto reuniu-se com cerca de cinquenta representantes jovens e estudantes na sala de conferências do hotel em que estava hospedado e realizou um diálogo sobre a prática da fé.

Respondendo às perguntas dos membros, ele transmitiu orientações e incentivos. Um dos assuntos enfatizados foi o de que, mesmo com uma reforma do sistema, era imprescindível realizar a transformação da vida de si próprio.

Ainda que se crie um maravilhoso sistema, quem o administra é o próprio ser humano. Se não houver o estabelecimento da filosofia da revolução humana capaz de controlar o desenfreado egoísmo, não haverá a prosperidade social no sentido verdadeiro.

Shin’ichi queria que os jovens se levantassem como “cavaleiros da revolução humana” para abrir o século da vida.

Além disso, na Itália, o número de membros jovens era expressivo. Assim, considerando também o pedido dos pais para que ele falasse sobre a concepção de casamento, Shin’ichi se referiu a essa questão.

— Desnecessário dizer que, no casamento, o mais importante é a própria intenção. Todavia, não se pode negar que, pelo fato de ser jovem, a experiência na vida ainda é escassa e haja certa imaturidade. Portanto, gostaria de lhes afirmar que é importante receber aconselhamentos dos pais e veteranos próximos, e realizar o casamento no qual as pessoas ao redor os felicitem. Além disso, ao se casar, a pessoa compartilhará alegrias e sofrimentos por toda a vida. Na jornada da vida, não se sabe que tipo de destino e provações nos aguarda.

Para que consigam superá-los a dois, além do amor, é necessário avançar com um objetivo de vida comum embasado em uma ideologia, uma filosofia e, principalmente, uma fé. Se ambos forem praticantes deste budismo, procurem se esforçar diligentemente e criem um relacionamento para polir mutuamente a fé e a personalidade. Se em virtude do namoro acabarem se distanciando da organização, perderem a alegria da fé e deixarem de progredir e se desenvolver, vocês se tornarão infelizes.

Budismo é fonte da energia para superar as ondas bravias da vida. O caminho para construir a felicidade indestrutível se encontra na linha de frente das atividades da organização. O suor escorrido em prol do kosen-rufu converte-se em preciosa boa sorte, e cada passo dessa caminhada transforma nosso destino e abre a jornada da vida de alegria e de felicidade. Shin’ichi enfatizou que, por isso mesmo, jamais se deve apagar as chamas da fé.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Ilustrações: Kenichiro Uchida

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO