ROTANEWS176 16/09/2023 06h35
Pesquisas relatam que a incidência de pedra nos rins em crianças vem aumentando. Médica faz alerta.
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Se você perguntasse para um nefrologista há 30 anos quem era o paciente com cálculo renal, a resposta estaria na ponta da língua: homem branco de meia-idade. No entanto, agora, os médicos estão atendendo cada vez mais um tipo diferente de paciente que sofre dessa condição extremamente dolorosa: as crianças e os adolescentes.
“O cálculo renal não causa dor enquanto está nos rins. Mas essas pedras, que são depósitos duros de minerais e sais, podem se deslocar e ficarem presos no trato urinário. Estima-se que a combinação de três fatores esteja ligada ao aumento da incidência do problema em crianças e adolescentes: a dieta rica em alimentos ultraprocessados, o aumento do uso de antibióticos no início da vida e as mudanças climáticas causando mais casos de desidratação”, explica Caroline Reigada, médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Pedra nos rins é um distúrbio metabólico, também conhecido como nefrolitíase, que ocorre quando minerais como cálcio, oxalato e fósforo se acumulam na urina e formam cristais duros amarelados tão pequenos quanto um grão de areia ou tão grandes quanto uma bola de golfe em casos graves.
“Algumas pedras saem do trato urinário sem problemas, mas outras podem ficar presas, bloqueando o fluxo de urina e causando dor intensa e sangramento. É a cólica renal, um quadro de dor lombar intensa, de início súbito, com irradiação para a região lateral do abdome e frequentemente para a região genital. A dor pode ser tão forte que chega a causar náuseas e vômitos. Muitas vezes vem acompanhada de sangue na urina por lesão da via urinária provocada pela pedra”, esclarece Caroline.
O problema ainda é subestimado no Brasil
A prevalência verdadeira do problema não é totalmente conhecida e, provavelmente, é subestimada no Brasil. Pedras nos rins em adultos estão ligadas a condições como síndrome metabólica, obesidade, hipertensão e diabetes.
“Em crianças, nem sempre esse é o caso. Eles são saudáveis e simplesmente chegam com sua primeira pedra nos rins por razões obscuras”, argumenta a médica nefrologista. As pedras podem ser encontradas em crianças a partir dos 5 anos de idade.
Pedras nos rins não são comuns em crianças, embora a taxa não seja clara porque a maioria das pesquisas se concentrou em adultos. Uma estimativa vem de um estudo de 2016 conduzido que incluiu quase 153 mil adultos e crianças na Carolina do Sul que receberam atendimento de emergência, internação ou cirúrgico para nefrolitíase. A pesquisa, publicada no Clinical Journal of the American Society of Nephrology, descobriu que a incidência anual de cálculos renais aumentou 16% de 1997 a 2012, com o maior aumento entre os jovens de 15 a 19 anos.
Nessa faixa etária, a incidência de cálculos renais foi 52% maior entre meninas e mulheres. A doença tornou-se mais comum em homens a partir dos 25 anos.
Tendências semelhantes foram relatadas em outros estudos, incluindo um conduzido em Olmsted County, que descobriu que a taxa de incidência de cálculos renais entre crianças de 12 a 17 anos aumentou 6% ao ano de 1984 a 2008.
O primeiro vilão: a dieta
Especialistas acreditam que a piora da dieta das crianças pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento de pedras nos rins.
“Altas quantidades de sódio de batatas fritas, sanduíches de carne, bebidas esportivas e refeições embaladas podem forçar minerais extras na urina que podem se acumular em pedras nos rins. É especialmente provável que uma criança não beba água suficiente ou beba muitas bebidas açucaradas com alto teor de xarope de milho de frutose”, diz a nefrologista.
“A dieta de padrão ocidental, que é rica em sódio e alimentos embutidos (temperos e molhos prontos, enlatados, conservas, queijos amarelos, sopas de pacote e macarrão instantâneo, carnes salgadas, salgadinhos para aperitivos, bolachas salgadas ou doces recheadas, margarina ou manteiga com sal, requeijão normal ou light, maionese pronta ou patês), é um verdadeiro perigo para os rins”, alerta ela.
Antibiótico: o vilão induzido precocemente
Os antibióticos podem alterar o microbioma intestinal de forma a favorecer o desenvolvimento de cálculos renais, segundo a médica nefrologista. Algumas espécies que colonizam o intestino ajudam na quebra do oxalato, protegendo contra a formação de cristais de cálcio.
“Tomar antibióticos orais comumente está associado a um aumento de 1,3 a 2,3 vezes nas chances de desenvolver cálculos renais. O risco diminui com o tempo, mas permanece alto por até cinco anos após o uso do medicamento – e é maior quando administrado em idades mais precoces. Como muitos antibióticos são prescritos desnecessariamente nos últimos anos, essa pode ser uma teoria importante para o aumento de crianças desenvolvendo cálculos renais”, diz a médica.
Como o clima pode ser o terceiro vilão
Verões mais quentes causam mais cálculos renais. Quanto mais quente e úmido, mais você sua e menos urina, permitindo que os minerais se liguem nos rins e no trato urinário.
“As crianças são especialmente vulneráveis ao calor. E, se não forem educadas a beber água constantemente, elas podem não se hidratar adequadamente. O número de pessoas que procuram atendimento médico para cálculos renais aumenta à medida que as temperaturas médias diárias aumentam”, explica a nefrologista.
Cálculo renal em crianças: problema a longo prazo
Quanto mais cedo uma pessoa desenvolver cálculos renais, mais tempo ela terá para desenvolver uma forma mais grave da doença e problemas de saúde de longo prazo associados a ela, conforme explica Caroline.
“Algumas das consequências incluem perda da função renal, diminuição da densidade mineral óssea que pode levar a fraturas e maior risco de doença cardíaca na idade adulta. As crianças que desenvolvem uma pedra têm cerca de 50% de chance de desenvolver outra dentro de cinco a sete anos, de acordo com a National Kidney Foundation”, explica a médica.
Cada pedra que passa pelo trato urinário aumenta o risco de desenvolver uma estenose ureteral, que é o estreitamento do tubo que drena a urina dos rins para a bexiga.
“Quando isso acontece, as crianças podem precisar passar por uma cirurgia invasiva para corrigi-lo. A tendência também é preocupante porque há evidências limitadas sobre a melhor forma de tratar crianças com cálculos renais”, acrescenta.
Sintomas de pedras nos rins
Os sintomas de cálculo renal incluem: dores agudas nas costas, abdome inferior e virilha; sangue rosa, marrom ou vermelho na urina; uma necessidade constante de urinar; urina turva; irritabilidade, especialmente em crianças mais novas.
Algumas crianças podem não apresentar nenhum sintoma. No entanto, os sintomas às vezes podem ser “mais inespecíficos” em crianças, principalmente nas mais jovens, então elas podem reclamar de dores de estômago, em vez de dores nas costas ou náuseas, por exemplo.
Como ajudar seu filho a evitar pedras nos rins
A nefrologista explica que é necessário que a criança beba muita água, especialmente durante os meses mais quentes.
“Não tem certeza se está bebendo o suficiente? Certifique-se de que sua urina tenha uma cor clara. Se for mais escura, hidrate mais. Hábitos alimentares saudáveis são recomendados, com a ingestão de adequada de líquidos por dia com recomendações a depender da idade. De 7 a 12 meses, a ingestão fica entre 800 ml e 1 litro, de um a três anos 1,3l, de quatro a oito anos 1,7l, de nove a 13 anos de 2,1l a 2,4l e de 14 a 18 anos a consumo de água é o mesmo de um adulto, podendo calcular com a fórmula de 35ml a cada quilograma corporal. Dê preferência à água e aos sucos naturais – e não consumir sucos artificiais ou refrigerantes; usar pouco sal no preparo dos alimentos e evitar os que já são salgados; preferir temperos naturais para dar sabor à comida (alho, cebola, salsinha, cebolinha, coentro, limão ou outros de sua preferência) e evitar embutidos”, explica a nefrologista.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, é recomendado, sim, consumir de 4 a 5 porções de leite ou seus derivados. “O corpo humano necessita de uma ingestão diária de 1g de cálcio. Cada copo de leite (200 ml) tem aproximadamente 200 mg de cálcio; então, para suprir a necessidade diária, são necessários 5 copos de leite por dia. Você pode substituir o leite por derivados como queijo branco com pouco sal, ricota, iogurtes e coalhadas”, conta a médica.
“Também é necessário evitar tomar suplementos vitamínicos sem a orientação de um médico. O excesso de algumas vitaminas (C e D) pode levar a formação de cálculos. Portanto, não use sem a orientação de um médico. E consulte sempre um nefrologista para investigar problemas renais”, finaliza.
FONTE: HOMEWORK