ROTANEWS176 E IG 20/05/2017 08:00
HPV é um dos principais fatores de risco do câncer de colo do útero
De um lado, meninas entre 9 e 13 anos. De outro, mulheres de 40 a 49 anos. Apesar da diferença de idade, elas estão em um mesmo grupo quando se fala de um importante assunto de saúde pública: o HPV – papilomavírus humano -, um dos principais fatores relacionados ao câncer de colo do útero.
Reprodução/Foto-RN176 O câncer de útero pode não apresentar sintomas; em alguns casos, pode ter sangramento irregular ou dor – shutterstock/Reprodução
A cada ano, no mundo, ocorrem 500 mil casos novos de câncer de colo do útero e cerca de 30 milhões de casos novos de verrugas genitais –metade em homens e metade em mulheres. Tanto mulheres quanto homens estão sob risco de se infectar ao longo da vida, com chance de 80%.
Com base nessas estimativas, o Ministério da Saúde estabeleceu em seu Programa Nacional de Imunizações que as adolescentes compõem o público-alvo da vacinação contra o HPV. O Programa também prevê doses a portadoras de HIV com idade entre 9 e 26 anos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O objetivo é alcançar as jovens antes do início da vida sexual ativa como prevenção, uma vez que a transmissão do vírus ocorre por contatos entre peles e mucosas infectadas. Para as soropositivas, o risco de desenvolvimento de tumores associados ao HPV é maior, conforme o grau de imunossupressão.
Já as mulheres com 40 anos ou mais se enquadram na faixa etária de maior comprometimento pelo câncer de colo uterino. Em São Paulo, dentro do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), um levantamento de 2016 mostrou que cerca de 25% das pacientes atendidas com esse tipo de câncer têm entre 40 e 49 anos. Outros 24% estão na faixa de 50 a 59 anos.
Tipos de HPV e o risco de desenvolvimento do câncer
O HPV penetra o corpo humano e infecta as células gradualmente. Raramente as infecções causam sinais aparentes e, por isso, nem sempre são percebidas, segundo Luisa Lina Villa, professora, pesquisadora e chefe do laboratório de Biologia Molecular do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Icesp.
Luisa explica que as consequências da infecção variam conforme os tipos do vírus: 6 e 11 são classificados como de baixo risco e geralmente causam verrugas genitais. Já a infecção pelos tipos 16 e 18 pode contribuir para o surgimento de lesões que antecedem o câncer nas regiões genital, anal e oral de homens e mulheres.
“Na maioria das pessoas, as infecções são eliminadas pelo sistema imune, sem dar sinal ou promover o aparecimento de qualquer lesão. No entanto, cerca de 30% da população que se infecta com HPV de baixo risco pode notar o surgimento de verrugas, em um período que varia de algumas semanas a seis meses”.
Reprodução/Foto-RN176 Camisinha também pode ajudar na prevenção ao câncer de útero – shutterstock/Reprodução
No caso das infecções por HPV de alto risco, o indivíduo pode ser acometido por lesões precursoras de câncer, em períodos que variam de alguns meses a alguns anos, mas raramente chegam a causar a doença.
Os cânceres, em geral, surgem entre 10 e 20 anos após a infecção pelos HPVs de alto risco oncogênico. A vacina aplicada na rede pública de saúde do Brasil é quadrivalente e protege contra os quatro tipos citados.
Já as evidências do câncer de colo do útero dependem do estádio da doença, de acordo com a médica Maria Del Pilar Estevez Diz, coordenadora da Oncologia Clínica do Icesp. “Na medida em que progride, as mulheres podem ter sangramento e dor, principalmente na relação sexual e, posteriormente, dor o tempo todo e dificuldades para urinar e evacuar”.
A vacinação não dispensa o uso do preservativo nas relações sexuais e a realização dos exames preventivos ginecológicos. O rastreamento de lesões no colo do útero é feito por meio do Papanicolaou, exame que deve ser feito anual e preventivamente para a detecção precoce.
“O Papanicolaou é indicado para toda mulher que tem ou teve vida sexual e pode ser feito pelo SUS. Quanto mais precoce o diagnóstico, menos sintomas vão existir”, comenta a médica.
Tratamento do câncer de colo do útero
De acordo com Pilar, nas fases iniciais, o tratamento do câncer consiste na retirada de uma parte do colo do útero; à medida que avança, pode ser necessário retirá-lo completamente e, às vezes, os ovários e linfonodos da pelve, além da possível indicação de radioterapia e quimioterapia.
Após o tratamento inicial, as pacientes devem fazer acompanhamento de rotina, com exames ginecológicos para tratamento rápido, caso seja detectada uma nova lesão.
Por afetar uma região diretamente envolvida na relação sexual, o impacto do câncer do colo uterino ultrapassa a questão biológica e física. “Existe muito preconceito, dúvida e, como há dor e dificuldade no ato sexual, o tumor pode comprometer a vida conjugal ou a capacidade reprodutiva, devido à cirurgia ou radio e quimioterapia”, diz.
Além do autocuidado com o uso de preservativos, a vacina contra o HPV é a forma mais eficaz de prevenção do câncer de colo do útero. Para Luisa Lina Villa todos deveriam ser a favor de vacinar para proteger seus filhos e familiares dos cânceres causados por HPV, além das verrugas genitais e anais, altamente infecciosas e de tratamento difícil e muito incomodo e até doloroso.