ROTANEWS176 26/03/2025 13:50 Por Leandro Prazeres
Reprodução/Foto-RN176 Supremo aceitou a denúncia contra Bolsonaro e o tornou réu; ex-presidente nega todas as acusaçõesArticle information
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira (26/03), por unanimidade, aceitar a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete aliados.
Com a decisão, realizada em três sessões ao longo de um dia e meio no Supremo, Bolsonaro se torna réu.
Os demais réus são: Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin; almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF; general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; tenente-coronel Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência; general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e o general Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro.
Entre os crimes imputados aos oito réus estão tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Bolsonaro também é acusado de liderar uma organização criminosa.
Embora não negue a existência de uma tentativa de golpe, a defesa do ex-presidente afirma que Bolsonaro não estava envolvido em nenhum ato criminoso.
“Quando se fala de materialidade […] estamos falando do 8 de janeiro que é algo no que o presidente não está envolvido, não esteve envolvido. [Isso] só aparece na denúncia porque nem no relatório da Polícia Federal surgiu”, disse o advogado Celso Vilardi à BBC News Brasil.
No Supremo, durante os 15 minutos que teve para fazer a defesa de seu cliente, Vilardi afirmou algo parecido.
“Eu entendi a gravidade de tudo que aconteceu no 8 de janeiro. Mas não é possível imputar o presidente [Bolsonaro] como líder quando ele não participou, pelo contrário, ele repudiou [os atos]”, disse o advogado.
Assim que o julgamento foi encerrado, Bolsonaro enviou para aliados uma mensagem com 16 pontos sobre seu processo e pedindo para que fosse divulgada.
Na mensagem, o ex-presidente afirma que o processo é uma perseguição para impedi-lo de participar das eleições presidenciais de 2026 e que ele é acusado de um crime que não cometeu, por meio de um processo sem provas.
“Conversei com auxiliares alternativas políticas para a Nação, mas nunca desejei ou levantei a possibilidade da ruptura democrática”, escreveu Bolsonaro na mensagem.
Em junho do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou Bolsonaro inelegível até 2030, o que já impossibilita que ele dispute algum cargo eletivo nas próximas eleições.
Na mensagem enviada a aliados, Bolsonaro diz que teve sua vida pessoal, financeira e política “devassada”, algo que, segundo ele, é inédito na figura de um ex-presidente. Ele afirma que nada foi encontrado que indicasse corrupção.
Patriarca de uma família de políticos, Bolsonaro diz que sua família foi perseguida pela imprensa, o que levou um de seus filhos, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a morar nos Estados Unidos “tal o nível de perseguição que ele sofre”.
Na mesma linha do que defendeu seu advogado, o ex-presidente afirmou que não estava o Brasil em 8 de janeiro de 2023 e que repudiou, no mesmo dia, via redes sociais, os “atos violentos cometidos por aqueles que exerceram o direito legítimo de protestar, sem violência, como foi o caso da maioria dos manifestantes”.
Outros argumentos usados por advogados e reafirmados por Bolsonaro agora são em relação à suspeição do ministro Alexandre de Moraes e à competência da Primeira Turma para julgar o caso.
As chamadas questões preliminares foram levantadas por alguns advogados na terça-feira e votadas pelos ministros na sequência. Todas foram rejeitadas.
A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-braço direito de Bolsonaro, também foi uma questão preliminar levantada pelos advogados à qual o ex-presidente voltou agora na mensagem enviada a aliados.
Eles defendem que Cid foi forçado a falar e mudou o discurso ao longo dos depoimentos, pedindo, portanto, que fosse anulada. A Corte também rejeitou esse pedido.
Reprodução/Foto-RN176 O advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, afirma que o ex-presidente não estava envolvido nos atos golpistas de 8 de janeiro
Encerrado o julgamento, Bolsonaro reuniu a imprensa na saída do Senado e fez um longo discurso.
Começou reiterando que não estava no Brasil no dia 8 de janeiro. “Se eu estivesse aqui no 8 de janeiro, estaria preso até hoje. Ou morto.”
“Espero colocar um ponto final nisso. A acusação contra mim é muito grave, infundada, e não é algo que eu diga da boca para fora. Parece que há algo pessoal contra mim”, disse a jornalistas.
Novamente, Bolsonaro levantou suspeitas sem provas sobre a lisura do processo eleitoral brasileiro. Comparou sua situação com a da oposição na Venezuela, onde houve eleição presidencial no ano passado e o Conselho Nacional Eleitoral — formado também por aliados do governo — declarou a vitória de Nicolás Maduro sem ter, até hoje, apresentado todas as atas eleitorais.
Em seu discurso, Bolsonaro ensinou que o TSE poderia ter agido em favor da vitória de Lula em 2022. “Houve interferência do TSE nas eleições de 22 ou não?”, questionou.
Ele afirmou que o TSE fez uma campanha “massiva” para que jovens tirassem o título de eleitor, e que essa faixa do eleitorado poderia representar justamente a quantidade de votos entre ele e Lula em 2022.
“Houve uma diferença de dois milhões de votos, com uma campanha massiva para a faixa etária de 16 anos tirassem título de eleitor, quando 75% dessa faixa etária vota na esquerda. Só isso já dá uma diferença de dois milhões de votos”, afirmou.
O ex-presidente deixou o local sem responder a perguntas da imprensa.
Ajuda internacional
No dia em que o julgamento sobre sua denúncia foi iniciado, na terça-feira (25/3), o jornal britânico Financial Times publicou uma entrevista com Bolsonaro em que ele pede “apoio do exterior” e comparou o Brasil a uma ditadura.
“Temos um problema de ditadura, uma ditadura real”, disse Bolsonaro na entrevista.
“O Brasil não tem como sair dessa situação sozinho. Precisa de apoio do exterior.”
Bolsonaro disse ainda ao Financial Times que a “ajuda americana é muito bem-vinda” e agradeceu o presidente americano, Donald Trump, por encerrar a USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que, segundo ele, havia “interferido” na maior democracia da América Latina (o Brasil).
FONTE BBC NRE BRASIL