ROTANEWS176 09/09/2023 13:25 CONHEÇA O BUDISMO DIRETO DA REDAÇÃO JBS
A prática do Budismo de Nichiren Daishonin possibilita transformar o apego aos desejos e direcioná-los para construir uma vida de felicidade.
Reprodução/Foto-RN176 Foto ilustrativa da matéria – Foto: GETTY IMAGES
A expressão original em japonês bonno soku bodai é traduzida como “desejos mundanos são iluminação”. “Desejos mundanos” referem-se aos desejos e sofrimentos que atormentam a mente de uma pessoa, e “iluminação” significa atingir um estado de felicidade absoluta.
A palavra bonno às vezes é traduzida como “ilusões” ou simplesmente “desejos”. Soku significa “ser igual” ou “simultâneo a”. E bodai quer dizer “conhecer”, “entender”, “sabedoria perfeita” ou “iluminação da mente”.
A essência desse princípio pode ser encontrada no Sutra do Lótus. Trata-se de um conceito baseado na visão de que se pode alcançar a iluminação sem eliminar os desejos mundanos. Essa visão é totalmente contrária à do budismo Hinayana, que pregava a ideia de que a erradicação desses desejos mundanos seria o pré-requisito para atingir a iluminação.
A palavra “mundano” é utilizada no sentido de algo derivado do “mundo”. Portanto, “desejos mundanos” deve ser entendido como “desejos do mundo” ou como “desejos materiais”. Muitas pessoas almejam um bom emprego, enquanto outras querem uma bela casa. Há aquelas que lutam para superar o carma de doença ou para criar um bom relacionamento familiar. Todos esses anseios fazem parte da vida de qualquer pessoa.
Normalmente, tende-se a pensar que os desejos mundanos e a iluminação são aspectos separados e distintos — especialmente pelo fato de os primeiros frequentemente causarem a desilusão e o sofrimento, o oposto de sabedoria e felicidade. Dos desejos originam-se as ações, mas quando eles se tornam incontroláveis, cegando o bom senso e a razão, levam as pessoas a criar um carma negativo que resulta em sofrimentos que dão origem a mais desejos, num ciclo interminável.
O presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, explica:
Quando encontramos dificuldades, recitamos daimoku para solucionar nossos problemas. Quando tristes, levamos nossa tristeza ao Gohonzon. Quando felizes, oramos com profundo sentimento de gratidão. À medida que assim fazemos, continuamos a avançar, olhando para nossos problemas de um estado de vida elevado. Quando oramos ao Gohonzon, é como se estivéssemos olhando todo o universo, permitindo-nos observar impassivelmente os sofrimentos que existem em nossa própria vida. Com base na fé, podemos estabelecer um estado de vida que, não importando o que aconteça, experimentamos alegria, esperança e convicção nas profundezas do nosso ser. Isso nos dá força para irmos àqueles que estão sofrendo e, juntos, buscarmos a verdadeira felicidade.1
Força propulsora
Por meio da prática budista, é possível purificar os desejos básicos, transformando, por exemplo, o egoísmo, o apego a ganhos materiais e supérfluos em sentimentos mais nobres e altruísticos, despertando no coração o objetivo de utilizar tudo aquilo que almeja em prol da paz e da felicidade das outras pessoas.
O simples fato de possuirmos desejos não significa que estamos automaticamente “iluminados”. A palavra-chave para a transformação dos desejos mundanos em iluminação é a recitação do Nam-myoho-renge-kyo ao Gohonzon. Quando recitamos daimoku com sincera fé ao Gohonzon, desenvolvemos o autocontrole não para sermos dominados pelos desejos mundanos, mas sim para que eles se tornem a força propulsora para nosso próprio crescimento.
Na escritura Resposta a Kyo’o, Nichiren Daishonin afirma: “O Nam-myoho-renge-kyo é como o rugido de um leão. Que doença pode, portanto, ser um obstáculo?”.2 Assim, quando se fortalece a prática da fé, mesmo uma grave doença deixará de ser um obstáculo para a felicidade. Pelo contrário, poderá se tornar um trampolim para o próprio desenvolvimento. E, naturalmente, essa transformação se aplica não só a uma doença, mas também a outros tipos de problemas, desejos ou sofrimentos inerentes à vida diária.
De fato, quando elevamos nossa condição de vida, os diversos tipos de desejos mundanos, muitas vezes oriundos da nossa própria personalidade, acabam sendo redirecionados para um lado positivo da vida. Por exemplo, uma pessoa fortemente materialista e egoísta que almeja seu enriquecimento mesmo à custa da infelicidade de outros, com a prática da fé ao Gohonzon e a compreensão da profunda filosofia de vida do Budismo Nichiren, passa a manifestar um sentimento de se empenhar pela felicidade dos demais e pelo autoaprimoramento como um “valor humano” para o movimento pelo kosen-rufu. Portanto, aquele intenso anseio inicial, de caráter puramente egoísta, transforma-se em forte desejo de se desenvolver para contribuir em prol da felicidade das pessoas, demonstrando e comprovando o caminho da própria revolução humana. O que nos permite elevar nossa condição de vida são, sem dúvida, os esforços que empreendemos com base na recitação do gongyo e do daimoku, bem como aqueles fundamentados na propagação do budismo (shakubuku), pois assim fazemos a causa para manifestar a sabedoria necessária a fim de concretizar nossos objetivos.
Vida criativa
A existência dos desejos e apegos é uma condição da nossa existência no mundo real. Consequentemente, assim como cada um de nós, individualmente, a sociedade também é regida por necessidades das mais variadas naturezas. Na obra Escolha a Vida, o presidente Ikeda enfatiza:
É essencial controlar o desejo para que ele possa desempenhar um papel no direcionamento da humanidade, da sociedade e do Universo no caminho da vida criativa. O controle, e não tentativas fúteis de extinção, é a maneira significativa de lidar com os desejos.3
Dessa forma, entendendo melhor o princípio de bonno soku bodai, vamos determinar nossos objetivos baseando-nos na prática budista em primeiro lugar, conscientes de que esse esforço influenciará positivamente não apenas nossa vida, mas também toda a sociedade.
Fontes:
RDez, ed. 117, set. 2011, p. 30.
Brasil Seikyo, ed. 1.722, 8 nov. 2003, p. A5.
Idem, ed. 1.723, 15 nov. 2003, p. A7.
Notas:
- Brasil Seikyo, ed. 1.527, 9 out. 1999, p. 3.
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 431, 2020.
- TOYNBEE, Arnold J.; IKEDA, Daisaku. Escolha a Vida. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 427, 2022.
Foto: GETTY IMAGES
FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO – BSGI