ROTANEWS176 15/10/2024 80h08 Por Marcelo Zurita, editado por Lucas Soares
Desde a antiguidade, os cometas, com suas longas caudas e aparições inesperadas, têm fascinado e intrigado a humanidade.
Reprodução/Foto-RN176 [ Créditos: Michael Jäger, Gerald Rhemann e Dennis Möller ]
Sabe aquele cometa C/2024 S1 ATLAS, descoberto em setembro e que prometia um espetáculo inesquecível no final deste mês? Esquece ele porque esse show foi cancelado! Imagens captadas a partir do Observatório Las Cumbres na África do Sul mostram que o gigante gelado se partiu em dois e pode estar se desintegrando. Com isso, mesmo que um pedaço dele permaneça coeso e resista ao seu mergulho no Sol, sua passagem no fim de outubro será, no máximo, bem mais tímida do que era esperado anteriormente. Mas não fique triste, porque o verdadeiro espetáculo deste mês vem de outro viajante cósmico: o C/2023 A3 Tsuchinshan-ATLAS, cuja segunda temporada deste show começou neste final de semana!
Reprodução/Foto-RN176 [ Núcleo do Cometa C/2024 S1 possivelmente partido em duas partes – Créditos: Rolando Ligustri ]
Desde a antiguidade, os cometas, com suas longas caudas e aparições inesperadas, têm fascinado e intrigado a humanidade. Sem conseguir explicar a natureza desses exóticos objetos celestes, nossos ancestrais atribuíam a aparição de cometas a prenúncios divinos de catástrofes naturais e grandes transformações na Terra. Somente no final do Século XVII que Edmond Halley compreendeu que eles eram corpos celestes orbitando o Sol. Ele calculou a órbita e previu o retorno de um grande cometa no ano de 1758. E quando sua previsão se confirmou, aquele cometa recebeu o nome de Halley.
Mas a boa do final de semana é o C/2023 A3 Tsuchinshan-ATLAS, descoberto em janeiro do ano passado pelos observatórios Tsuchinshan, na China, e ATLAS, na África do Sul. Havia uma grande expectativa de que ele pudesse alcançar um brilho excepcionalmente alto, o que acabou lhe rendendo o apelido de “Cometa do Século”, mas os cometas sempre podem nos surpreender, tanto para o bem, quanto para o mal. E há pouco tempo, um estudo desanimador especulou que ele estaria morrendo e dificilmente chegaria à sua máxima aproximação com o Sol.
Só que ele não apenas resistiu, deu um espetáculo nas madrugadas da primeira semana de outubro, desfilou glorioso pelas lentes do Observatório Solar SOHO e agora se aproxima da sua apoteose, um reaparecimento deslumbrante que promete chamar a atenção dos astrônomos, aficionados e todos aqueles que gostam de um bom espetáculo celeste. O Tsunchinshan-ATLAS não será o Cometa do Século, mas oferece uma raríssima oportunidade de observação de um dos mais belos fenômenos que o Universo pode nos oferecer.
Reprodução/Foto-RN176 [ “Cometa do Século” Tsuchinshan-ATLAS registrado dia 26 de setembro na Bahia – Créditos: Alexsandro Mota ]
Cometas são raros porque não são daqui. Esses objetos compostos de gelo de água, poeira e gases congelados, se formaram há bilhões de anos nas regiões mais afastadas do Sistema Solar: o Cinturão de Kuiper, além da órbita de Netuno, e a Nuvem de Oort, uma região esférica que envolve todo o Sistema Solar. E como o Universo é extremamente dinâmico, algum acidente cósmico, como um impacto ou a aproximação de um corpo massivo, pode lançar alguns desses corpos gelados em direção ao Sol.
Quando um cometa se aproxima do Sol, o calor da nossa estrela começa a vaporizar o gelo da sua superfície, criando uma atmosfera nebulosa ao seu redor, chamada de coma. Os ventos solares “sopram” o material da coma, formando a cauda do cometa, que pode se estender por milhões de quilômetros.
O brilho de um cometa depende de diversos fatores, como seu tamanho, sua distância do Sol, sua composição, a posição da Terra em relação a ele e até mesmo a sua integridade estrutural! Cometas que se fragmentam ao se aproximarem do Sol podem ter seu brilho drasticamente reduzido e até mesmo desaparecer, como foi o caso do cometa ISON em 2013.
Quando os astrônomos perceberam uma redução no brilho do Tsuchinshan-ATLAS em julho, pensaram que ele estivesse se fragmentando ou esgotando seu material volátil, o que levaria a um fim precoce. Mas o cometa surpreendeu! Ele vem brilhando acima das expectativas e demonstrou que a imprevisibilidade é realmente sua característica mais marcante.
Nos últimos dias, o cometa desenvolveu uma longa e brilhante cauda de poeira, visível até mesmo a olho nu. Ele brilhou mais que o planeta Vênus durante seu alinhamento com o Sol, capturado pelo observatório SOHO. Embora não atinja o brilho excepcional esperado inicialmente, o Tsuchinshan-ATLAS ainda oferece uma oportunidade rara de observação. Para quem gosta de contemplar o céu, essa é uma chance única de testemunhar um fenômeno extraordinário e a última vez que veremos esse cometa em nossas vidas!
Reprodução/Foto-RN176 [ Cometa Tsuchinshan-ATLAS passando pelo campo de visão do telescópio LASCO C3, do Observatório Solar SOHO – Créditos: NASA / SOHO / LASCO ]
Para observar o C/2023 A3 Tsuchinshan-ATLAS, procure um local com o horizonte oeste desobstruído e longe das luzes da cidade. Ele estará visível ao anoitecer, na direção da Constelação de Virgem. Usar um aplicativo de astronomia pode ajudar a localizar sua posição exata, e, embora seja visível a olho nu, um binóculo irá realçar os detalhes incríveis deste visitante celeste.
A partir de agora, o cometa deve aparecer a cada dia mais alto no horizonte e permanecer por mais tempo no céu. Entretanto, como ele estará se afastando da Terra, seu brilho também deve reduzir gradualmente noite após noite, portanto, o melhor momento para observar é agora!
Reprodução/Foto-RN176 [ Cometa Tsuchinshan-ATLAS registrado no dia 30 de setembro na Namíbia – Créditos: Gerald Rhemann / Michael Jaeger ]
O C/2023 A3 Tsuchinshan-ATLAS não será o “Cometa do Século” mas certamente deixará sua marca com um espetáculo celeste memorável. Sua cauda longa e surpreendentemente brilhante já tornam sua observação uma experiência única. E graças ao conhecimento acumulado ao longo dos séculos, podemos apreciar “O Show do Cometa Tsuchinshan-ATLAS” com a mesma fascinação dos nossos ancestrais, mas agora com uma compreensão científica muito mais profunda. Cometas não anunciam catástrofes, mas são como mensagens cósmicas que revelam os segredos do Universo de forma grandiosa e deslumbrante.
FONTE: OLHAR DIGITAL