Cultivar a eterna felicidade

ROTANEWS4176 27/10/2023 11:15                                                                                                                                REDE DA FELICIDADE                                                                                                                                              Por Dr. Daisaku Ikeda

Incentivos extraídos do romance Nova Revolução Humana.

 

Reprodução/Foto-RN176 Ilustração retrata Shin’ichi Yamamoto incentivando os membros de Hong Kong – Ilustração: Kenichiro Uchida

Estes trechos do romance Nova Revolução Humana, de autoria do presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, retratam um diálogo durante uma reunião de palestra com membros da organização de Hong Kong, em 1961, sobre o significado da vida e da morte.

[Uma integrante da Divisão Feminina perguntou sobre a visão da vida e da morte no budismo.]

— É uma questão de suprema importância. Desvendar os mistérios da morte é fundamental para todas as pessoas e religiões. Como é um assunto bastante extenso, irei expor só pontos essenciais. (…) As circunstâncias em que nascemos e nossa aparência são muito diversificadas. A única explicação é que todos os seres humanos são portadores de um destino inato na vida. Se um deus onipotente os tivesse criado, então todos seriam iguais. Se a vida fosse restrita a uma única existência, quem nasceu sob a estrela do infortúnio não conseguiria evitar o ódio pelos pais, e os culpariam, assim como não teriam ânimo para viver. E outros, nascidos em boas condições, chegariam à conclusão de que deveriam simplesmente aproveitar a vida e seguiriam por um caminho inconsequente e superficial. Se limitarmos a tentativa de investigar a fundo a origem desses destinos a uma única existência, isso não nos levará a lugar algum. A única maneira de explicar esta questão é com a visão de que a vida é eterna, com infindáveis ciclos de nascimento e morte.

Shin’ichi olhou o rosto dos presentes. Eles estavam sérios, ouvindo-o atentamente.

— Baseado na lei de causa e efeito que permeia as três existências — passado, presente e futuro —, o budismo revela a causa fundamental do carma e indica o caminho da transformação do destino. E como o carma é formado? Ele não foi criado por outra pessoa; nós próprios o criamos em existências passadas. Embora seja difícil de entender, o carma é formado pelo acúmulo de palavras, pensamentos e comportamento. Por exemplo, enganar pessoas e torná-las infelizes ou tirar-lhes a vida são causas que formam o carma negativo. A causa que forma o mais negativo dos carmas é caluniar a Lei sob a influência de falsas religiões, porque isso constitui uma oposição à Lei fundamental da vida. Com relação à questão da vida após a morte, a resposta é que a vida se funde com o Universo. O [segundo] presidente [da Soka Gakkai, Josei] Toda comparou esse estado com o ato de dormir no final do dia. Despertar do sono para um novo dia equivale à existência futura. A vida é, portanto, uma sucessão desses atos. O importante aqui é que o carma não desaparece com a morte e continuará pela próxima existência. Se morrer em meio a um extremo sofrimento e infortúnio, na existência seguinte enfrentará as mesmas dificuldades. Se morrer odiando os outros, nascerá num ambiente em que terá de viver detestando as pessoas. Não há como fugir do destino mesmo com a morte. Não é possível libertar-se dos sofrimentos mesmo que se cometa suicídio. Por outro lado, se estabelecer um estado de felicidade e encerrar a vida com plena satisfação, nascerá num bom lugar na próxima existência e poderá novamente seguir pelo curso da felicidade. (…)

Shin’ichi prosseguiu:

— Existe, então, alguma forma de transformar o destino e conquistar a verdadeira felicidade? A resposta é sim. E quem elucidou isso para nós, que vivemos nesta era dos Últimos Dias da Lei, foi o buda Nichiren Daishonin. Essa forma é orar daimoku ao Gohonzon e propagar a Lei Mística. Esse é o modo de viver praticando o supremo bem, que está embasado na Lei da vida. É também o único caminho para estabelecer um estado repleto de satisfação e de eterna felicidade. (…) Algumas pessoas alegam que os membros da Gakkai não deveriam perder a vida em aciden-tes ou morrer devido à doença. Nesses casos, o budismo revela com muita clareza que é um ato de amenização do efeito cármico desde que perseveraram na prática da fé. Alguém que iria sofrer repetindo inúmeros ciclos de nascimento e morte para então diminuir aos poucos o peso do seu carma, consegue transformá-lo totalmente e assim alcançar a iluminação. Uma das provas dessa verdade é o aspecto do falecido. Com base nos sutras, Nichiren Daishonin descreve-o dizendo, por exemplo, que o corpo fica amolecido. O presidente Toda faleceu com sorriso nos lábios; era realmente um aspecto de iluminação. Eu já presenciei até agora o falecimento de muitas pessoas que se dedicaram até o último momento em prol do kosen-rufu como verdadeiros mensageiros do buda, independentemente das circunstâncias em que tenha ocorrido a morte, e sei que jamais haverão de sentir os sofrimentos do inferno de profunda angústia e medo. O sutra elucida que mil budas esten-dem as mãos para acolher o falecido em seus braços. A profunda convicção na fé na hora da morte é a própria iluminação. Portanto, uma pessoa assídua na prática da fé é um “buda em vida”, e após o falecimento é um “buda em morte”. Como prova disso, infalivelmente os familiares dos falecidos também se tornam felizes. Por mais que sofram deparando com infortúnios, jamais deverão abandonar a prática. Confrontar obstáculos é uma chance para transformar o destino. Do ponto de vista da eternidade da vida, os sofrimentos nesta existência não passam de uma fração de segundo. E é com isso que se abre a eterna felicidade no futuro.

Shin’ichi continuou:

— Nichiren Daishonin disse: “Estude primeiro sobre a questão da morte para depois estudar outros ensinamentos”.1 Sem a correta compreensão da morte, não é possível pensar “para que morrer” ou “como morrer” dignamente como ser humano. Sendo assim, não se consegue obter também uma resposta para a questão de como viver com dignidade. Tanto a vida como a morte são faces opostas de uma mesma moeda. (…)

Shin’ichi colocou mais entusiasmo em suas palavras e enfatizou:

— Nascemos como seres humanos nesta existência, pudemos conhecer a lei fundamental do grande Universo e temos a oportunidade de nos dedicar em prol do kosen-rufu como membros da Gakkai. (…) Isso é muito mais difícil que acertar inúmeras vezes o primeiro prêmio da loteria. Devido à nossa grande boa sorte e à nobre missão é que tivemos a chance de manifestar a felicidade absoluta em nossa vida. No entanto, (…) há quem abandone a prática budista sem compreender a grandiosidade do fato de ter nascido como ser humano e praticar o budismo. Isso é lamentável. Para nós, esta existência é uma rara oportunidade de atingirmos o estado de buda. Jamais desperdicem isso. Apesar de falarmos em vida eterna, tudo se determina no presente. Tanto o passado como o futuro estão contidos neste momento. Por favor, vivam cada instante e cada dia com alegria e gratidão, empenhando-se ao máximo em prol do kosen-rufu.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

No topo: ilustração retrata Shin’ichi Yamamoto incentivando os membros de Hong Kong


Ilustração:
 Kenichiro Uchida
Fonte:

IKEDA, Daisaku. Retorno do Budismo para o Oeste. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 3, p. 47-53, 2018

Nota:

  1. The Writings of Nichiren Daishonin[Os Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, v. II, p. 759, 2006.

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO