ROTANEWS176 E BBC BRASIL 20/07/2016 14h36
Um momento mágico dos Jogos Olímpicos completou 40 anos nesta semana: o dia em que Nadia Comaneci voou direto para a história com seu último movimento nas barras assimétricas.
Reprodução/Foto-RN176 Placar não conseguiu indicar pontuação perfeita porque só tinha três dígitos Foto: Getty Images
Naquele 18 de julho de 1976, ela finalizava uma série com execução impecável, na qual combinou com perfeição sua graça corporal a uma técnica jamais vista. Foi a primeira nota dez da história da ginástica artística.
Foram menos de 20 segundos de série, mas eles seguem sendo lembrados e admirados quatro décadas depois.
“Às vezes passa devagar para você, apesar de a rotina ser muito rápida. É movimento atrás de movimento, segundo atrás de segundo”, lembrou Comaneci ao falar da atuação histórica.
“Eu não era dessas que olhava para o placar imediatamente depois de uma série, mas lembro que havia um barulho inacreditável do público”, contou ela em uma entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
“Nesse momento eu não sabia o que estava acontecendo, porque o marcador só tinha três dígitos e o que mostrava era 1.00. Não havia espaço para um 10”.
A atleta relatou que não sabia que aquele feito era inédito, mas entendia que era a pontuação mais alta possível.
“Eu fiquei muito feliz. É como estar na escola e tirar um 10 em matemática.”
Inocência
Comaneci tinha 14 anos quando disputou os Jogos de Montreal e tem certeza que isso foi algo que a beneficiou.
Reprodução/Foto-RN176 Comaneci conseguiu um total de sete notas dez em MontrealFoto: Getty Images
“Quando saí da Romênia, disse a um jornalista que esperava ganhar uma medalha e, se possível, de ouro”, contou ela, que em 1989 deixou o então país comunista e se radicou nos Estados Unidos.
“Sabia que tinha capacidade de fazer uma série perfeita, mas conseguir durante os treinos e fazer na frente de 15 mil pessoas são duas coisas diferentes.”
“Quando penso nisso, acho que minha idade ajudou, porque você não sabe de muita coisa quando é criança.”
“Você não tem medo. Também fui sem saber o que havia fora do mundo da ginástica, por isso não sentia a pressão que recai sobre os principais atletas das grandes competições.”
Ela diz que com o tempo ficou mais emotiva em relação àquela competição histórica.
“Com o passar dos anos, aquilo se torna muito mais valioso. Eu entendo muito melhor como aquilo foi importante.”
Além do dez perfeito nas barras assimétricas, Comaneci conseguiu a nota máxima em outras seis ocasiões, ganhando três medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze.
Reprodução/Foto-RN176 Comaneci, que deixou a Romênia em 1989, tem hoje 54 anosFoto: Getty Images
Em Moscou, quatro anos depois, ganhou outras quatro medalhas.
“Acredito que é mais importante conseguir coisas pequenas a cada dia e isso te encaminhará a uma direção que te permitirá alcançar coisas maiores no futuro”, avalia.
“Eu sempre disse que desejava ganhar uma medalha olímpica. E ganhei nove.”
Depois de Comaneci, outras ginastas conseguiram a marca perfeita.
Mas essa façanha do esporte é algo ao qual não se pode mais aspirar.
Em 2006, a Federação Internacional de Ginástica decidiu modificar o sistema de pontuação porque muitos atletas estavam tirando boas notas fazendo uma série com dificuldade mínima e boa execução.
Assim, os que faziam séries mais difíceis e inovadoras – e, por isso, com mais erros – acabavam com notas mais baixas.
Agora, as notas são divididas entre execução, que vale 10, e dificuldade, que não tem limite máximo. As notas são somadas e esta é a pontuação final.
É um sistema mais difícil para o público entender, porque não há uma nota máxima. Mas, seguindo a federação, pode encorajar os atletas a inovarem e arriscarem mais.