O verdadeiro benefício da fé é a revolução humana

ROTANEWS176 26/04/2025 11:15                                                                                                                            ENCONTRO COM O MESTRE                                                                                                                                   Por Dr. Daisaku Ikeda                                    

Neste trechos selecionados de seus incentivos, Ikeda sensei esclarece por que a transformação interior é a chave para alcançar a verdadeira felicidade.

 

Reprodução/Foto-RN176 Ikeda sensei dialoga com jovens da SGI-Estados Unidos (Califórnia, set. 1993). Ele foi um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente era o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional — Foto: Seikyo Press

Revolução humana consiste numa revolução em nossas ações e em nosso comportamento. Significa realizar ações movidas pela compaixão, que nos libertem do ciclo dos “seis caminhos”1 e nos conduzam aos estados de bodisatva e de buda.

Quando a revolução humana se propaga à família, ao país e ao mundo, converte-se numa revolução não violenta em prol da paz.

Há muitos tipos de revolução: política, econômica, industrial, científica e artística; há revoluções na distribuição de bens e serviços, nas comunicações e em incontáveis outras esferas. Cada uma delas é relevante a seu modo e, por vezes, necessária. Mas, quaisquer que sejam as mudanças executadas, se as pessoas que as implementarem forem egoístas e carecerem de compaixão, não melhorarão o mundo. A revolução humana é a mais fundamental delas e, de fato, a mais essencial para a humanidade.

A revolução humana será o foco principal do mundo no futuro. Ela é a base espiritual para orientar tudo para uma direção nova e positiva, inclusive nossa visão sobre a vida, a sociedade e a paz. Acredito que a revolução humana será um conceito de fundamental importância para o século 21.

IKEDA, Daisaku. Sabedoria para Criar a Felicidade e a Paz — Parte 2: Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2023. p. 28-29.

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“Revolução” indica mudar o curso das coisas. Denota uma transformação súbita e radical. O processo natural é que as pessoas cresçam pouco a pouco com o passar do tempo. A revolução humana vai um passo além desse encadeamento gradativo, impulsionando-nos rapidamente numa direção positiva. E, embora seja um aperfeiçoamento veloz, também consiste em um crescimento que prossegue por toda a vida. Não há um ponto final. Nossa prática budista constitui o motor, a força propulsora de nossa revolução humana. (…)

O caminho fundamental para se chegar à revolução humana é unir a própria vida à vida do Buda. Por intermédio da “fusão da realidade e da sabedoria” com o Buda, a força para nossa mudança pessoal brota de dentro de nós.

Ibidem, p. 29-30.

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Os seres humanos continuarão a ser sempre seres humanos. Portanto, não podemos nos transformar em algum ser superior. O mais importante é crescer e transformar a vida como seres humanos. Podemos tentar nos revestir de fama, status social, credenciais acadêmicas, conhecimento ou dinheiro, mas, se formos miseráveis no que diz respeito ao humanismo, nossa vida permanecerá pobre e vazia por dentro.

O que importa é quem somos quando desnudados de todos os fatores externos; o que importa é como realmente somos. A revolução humana consiste em transformar esse âmago mais profundo de nossa vida, de nosso ser.

Ibidem, p. 30.

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Ao darmos o melhor de nós pelo bem dos outros, libertamo-nos do nosso eu menor, focado apenas em preocupações pessoais, e gradativamente expandimos e elevamos nosso estado de vida. O compromisso com o bem-estar dos outros nos impele a transformar nossa própria condição de vida e a realizar nossa revolução humana.

A vida dos membros da Soka Gakkai, que recitam Nam-myoho-renge-kyo de todo o coração pela felicidade de seus amigos e, imbuídos de total sinceridade, compartilham os ensinamentos de Nichiren Daishonin com os outros, transborda de alegria, coragem e esperança. Mesmo que possamos enfrentar vários problemas de saúde, financeiros ou de outro tipo, podemos ultrapassá-los seguramente, como um hábil surfista deslizando sobre ondas colossais.

O benefício grandioso e verdadeiro da fé reside nessa transformação interior fundamental e na revolução humana. De acordo com o princípio da unicidade da vida e seu ambiente, quando nossa condição de vida muda, podemos mudar nosso ambiente também e, desse modo, solucionar todos os nossos problemas e contrariedades.

Ibidem, p. 36.

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A expressão “revolução humana” foi empregada inicialmente pelo segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, no contexto da organização. O presidente Josei Toda foi preso durante a Segunda Guerra Mundial pelas autoridades do governo militarista japonês em virtude de sua prática inabalável do Budismo de Nichiren Daishonin. Enquanto esteve na prisão, experimentou um profundo despertar no âmbito religioso, que o levou a tomar a decisão de dedicar a vida à propagação do budismo. Essa transformação interior vivenciada por ele foi denominada de “revolução humana”. (…)

Depois da guerra, ele explicou com detalhes essa experiência, citando o exemplo do personagem principal do romance O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas (1802–1870). Uma mudança se opera no herói da obra, transformando o jovem de coração puro num homem com ardente desejo de fazer justiça, punindo aqueles que o haviam prejudicado. Essa foi a revolução humana dele. A revolução humana de Toda sensei significa-va tornar-se um homem imbuído da ardente determinação de conduzir todas as pessoas à felicidade por meio da propagação do correto ensinamento do budismo. Consistia na transformação de uma vida pautada pelo interesse individual em uma vida alicerçada numa firme convicção. No nosso caso, essa convicção significa fundamentalmente propagar o Budismo Nichiren, ação indissociavelmente vinculada ao empoderamento de outras pessoas para que conquistem a própria felicidade.

O budismo também ensina a estabelecer um estado de autodomínio livre do jugo de desejos egoísticos e impulsos instintivos e preconiza que, ao atingir esse estado, a pessoa viva em cooperação e harmonia com os demais e abrigue um interesse compassivo por todas as espécies de vida, agindo em prol da felicidade e do bem-estar de todas as pes-soas. A questão essencial para os praticantes do budismo é transformar e aperfeiçoar o ego com o intuito de se tornar um ser humano dessa grande-za. A concretização total desse ideal é denominada “atingir o estado de buda”, e a revolução humana é o processo de se empenhar na prática budista visando à consecução desse objetivo supremo.

Ibidem, p. 45-47.

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De modo geral, na história da humanidade — e, em particular, desde o alvorecer da era moderna — passou-se a acreditar que a chave da felicidade reside em transformar nosso mundo externo, nosso ambiente natural, nossos sistemas sociais. Esse tem sido o foco principal. Nesse processo, talvez não seja exagero afirmar que pouca reflexão tenha sido devotada à transformação do modo como vivemos a vida, e os esforços para regular e controlar os mecanismos internos do nosso coração e da mente tenham sido relegados a segundo plano. Hoje, porém, a tarefa de transformar e elevar nosso mundo interior, espiritual, está ganhando relevância cada vez maior. Denominamos esse esforço de “revolução humana”.

Ibidem, p. 47.

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Nós, seres humanos, somos facilmente influenciados pelos impulsos inerentes à vida, os três venenos — avareza, ira e estupidez. Somos seres frágeis, comparáveis a pequeninos barcos num mar furioso, facilmente lançados de um lado para outro ou afundados pelas poderosas ondas do destino ou carma. Assim como uma grande tempestade pode arrastar uma minúscula embarcação a algum destino desconhecido, muitas vezes somos impelidos a agir de formas que desafiam a razão, permitindo que interesses pessoais de curto prazo prejudiquem a nossa própria sobrevivência. Por exemplo, embora saibamos racionalmente que devemos preservar e cuidar do meio ambiente, nós o destruímos e o poluímos visando aos ganhos imediatos. Ou, para dar outro exemplo, racionalmente almejamos a paz, mas permitimos que a insegurança e o medo nos instiguem a fortalecer nossos arsenais militares, criando a oportunidade para que um incidente menor desencadeie uma guerra de grandes e terríveis propor-ções. Fatos desse tipo ocorreram repetidamente ao longo da história.

Para nos proteger dessas forças ou impulsos, bem como das forças do destino que controlam indivíduos e sociedades em níveis ainda mais profun-dos — como correntes invisíveis no oceano dominando e carregando uma frágil embarcação —, devemos possuir um forte compromisso com o humanismo.

O budismo ensina que nas profundezas de cada indivíduo existe uma entidade vasta e poderosa — o “grande eu” do Universo em sua inteireza —, designa essa entidade de natureza de buda e esclarece como po-demos abrir e manifestar a nossa natureza de buda e demonstrar o poder dela em nossa vida e ações efetivas.

Ibidem, p. 47-48.

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Nem é necessário dizer que, vivendo no mundo real como no nosso caso, ninguém é perfeito. Aqueles que realizam sua revolução humana também não alcançaram ainda a perfeição. Revolução humana vincula-se a uma clara consciência de nosso propósito na vida, acompanhada de esforço para se aproximar do estado de perfeição pouco a pouco, mantendo claramente esse propósito em mente. Revolução humana não é um objetivo final que possa ser alcançado; antes, constitui uma mudança no curso, na direção de nossa vida.

Em decorrência disso, em dado momento, aqueles que se esforçam pela revolução humana naturalmente podem cometer erros e ter defeitos, assim como todas as pessoas, e talvez não pareçam nada diferentes dos outros. Mas, interiormente, as pessoas que se dedicam à sua revolução humana são completamente diferentes em relação ao que eram antes de iniciar essa epopeia espiritual, e em longo prazo a diferença entre elas e os demais se tornará visível. Essa é a nossa concepção do processo de revolução humana.

Ibidem, p. 48.


Dica de leitura

Livro Sabedoria para Criar a Felicidade e a Paz — Parte 2: Revolução Humana. Para mais informações, clique aqui .

Nota:

  1. O mundo do inferno, o mundo dos espíritos famintos, o mundo dos animais, o mundo dos asura, o mundo dos seres humanos e o mundo dos seres celestiais são conhecidos como os “seis caminhos” ou “seis caminhos inferiores”, ao passo que o mundo dos ouvintes da voz, o mundo dos que despertaram para a causa, o mundo dos bodisatvas e o mundo dos budas são conhecidos como os “quatro nobres mundos”. Juntos, são denominados “dez mundos”. Também são citados como os “dez estados de vida”: inferno, fome, animalidade, ira, tranquilidade ou humanidade, alegria, autorrealização, absorção, bodisatva e buda.

FONTE: JORNAL SEIKYO SHIMBUN