Vencer junto com o mestre

ROTANEWS176 12/08/2023 14:00                                                                                                                            ESPECIAL DIRETO DA REDAÇÃO DO JBS

Os dias 14 e 24 de agosto possuem profundo significado na história da Soka Gakkai e representam o ponto primordial da relação de mestre e discípulo.

 

Reprodução/Foto-RN176 Ilustração retrata Josei Toda, à esq., e o jovem Daisaku Ikeda. Unidos pelo ideal do kosen-rufu, mestre e discípulo enfrentam inúmeros desafios com a coragem e o ímpeto do rei leão – Ilustração: Kenichiro Uchida
Foi em 14 de agosto de 1947 que o jovem Daisaku Ikeda conheceu o Budismo de Nichiren Daishonin numa reunião de palestra. Ele havia recebido um convite de dois amigos para participar de uma explanação sobre “filosofia de vida”, conduzida pelo professor Josei Toda, o qual, mais tarde, se tornou o segundo presidente da Soka Gakkai. Dez dias depois daquele encontro, Ikeda sensei recebeu o Gohonzon, iniciando uma grandiosa jornada no movimento pelo kosen-rufu.

Era uma noite tranquila, porém quente e úmida, de verão. A vizinhança estava quieta e as famílias provavelmente tinham acabado de jantar. Notava-se, porém, uma movimentação de várias pessoas pelas ruas escuras que se dirigiam à residência da família Miyake, no bairro de Ota, em Tóquio, para participar de uma reunião de palestra da Soka Gakkai.

Mesmo sofrendo com tuberculose e febre persistente, o jovem Daisaku Ikeda, na época com 19 anos, decidiu aceitar o convite dos amigos para ir à reunião, movido pela esperança de encontrar um direcionamento para sua vida em meio às circunstâncias em que vivia.

Daisaku Ikeda chegou ao local por volta das 20 horas. Enquanto tirava os sapatos na entrada, percebeu uma voz rouca, mas vigorosa, vinda do interior da casa. Era a primeira vez que ouvia Josei Toda. Ele explanava o escrito Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, em que Nichiren Daishonin proclama sua extraordinária filosofia para a concretização de uma sociedade pacífica. Ikeda sensei relembra esse momento:

O Sr. Toda, meu mestre, aguardava-me como um pai afetuoso. Foi um momento solene, eterno, que abarcou as três existências. Foi o dia do juramento — o meu — de me tornar discípulo do Sr. Toda e de devotar minha vida ao kosen-rufu. (…)

Na explanação que ele fez nessa primeira vez que participei numa reunião, o Sr. Toda imprimiu forte paixão e determinação num alerta às pessoas. Foi um rugido do leão proclamando a essência do Budismo de Nichiren Daishonin.

A explicação do Sr. Toda não era de um budismo antiquado e ultrapassado. Revelava um caminho grandioso com a promessa de um futuro brilhante, que transbordava convicção e dinamismo. (…)

Após concluir sua explanação, o Sr. Toda iniciou um diálogo informal. (…) Não demonstrou a mínima atitude de superioridade pretensiosa e arrogante que muitos falsos líderes políticos e religiosos exibem. Estava sendo ele mesmo. Embora aquele fosse o nosso primeiro encontro, senti-me à vontade para fazer qualquer pergunta que guardava em meu jovem coração. Lembro-me de ter arriscado, com certa intensidade, esta questão: “Senhor, qual é o modo correto de vida?”.

O Sr. Toda me deu uma resposta clara, com plena convicção, isenta de qualquer jogo intelectual ou desonestidade que obscurecesse o verdadeiro ponto de minha pergunta.1

Em determinado momento, o jovem Ikeda contemplava algo, com olhares atentos, o que deixava sua face inteiramente corada. Parecia estar impaciente, desejando pronunciar algo novamente. De súbito, levantou-se decidido e externou:

— Sensei, muito obrigado. Há um antigo ditado que diz: “Faz bem pensar mais uma vez, mesmo que concorde. É bom pensar novamente, mesmo que discorde”. Acreditando nas palavras do senhor ao me sugerir que como jovem estudas-se e colocasse em ação, gostaria de segui-lo e me empenhar nos estudos. Nesse momento, gostaria de expressar meu sentimento de gratidão com um poema, embora não tenha nenhuma habilidade e tenha sido de improviso…2

Josei Toda concordou em silêncio. O rapaz fechou levemente os olhos e começou a declamar com voz sonora:

Ó viajante!
De onde vens?
E para onde irás?

A lua desce
no caos da madrugada;
mas vou andando,
antes de o Sol nascer,
à procura de luz.

No desejo de varrer
as trevas de minh’alma,
a grande árvore
eu procuro
que nunca se abalou
na fúria da tempestade.

Neste encontro ideal,
sou eu quem
surge da terra!
3

Todos ficaram surpresos. Para Josei Toda, especialmente, a última frase soou de forma muito significativa. “Sou eu quem surge da terra!” — era a missão dos bodisatvas da terra que surgiram nos Últimos Dias da Lei para propagar o ensinamento do budismo.

Ikeda sensei recebeu o Gohonzon e se converteu ao Budismo Nichiren em 24 de agosto de 1947. Embora sua família, a princípio, não fosse a favor de sua prática, o jovem não hesitou por depositar confiança em Josei Toda.

Em pouco mais de dez anos de convívio, mestre e discípulo tiveram uma existência em perfeita harmonia e união, conquistando grandes feitos como a conversão de 750 mil famílias ao budismo, a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, em 1957, e a Cerimônia do Kosen-rufu, realizada em 16 de março de 1958.

Após o falecimento de Josei Toda, em 1958, Ikeda sensei assumiu a terceira presidência da Soka Gakkai em 3 de maio de 1960. Em outubro desse ano, partiu para a primeira viagem ao exterior a fim de propagar o budismo em diversos países, entre eles o Brasil. Desde essa ocasião, vem se empenhando incansavelmente para cumprir os ideais do seu mestre e impulsionar o movimento pelo kosen-rufu.

Passados 76 anos desde o primeiro encontro entre Daisaku Ikeda e Josei Toda em uma reunião de palestra da Soka Gakkai, a correnteza da propagação do Budismo de Nichiren Daishonin ampliou-se em nível mundial, mantendo a essência do diálogo de vida a vida e da relação de unicidade de mestre e discípulo a partir de suas organizações de base. O ato de compartilhar a prática budista com nossos familiares, amigos e demais pessoas do nosso convívio, ou seja, a realização do shakubuku, possui profundo significado e valor, pois os capacita para vencer quaisquer dificuldades, construir uma vida de felicidade inabalável e contribuir para a edificação de uma sociedade de paz.

No topo: ilustração retrata Josei Toda, à esq., e o jovem Daisaku Ikeda. Unidos pelo ideal do kosen-rufu, mestre e discípulo enfrentam inúmeros desafios com a coragem e o ímpeto do rei leão
Ilustração: Kenichiro Uchida
Fontes:

Brasil Seikyo, ed. 2.615, 16 jul. 2022, p. 8-9.

IKEDA, Daisaku. Emergindo da Terra. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 187-207, 2022.
Notas:

  1. IKEDA, Daisaku. Pilares de Ouro Soka. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, p. 51 a 55, 2022.
  2. Idem. Emergindo da Terra. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 205, 2022.
  3. Ibidem, p. 206.

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO