Divisão Sênior + diversidade Soka = menos diferenças, mais solidariedade

ROTANEWS176 13/10/2023 08:45                                                                                                                        MATÉRIA DA DIVISÃO SÊNIOR                                                                                                                                  Por Divisão Sênior

Reprodução/Foto-RN176 Foto de Banner de ilustração da matéria

 

Como você percebe que a diversidade dos seres, das cores, das formas, dos sons, dos sabores, dos cheiros contidos neste universo impacta sua existência diariamente? De que forma sua “vida”, e a diversidade existente e contida nela, particular e única neste mundo, afeta e provoca reações em todos ao seu redor?

Aparentemente, são duas questões “simples” para uma roda de conversa entre amigos; no entanto, podem gerar respostas na mesma diversidade que o tema escolhido pela Divisão Sênior para estudar este mês.

Abrange o princípio de “diferentes em corpo, unos em mente” (itai doshin), apresentado pelo Budismo de Nichiren Daishonin e amplamente difundido e exercitado diariamente pelos praticantes da Soka Gakkai Internacional (SGI) em todo o mundo. Além disso, engloba o princípio de prezar e zelar pela própria vida, reconhecendo o “mundo dos budas” inerente às outras pessoas “diferentes de você mesmo/mesma” em vários aspectos: nacionalidade, gênero, idade, escolaridade, ocupação na sociedade, doutrina religiosa, cor da pele, cor dos olhos, se possui ou não cabelos longos ou curtos, orientação sexual, pessoas com deficiência, dentre outros aspectos que caracterizam a própria diversidade humana que, por natureza, também é diversa e diferente dentro do universo. É, ao mesmo tempo, “integrado, adaptado e interdependente dessa diversidade”, pois o ser humano não conseguiria viver sem essa relação de “unicidade da vida e seu ambiente” (princípio de esho-funi, exposto no budismo propagado pela SGI).

Desde o século 13, o buda Nichiren Daishonin ensina sobre essa diversidade ao refutar outros sutras e ensinamentos budistas anteriores, afirmando e comprovando que o Sutra do Lótus é o único ensinamento essencial capaz de iluminar e salvar as pessoas — inclusive as mulheres, haja vista os ensinamentos que não reconheciam a iluminação delas — da escuridão fundamental, ou seja, quando o ser humano é guiado pelos maus caminhos, desprezando e até subjugando outros seres humanos, gerando sofrimentos para a própria vida e para aqueles ao redor, nos Últimos Dias da Lei, ou dias atuais.

A força da cultura Soka

Mais de setecentos anos depois da existência do buda Nichiren Daishonin, a Soka Gakkai surge para divulgar e promover, de forma concreta, esse movimento de respeito à dignidade da vida, despertando a criação de “valores humanos” em todos os cantos do planeta, reconhecidamente sob a liderança dos Três Mestres: Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda.

Na fundação da Soka Gakkai, em 18 de novembro de 1930, o presidente fundador, Tsunesaburo Makiguchi, e seu discípulo e posterior segundo presidente, Josei Toda, ambos educadores, nomearam inicialmente a organização de Soka Kyoiku Gakkai [Sociedade Educacional de Criação de Valor]. “A educação é a força básica que constrói o futuro de cem ou duzentos anos. Esta é a nossa imutável crença e convicção”.1

A responsabilidade por expandir e dialogar com mais de 1.600 personalidades mundiais coube ao atual presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda. Por meio desses diálogos, estabeleceu laços de amizade e apresentou a visão budista da diversidade da vida e do universo, ao mesmo tempo em que os praticantes da SGI se desenvolviam nas sociedades locais, colaborando e contribuindo para o exercício do humanismo, mesmo enfrentando dramas e desafios individuais. Muitas personalidades mundiais reconhecem a influência do Dr. Daisaku Ikeda, chamando-o de “mestre”, apesar de não praticarem este budismo. São mais de 562 títulos de cidadania e mais de 400 títulos acadêmicos por todo o mundo.2

Os direitos humanos e a “Universidade Mandela”

Dentre essas personalidades, é fascinante observar a forma como Daisaku Ikeda, Austregésilo de Athayde e Nelson Mandela se dedicam aos direitos humanos. Cada qual começou com desafios únicos: um em decorrência da guerra mundial, outro pela opressão da ditadura militar brasileira e outro pela luta contra o apartheid. Eles puseram esses ideais em prática na própria vida em prol dos direitos humanos da humanidade. Pode-se dizer que se trata de uma união de pensadores diversos com o propósito de enriquecer a vida das pessoas, concentrando-se especialmen-te na educação. O foco deles é a geração de jovens sonhadores para levar avante esse objetivo.

No livro Diálogo — Direitos Humanos no Século 21, Austregésilo de Athayde fala sobre a sua admiração por Ikeda e Mandela.

A construção do mundo moderno está sendo feita com personalidades mais expressivas como Nelson Mandela e Daisaku Ikeda. Todas as suas lições, ideias e pensamentos construtivos serão apontados, na continuidade do tempo, como forças determinantes do advento do dia em que se possa proclamar que todos os homens são iguais e livres tal como nasceram.3

A “Universidade Mandela”, como o próprio Nelson Mandela denominou a prisão em que esteve por longos anos, representou para ele um período de muito estudo e enriquecimento espiritual, e ainda fez com que os outros presos compartilhassem seus conhecimentos. Assim como Gandhi que, mesmo aprisionado, trocava correspondências com o grande poeta Tagore.

Em um trecho, Daisaku Ikeda enfatiza a importância da educação e como deve ser nossa convicção:

A educação é o meio para oferecer aos homens a mais perfeita formação como seres humanos. Podemos dizer que sua natureza real se encontra na luta contra o poder e o autoritarismo que tentam desumanizar os seres humanos.4

Com isso, aprendemos que, independentemente das diferenças, podemos transformar o local em que estamos em fonte de crescimento sem perdermos de vista nosso ideal: promover o movimento pelo kosen-rufu e a prática do shakubuku por meio de diálogos sinceros e constantes, mesmo “diferentes em corpo, unos em mente”, de respeito e reverência à outra vida diante de si. E com a união da diversidade cultural, podemos criar uma sociedade empoderada, que porá em prática o objetivo da construção de uma sociedade mais justa e baseada nos direitos humanos.

A interação do Mestre com o tema diversidade

Desde 1983, anualmente, a cada dia 26 de janeiro, data da fundação da SGI, o presidente Ikeda apresenta e envia para a Organização das Nações Unidas (ONU) sua proposta de paz, composta por fundamentos, argumentos e ações práticas para implementações, com sugestões visando superar os desafios atuais da humanidade. Por exemplo, na Proposta de Paz de 2014, intitulada Criação de Valores Humanos: A Construção de um Mundo Solidário, Capaz de se Recuperar de Tantas Aflições,5 e em outros documentos, o tema diversidade também é abordado.

Na obra Nova Revolução Humana, volume 30, parte 2, Ikeda sensei fala constantemente sobre a diversidade de uma ótica realista no capítulo “Brado da Vitória”:

Outra denominação para o buda é “herói do mundo”. Porque ele é uma pessoa que conduz corajosamente as pessoas do povo neste mundo. Por isso, nós, que somos discípulos do buda Nichiren Daishonin, acima de tudo, temos de ser líderes fortes que conquistam a confiança em meio ao mar revolto da realidade da sociedade. Outro nome para o buda é “tolerância” (…) Às vezes, acontece de o ser humano ser influenciado pelos sentimentos e acabar magoando os outros devido à maneira de falar sem cuidado. No entanto, no mundo da prática da fé, jamais pode acontecer de se levar os companheiros a abandonar a organização por palavras e ações descuidadas ou que machuquem.6

De tudo o que foi exposto nesta matéria, pode-se concluir que o mais importante é a luta diária de cada um de nós em sintonizar-se com a “mesma mente do mestre” para assimilar atitudes, comportamentos e ações condizentes com a diversidade existente neste universo por meio da prática da Lei Mística.

Notas:

  1. ATHAYDE, Austregésilo de; IKEDA, Daisaku. Diálogo — Direitos Humanos no Século 21. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2018. p. 60.
  2. Cf. https://www.brasilseikyo.com.br/home/bs-digital/edicao/1/artigo/titulos-academicos-concedidos-ao-presidente-ikeda-atingem-a-marca-de-400/999560477 e https://www.brasilseikyo.com.br/home/bs-digital/edicao/1/artigo/especial-sobre-os-titulos-academicos-honorarios-dos-cinco-continentes-concedidos-ao-dr-ikeda/999560502.
  3. ATHAYDE, Austregésilo de; IKEDA, Daisaku. Diálogo — Direitos Humanos no Século 21. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2018. p. 56.
  4. Ibidem, p. 60.
  5. Terceira Civilização, ed. 549, maio 2014.
  6. IKEDA, Daisaku. Brado da Vitória. Nova Revolução Humana. v. 30-II. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2020.

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Reflexão sobre a matéria

Mário Marcio Leite da Silva

Vice-coordenador da DS da BSGI

Somos mais de 8 bilhões de pessoas atualmente no mundo. E acredito que não seja necessário dizer que cada um é um indivíduo com seus dramas, suas emoções, sua natureza e singularidade. Nós somos humanos e extremamente diversos. A diversidade é uma característica fundamental da humanidade.

Pensando nisso, gostaria de fazer uma reflexão com base nas orientações de Ikeda sensei extraídas do livro Coragem,1 que dizem:

Observando a paisagem, recordei-me de que Nichiren Daishonin, em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, declara que a cerejeira, a ameixeira, o pessegueiro e o damasqueiro, cada qual incorpora a verdade última da maneira como é, sem passar por nenhuma mudança.2 Esse ensinamento nos fornece um modelo básico da maneira como deveríamos viver nossa vida. A cerejeira floresce como cerejeira, para cumprir o papel que é exclusivamente dela. O mesmo vale para as ameixeiras, os pessegueiros e os damasqueiros. Deveríamos fazer o mesmo. Cada um de nós possui uma personalidade única. Temos o caráter e a natureza distintos e uma vida nobre e responsável. (…) Está bem ser quem você é. Você é respeitável do seu jeito. Fingir ser quem você não é ou exibir ares de superioridade, na verdade, apenas diminui e o enfraquece. Há, porém, uma diferença entre “ser quem você é” e “permanecer como está”. Se você se contenta em permanecer como está, nunca vai se desenvolver.

Essas orientações realmente nos fazem repensar a importância e o valor de cada vida humana. Ikeda sensei abre nossos olhos com a visão iluminada de Nichiren Daishonin, fazendo-nos compreender que cada pessoa possui sua própria natureza, seu modo de ser e de agir. E isso precisa ser respeitado e dignificado. Cada qual com sua singularidade é capaz de buscar sua melhor versão, ou seja, seu estado de buda único e especial.

Por essa razão, não é necessário que as pessoas adotem o mesmo modelo ou que sigam a minha visão. É isso que torna esta filosofia budista tão extraordinária, a qual jamais separa, discrimina ou menospreza qualquer pessoa. Aprendemos a jamais desprezar o outro, mas sim a valorizar e respeitar a diversidade humana.

Vamos juntos, com o mesmo coração benevolente do Mestre, unir nossas forças, de mãos dadas, na construção de uma cultura que valorize a vida e acredite na convivência harmoniosa entre as diferenças.

Notas:

  1. IKEDA, Daisaku. Coragem. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 163 e 184.
  2. Cf. The Record of the Orally Transmitted Teachings[Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente]. Tradução: Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, 2004. p. 200.

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DS de comprovação

Thiago de Oliveira Thobias

Sol da esperança

Durante a minha infância e início da adolescência, enfrentei muitos conflitos existenciais. Eu me questionava sobre o motivo de ter nascido em uma família preta, pobre e periférica. Não compreendia a razão pela qual morávamos em um conjunto habitacional, dominado pelo tráfico de drogas e pela violência. Além disso, demorei a entender por que a maioria das famílias era de evangélicos, espíritas ou de religiões de matriz africana e somente a minha família e mais algumas eram de budistas.

Reprodução/Foto-RN176 À esq., Thiago, e, à dir., com a esposa Tatiana e os filhos Lucas e Nicolas

Com o passar do tempo, também fui vivenciando as primeiras situações de racismo, em que as pessoas questionavam minha beleza, minha capacidade intelectual, nível cultural e possibilidades de um futuro promissor, pelo simples fato de eu ser negro. Sem contar as ofensas, opressões e exclusões.

Sempre fui muito introspectivo, reservado e observador. Costumava manter-me na minha, era de poucas palavras e quase nunca sorria. Nas atividades da Gakkai ou nos eventos sociais, sempre procurava ficar em um lugar onde ninguém me notasse, quando não dava um jeito de permanecer em casa nem de comparecer a tais reuniões.

Mas… minha avó materna não sabia ler nem escrever. Como aprendi muito cedo, por volta de 4 ou 5 anos, minha avó me chamava para fazer gongyo e daimoku com ela ao chegar do trabalho e, em seguida, pedia para eu ler as orientações de Ikeda sensei e do Gosho. Não entendia por que ela ficava tão emocionada ao ouvir aquelas palavras. Conforme fui crescendo, mesmo após o falecimento dela, criei o hábito de orar e desenvolvi a paixão pelo estudo do budismo. Ao longo da minha juventude, também me dediquei a ler os diálogos de Ikeda sensei com diversas personalidades mundiais, o que foi ampliando minha visão de mundo e da vida além da minha realidade imediata. Com isso, vários questionamentos que eu tinha foram sendo respondidos.

Minha autoestima aumentou cada vez mais quando compreendi que sou um bodisatva da terra, possuidor de ilimitado potencial da vida do Buda em meu interior. Percebi que havia nascido, por vontade própria, para cumprir uma missão que somente eu poderia realizar. Aquele sentimento de que “sou diferente” e “esse não é meu lugar” foi sendo substituído por “sou uma pessoa única e devo criar conexões com as pessoas”. Isso se deve ao fato de que todos possuem, dentro de si, a natureza e o potencial de buda. E é enfrentando os desafios da diversidade que enriquecemos nossa existência.

Hoje, após viver uma juventude de desafios e de construção, e ser treinado por Ikeda sensei e pelos veteranos, tenho a oportunidade de atuar no Grupo Alvorada com uma perspectiva da vida renovada, para corresponder à seguinte expectativa do Mestre:

Como membros que dignificam o significativo nome ‘alvorada’, façam subir constantemente o sol da esperança em sua vida por mais que esteja encoberto pelas trevas de preocupações e de dificuldades. (…) Vençam a fraqueza alojada dentro de si mesmos e superem todas as formas de obstáculos e de maldades.1

Thiago de Oliveira Thobias, responsável pelo Distrito 6 de Novembro, CGERJ

Nota:

  1. Brasil Seikyo, ed. 1.695, 12 abr. 2003, p. A8.

Foto: Arquivo pessoal

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO