ROTANEWS176 13/10/2023 09:05 ESPECIAL DIRETO DA REDAÇÃO DO JBS
Com a chama da determinação de Ikeda sensei em seu coração, membros da BSGI expandem o movimento pelo kosen-rufu e a criação de “valores humanos”.
Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda incentiva participantes da reunião de fundação do Distrito Brasil (20 out. 1960). Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI Fotos: Seikyo Press
Durante a sua primeira viagem ao exterior, em outubro de 1960, depois de passar por Havaí, São Francisco e Seattle, Estados Unidos, o jovem Daisaku Ikeda, recém-empossado terceiro presidente da Soka Gakkai, no Japão, enfrentava precárias condições de saúde. Mesmo assim, seu espírito de encontrar e incentivar cada membro superava qualquer circunstância. Dessa maneira, deu prosseguimento à jornada, passando por várias cidades, apesar de ter febre alta todos os dias, principalmente ao entardecer.
Chegando a Nova York, as comunicações com o Brasil, seu próximo destino, não haviam sido efetivas, o que causava preocupação aos integrantes da comitiva que o acompanhava.
Nessa ocasião, Ikeda sensei retirou do bolso do paletó uma foto do seu venerado mestre, Josei Toda. Olhando-a fixamente, lembrou-se de um episódio vivido com ele no ano 1957, cinco meses antes do falecimento dele. A saúde de Toda sensei inspirava cuidados. Uma passagem do romance Nova Revolução Humana retrata aquele momento:
Shin’ichi dirigiu-se até a sala onde Toda repousava deitado num sofá, na Sede Central da Soka Gakkai. Ajoelhou-se diante do mestre, abaixou a cabeça e suplicou:
— Sensei, por favor, cancele sua viagem a Hiroshima. Eu lhe imploro! O senhor precisa descansar!
No entanto, Toda respondeu resolutamente:
— Como eu poderia fazer isso? Tenho de ir. Como um emissário do Buda não posso desistir de algo que já decidi fazer. Eu irei ainda que venha a morrer! Não percebe que esse é o real significado da fé, Shin’ichi? Por que me pede isso?
A voz intrépida de seu mestre ainda ressoava claramente em seus ouvidos.
Aquele brado sintetizava a verdadeira postura de um líder do kosen-rufu, a conduta que Toda lhe ensinou com a própria vida.1
Josei Toda havia ensinado a Daisaku Ikeda a levantar-se com bravura para desbravar o kosen-rufu com a própria vida. Dessa forma, quando Ikeda sensei foi abordado por um membro da comitiva que transmitiu a preocupação e o desejo de todos de protegê-lo e poupá-lo da viagem ao Brasil, ele disse enfaticamente:
— Sou-lhe muito grato pela preocupação, Sr. Jujo — disse Shin’ichi com os olhos ardentes de determinação. — Contudo, eu irei. Existem companheiros que estão me aguardando. Jamais cancelaria a viagem sabendo que eles estão me esperando. O senhor sabe perfeitamente que um dos propósitos principais desta viagem ao exterior é a visita ao Brasil. Chegamos até aqui exatamente para isso. Não posso desistir no meio do caminho. Houve alguma vez que o presidente Toda recuou em meio a uma luta? Eu sou discípulo do presidente Toda! Eu vou! Vou sem falta, custe o que custar! Se tiver de tombar, então tombarei em combate! Que desventura poderia haver nisso?!2
Desbravadores
Às vésperas da vinda ao Brasil, a comitiva que acompanhava o presidente Ikeda ainda não possuía nenhuma informação do que encontraria. Várias cartas foram enviadas ao país, mas se soube posteriormente que apenas uma havia chegado às mãos de um dos membros brasileiros. Foi justamente essa carta que informou aos companheiros do Brasil sobre a chegada do Mestre.
No avião, a caminho das terras brasileiras, o presidente Ikeda continuava a empenhar suas energias para se manter firme. E foi ali, naquelas condições, que revelou a um membro da comitiva seu desejo de fundar um distrito no Brasil:
— Sim, o primeiro distrito a ser estabelecido fora do Japão. Sei que o número de famílias ainda é pequeno. Entretanto, a história, a cultura e o modo de ser dos sul-americanos são muito diferentes dos norte-americanos. É preciso considerar a América do Sul de forma distinta e separada. O Brasil será o alicerce de nossas atividades nesta região. A fundação do distrito elevará também a consciên-cia dos companheiros do Brasil e, acima de tudo, fortalecerá a união entre eles.3
Enfim, o grande dia
O presidente Ikeda desembarcou no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por volta da 1 hora da madrugada do dia 19 de outubro de 1960. Esse dia foi denominado, mais tarde, como Dia da BSGI, e é considerado como a data de fundação da organização.
Reprodução/Foto-RN176 Atividades realizadas pela BSGI: Convenção Comemorativa dos Trinta Anos da Quarta Visita do Presidente Ikeda ao Brasil – Foto: Seikyo Press /BS
Entoando a canção Ifu Dodo no Uta, os membros presentes seguravam uma faixa de boas-vindas. Muitos haviam aprendido a canção somente alguns dias antes, mas ela encheu o coração dos membros da comitiva de novo ânimo após a cansativa viagem. A maioria dos componentes do grupo de recepção era formada por homens, grande parte de imigrantes japoneses que trabalhavam na lavoura. Com o rosto queimado pelo sol e com os olhos cheios de lágrimas, cantavam com ardor a canção que haviam acabado de aprender. Ikeda sensei relembra:
O dia 19 de outubro de 1960 é uma data particularmente histórica e memorável que jamais poderia esquecer. Foi o dia em que assinalei o primeiro passo no solo brasileiro com a determinação de cumprir unicamente os ideais do meu venerável mestre, Josei Toda. Apesar da curta estada de apenas dois dias, orei e agi resolutamente com o firme propósito de fincar minha alma, meu espírito no solo brasileiro.4
No segundo dia de permanência do presidente Ikeda e comitiva, foi realizada no salão Chá Flora, no bairro da Liberdade, uma reunião de palestra em conjunto com a 1a Convenção da América do Sul. A atividade teve início às 13 horas, um encontro de mestre e discípulos repleto de intensa emoção e decisão.
No diálogo com os participantes, uma senhora relatou as preocupações em relação às suas desafiadoras circunstâncias. Em resposta, Ikeda sensei a incentivou:
Todas as pessoas são desbravadoras que atravessam as fronteiras desconhecidas da vida. Dessa forma, cabe apenas a cada um de nós cultivar e desenvolver a própria vida. É preciso empunhar a enxada da esperança, plantar as sementes da felicidade e perseverar com tenacidade na prática da fé. As gotas de suor derramadas em prol do kosen-rufu vão se tornar gemas de boa sorte que haverão de dignificar a sua vida para sempre. Por favor, torne-se a pessoa mais feliz do Brasil!5
Após responder às perguntas, Ikeda sensei declarou: “Tenho o prazer de anunciar neste momento a fundação do Distrito Brasil”. Uma forte salva de palmas demonstrou a felicidade dos participantes.
Naquele momento, o presidente Ikeda manifestou seu sentimento, palavras que servem até hoje como direcionamento para a atuação de todos os membros da BSGI:
— O Brasil tornou-se agora, fora do Japão, o país pioneiro do movimento pelo kosen-rufu mundial. Aqui existe um potencial ilimitado. Como pioneiros da paz e da felicidade, solicito aos senhores que abram o caminho do kosen-rufu do Brasil em meu lugar. Por favor, façam o melhor que puderem. Conto com os senhores!6
Passados 63 anos, a BSGI se desenvolveu amplamente graças à luta incansável dos pioneiros e seguindo o caminho pavimentado pelo próprio presidente Ikeda, sobretudo por meio de suas quatro visitas ao Brasil: em 1960, 1966, 1984 e 1993. Ultrapassando sucessivas ondas de dificuldades, década após década, seus integrantes conquistaram a confiança e a admiração da sociedade por meio da comprovação, na própria vida, dos princípios humanísticos do Budismo Nichiren e dos direcionamentos de Ikeda sensei.
Entre essas adversidades, as consequências da pandemia da Covid-19 constituem um enorme desafio que está sendo ultrapassado com a força da recitação do daimoku, da determinação, da união e do espírito de procura dos discípulos Ikeda brasileiros (veja abaixo com trecho do diálogo dos líderes da Soka Gakkai sobre os esforços dos membros da BSGI publicado no jornal Seikyo Shimbun).
Um dos marcos recentes das ações da organização foi a realização das atividades comemorativas dos trinta anos da quarta visita do presidente Ikeda ao Brasil, ocorrida em 1993. Com a presença de uma comitiva da SGI, liderada pelo presidente da Soka Gakkai, Minoru Harada, os integrantes da BSGI estabeleceram uma nova fase de avanço, impulsionada por vigorosos esforços e por dinâmicas atividades, como as reuniões nacionais de líderes, a Academia Índigo Juventude Soka do Brasil, a inauguração de novos centros culturais e sedes regionais, o movimento de cem jovens por distrito e principalmente o desenvolvimento das organizações de base, esteio de todo o movimento pelo kosen-rufu.
Reprodução/Foto-RN176 Atividades realizadas pela BSGI: Academia Índigo Juventude Soka do Brasil – Foto: Seikyo Press /BS
Visando o ano 2030, em que se comemorarão o centenário de fundação da Soka Gakkai e os seten-ta anos da BSGI, em perfeita união, os membros de todo o país buscam corresponder sinceramente à expectativa e à confiança do presidente Ikeda, a cada dia tornando a organização o verdadeiro “Modelo do Kosen-rufu Mundial”, como denominado pelo Mestre.
Uma nova correnteza do kosen-rufu mundial a partir do “Brasil Monarca”
A seguir, acompanhe trechos de diálogo com o presidente da Soka Gakkai, Minoru Harada, e com a coordenadora das Mulheres da SGI, Yumiko Kasanuki, sobre as vitórias alcançadas recentemente pelos membros da BSGI. O diálogo faz parte de uma série de entrevistas com líderes da Soka Gakkai publicada no jornal Seikyo Shimbun, no dia 13 de julho deste ano.
Kasanuki: No Brasil, que visitei recentemente, o Instituto Soka Amazônia se tornou a primeira organização privada na região amazônica a fechar um acordo de parceria com a Carta da Terra Internacional. O movimento Soka pela paz, cultura e educação está se espalhando por todo o mundo.
Harada: Coincidentemente, em 2025, a conferência da ONU sobre contramedidas às mudanças climáticas, COP30, será realizada pela primeira vez na região amazônica do Brasil. O papel do Instituto Soka Amazônia está se tornando ainda mais importante.
Kasanuki: O Brasil foi um dos países mais atingidos pela crise da pandemia do coronavírus. Apesar disso, nossos companheiros da BSGI têm sido pacientes, incentivando uns aos outros. Uma força motriz por trás disso foi a versão eletrônica do jornal Brasil Seikyo. Quando a entrega de porta a porta da versão física foi forçada a ser interrompida, a versão eletrônica foi disponibilizada gratuitamente. Usando as matérias que chegam aos celulares como alimento para a prática da fé, os membros ultrapassaram as dificuldades a cada dia com base no daimoku.
Harada: Fiquei impressionado com as palavras de um líder: “A organização foi protegida ao decidirmos introduzir a versão eletrônica antecipadamente”. O Japão agora está se esforçando para promover a versão eletrônica, e eu consegui compreender melhor a importância disso quando estive em terras brasileiras.
Kasanuki: A Convenção Comemorativa do 30o Aniversário da Quarta Visita do Presidente Ikeda ao Brasil foi transmitida para cerca de 9,8 mil locais em todo o Brasil, com mais de 20 mil pessoas participando. O aspecto delas cantando a canção Saudação a Sensei, música favorita da BSGI, enquanto agitavam lenços vermelhos, amarelos e azuis foi profundamente emocionante.
Harada: O Brasil foi o país em que Ikeda sensei fundou o primeiro distrito no exterior. Uma convenção espetacular na qual tive a certeza de que uma nova correnteza do kosen-rufu mundial emergirá do Brasil, “Monarca do Mundo”, que se fortaleceu ainda mais após superar o desafio de mais de três anos de pandemia com base na unicidade de mestre e discípulo, na “união de diferentes em corpo, unos em mente” e na prática da fé de transformação de veneno em remédio.
No topo: Presidente Ikeda incentiva participantes da reunião de fundação do Distrito Brasil (20 out. 1960)
Fotos: Seikyo Press /BS
Fontes:
IKEDA, Daisaku. Desbravadores. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 219-243, 2019.
Brasil Seikyo, ed. 2.534, 3 out. 2020, p. 6-9.
Notas:
- IKEDA, Daisaku. Desbravadores. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 214, 2019.
- Ibidem, p. 216.
- Ibidem, p. 221.
- Brasil Seikyo, ed. 1.435, 25 out. 1997, p. 1.
- IKEDA, Daisaku. Desbravadores. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 242, 2019.
- Ibidem, p. 243. FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO