Andropausa: especialistas explicam termo importante para a saúde dos homens

ROTANEWS176 28/12/2023 03:55                                                                                                                                  Por Isabella Almeida

Na última reportagem da série, o tema é a saúde sexual dos homens. Segundo médicos, a expressão correta a ser utilizada para essa etapa é Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino ou hipogonadismo

 

Reprodução/Foto-RN176 Momento de mudanças expressivas na realidade cotidiana masculina  – (crédito: Freepik)

Apesar da popularidade do termo andropausa, especialistas da saúde reforçam que usar a palavra é errado. Menopausa vem do latim, meno de menstruação, pausa de parada. É a data da última menstruação. O homem não para de produzir hormônios. O que, de fato, existe é DAEM, Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino, ou hipogonadismo masculino, baixa função hormonal. A sintetização de testosterona pelo organismo diminui, nesse caso, em razão do envelhecimento.

Pouco discutida, mas de grande impacto na saúde, a DAEM emerge como um tema relevante na saúde masculina. Caracterizada por uma queda gradual nos níveis de testosterona à medida que os homens envelhecem, a condição pode resultar em uma série de sintomas, incluindo fadiga, alterações de humor, perda de massa muscular e diminuição da libido, além do enfraquecimento ósseo.

Especialistas, profissionais da área e cientistas buscam desenvolver e aplicar abordagens personalizadas para lidar com os desafios que surgem nesse período de transição. Ensaios sobre terapias hormonais e mudanças no estilo de vida ganham destaque.

Uma pesquisa, publicada recentemente na revista Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences e liderada por estudiosos brasileiros, investigou a relação entre o hipogonodismo do desencadeado pelo envelhecimento e sintomas, por meio de uma revisão de literatura de estudos divulgados nos últimos dez anos. Os resultados destacaram a irritabilidade e a falta de ânimo como problemas significativos, impactando a qualidade de vida e as relações interpessoais.

Os autores destacaram a necessidade de entender as complexidades hormonais e as influências psicológicas subjacentes aos sintomas, bem como a busca por possíveis estratégias para amenizá-las. “A compreensão dessa relação é fundamental para fornecer um atendimento adequado aos homens que enfrentam esses desafios”, frisaram, em nota.

Alívio dos obstáculos

O ensaio pontua a terapia de reposição de testosterona como uma opção importante, embora os riscos e benefícios devam ser cuidadosamente avaliados. Os estudiosos ressaltaram que mudanças no estilo de vida, como se exercitar e manter uma boa dieta, são estratégias valiosas para aliviar os sintomas. Eles citam mais uma tática para lidar com os desafios dessa etapa, sobretudo com a irritabilidade e falta de ânimo: o aconselhamento psicológico. A prática ajuda abordar questões e desafios emocionais.

Olhar para o que os homens passam durante a DAEM é um dos caminhos da ciência para avaliar o que ainda é necessário compreender sobre essa etapa. Um estudo, detalhado na revista Korean Journal of Adult Nursing, focou nos desafios e nas experiências de um grupo masculino que vive essa fase.

Para o trabalho, os pesquisadores fizeram entrevistas com um grupo de 10 homens que viviam o hipogonodismo. Os participantes relataram experimentar vários sintomas, como fadiga, diminuição da libido e mudanças de humor, que afetaram negativamente seu bem-estar físico e psicológico. Eles também expressaram falta de conhecimento sobre a situação e seus tratamentos, o que os levou a procurar informações na internet.

O ensaio sublinhou a importância de compreender as experiências e necessidades de homens de meia-idade à medida que enfrentam os desafios do envelhecimento. Os resultados sugerem que os profissionais de saúde devem fornecer mais educação e apoio para esses pacientes e promover hábitos de vida saudáveis para prevenir ou gerenciar os sintomas.

Marcelo Ronsoni, presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), sublinha que os níveis baixos de testosterona estão associados a alterações de humor, incluindo características depressivas. “Há estudos em andamento para tentar avaliar o impacto cognitivo desses pacientes”, ressalta ele.

O especialista reitera o baixo número de pesquisas sobre o tema. “Não temos estudos grandes e elaborados para esse fim especificamente. Mas, sim, há um impacto da testosterona na saúde mental, sobre a qualidade de vida e, principalmente, dados mais específicos sobre o humor, impactado negativamente nesses pacientes.”

Efeitos colaterais

Um ensaio da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), apresentado em novembro, no Congresso Brasileiro de Urologia, revelou a eficácia de uma nova alternativa na reposição de testosterona. Para o trabalho, os cientistas acompanharam 20 homens com hipogonadismo — condição caracterizada pela produção insuficiente de hormônios sexuais, principalmente testosterona nos homens.

A publicação mostrou que o citrato de clomifeno é uma opção eficaz na terapia de reposição de testosterona. Ao longo de seis meses, os participantes experimentaram um aumento significativo nos níveis do hormônio, indicando o potencial do medicamento em lidar com os sintomas associados, como a baixa libido.

Realizado sem tratamento prévio, o estudo avaliou dados como idade, índice de massa corporal (IMC) e perfil hormonal completo. A resposta foi medida por análises laboratoriais e questionários. Os resultados mostraram uma relação positiva entre a eficácia do clomifeno e fatores como os níveis de hormônio luteinizante e estradiol.

Não houve apenas um aumento nos níveis hormonais, mas melhora na qualidade de vida. Com casos do distúrbio aumentando conforme a população envelhece, essas descobertas fornecem uma perspectiva promissora para enfrentar os desafios do envelhecimento androgênico.

Conforme Rubens Pedrenho, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, o tratamento clássico consiste em terapia de reposição de testosterona, realizado normalmente com injeções periódicas ou géis para aplicação diária. “Independentemente da via, essa será uma administração exógena, e uma vez iniciada, será para o resto da vida.”

Pedrenho detalha que essa dinâmica ocorre porque o corpo, com a substância externa, entende que os níveis do hormônio normalizaram. Assim, os testículos que produzem a testosterona natural, compreendem que está tudo bem e cessam a produção. “O que pode acarretar atrofia das células produtoras, e como os testículos sintetizam testosterona e espermatozoides, pode resultar em infertilidade. O citrato de clomifeno entra como opção sem as consequências para os testículos.”

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE