ESTADOS UNIDOS
ROTANEWS176 E BBC BRASIL.COM 19/01/17 15:34
A americana Melissa Dohme tinha 20 anos quando levou mais de 30 facadas de seu ex-namorado e foi abandonada para morrer. Contra todas as probabilidades, a jovem, da Flórida, sobreviveu. Ela achava que, depois dessa experiência, nunca mais teria outro relacionamento, mas, como descreve a seguir, ela encontrou o amor em um lugar inesperado.
Reprodução/Foto-RN176 Foto: BBCBrasil.com
“Eu era estudante e trabalhava na recepção de um hospital. Meu sonho era ser enfermeira.
Estava namorando Robert Vurton. Nós tínhamos nos conhecido no colégio. A gente ficava muito juntos, se falava por mensagem e pelo telefone o tempo todo. Ele era encantador e muito engraçado, era um ‘gigante gentil’.
Mas notei que seu comportamento mudou quando comecei a me candidatar para universidades. Ele ficou muito ciumento. Ele me diminuía e não queria que eu tivesse sucesso. Ele mentia sobre as coisas e, quando eu o confrontava, ele explodia.
Tentei terminar, mas ele disse que, como sua namorada, eu deveria ajudá-lo, não abandoná-lo. Ele dizia que se mataria se eu o deixasse.
O situação se agravou quando ele começou a me agredir. Em um dia de outubro de 2011, eu levei a gente para casa de carro, porque ele tinha bebido. Ele disse que eu fechei a porta antes de ele terminar de falar, ficou furioso e começou a me bater.
Consegui me desvencilhar e fugir para chamar a polícia, que o prendeu. Ele foi acusado de violência doméstica e sentenciado a 10 horas na prisão. Pensei que finalmente estava livre dele.
Nos meses seguintes, ele não me incomodou. Vi pelas redes sociais que tinha arranjado uma outra namorada, então, realmente pensei que havia me esquecido.
Mas, em 24 de janeiro de 2012, ele me ligou às 2h da manhã. Ele tinha ido ao tribunal naquela manhã por conta da acusação de violência doméstica e disse que precisava dar um desfecho àquela relação terrível, que só precisava de um abraço, que, se eu o visse mais uma vez, ele me deixaria em paz para sempre.
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Não dei ouvidos à minha intuição, que dizia que aquilo era errado, e esse foi o maior erro que já cometi. Levei meu spray de pimenta e o celular, pensando que seria capaz de me proteger se fosse necessário.
Assim que cheguei, ele estendeu os braços para me dar um abraço, mas tinha um canivete na mão. Ele começou a me esfaquear várias vezes.
Lembro da dor dos primeiros golpes, mas, depois, tentei reagir e mordi sua mão. Estava dando socos nele, gritando e fazendo todo o possível, mas sempre acabava perdendo o equilíbrio e caindo no chão, porque estava perdendo muito sangue.
Um garoto e uma menina que estavam próximos correram até nós ao me ouvirem gritar, e a garota chamou a polícia. Depois de ver eles, Robert pegou uma faca maior, com uma lâmica de serra, e me atacou. Ele queria me matar. Ele sabia que policiais estavam a caminho e queria terminar o serviço.
Ele me deixou caída na estrada, pensando que eu ia morrer. Apenas rezei a Deus e pedi uma nova chance.
Estava quase ficando inconsciente quando um policial lançou uma luz sobre mim. Senti a vida voltar e consegui dizer meu nome e quem havia me atacado. Minha fala estava muito arrastada, porque eu tinha sofrido um AVC por conta da perda de sangue.
As últimas lembranças que tenho daquele dia são de mim na ambulância. Tudo estava muito iluminado, e as pessoas gritavam e tentavam estabilizar minha situação. Eu sabia que isso era um sinal muito ruim. ‘Ok, eles acham que estou prestes a morrer. Disseram que precisam me levar de helicóptero.’ Depois, soube que eu havia sido ressucitada várias vezes na mesa de operação.
Reprodução/Foto-RN176 Foto: BBCBrasil.com
Meus ferimentos eram graves. Eu tinha fraturas no crânio, na mandíbula e no nariz. Um nervo facial tinha se rompido, e meu rosto estava paralizado do lado direito. Eles usaram 12 bolsas de sangue em transfusões – normalmente, o corpo humano comporta sete. Foi um milagre eu ter sobrevivido.
O tempo em que fiquei internada na UTI parecia ser um dia muito longo, mas, na verdade, foram vários dias. Em certo momento, pedi uma caneta para minha família. Tinha de saber o que tinha acontecido com meu agressor.
Não conseguia usar minha mão direita, porque ela tinha levado muitos golpes. Então, usei a esquerda para escrever: ‘Morto, vivo ou preso?’. Minha família disse para eu não me preocupar, porque haviam pego o Robert, e ele não me machucaria mais. Fiquei aliviada.
Ele havia tentando se matar tomando remédios para dormir e colidindo seu carro contra uma parede, mas não conseguiu. Ele acordou preso a uma cama, com policiais ao seu lado.
Minha recuperação foi longa. Das 32 facadas, 19 haviam sido na minha cabeça, pescoço ou rosto, então, eu não me parecia com quem era antes. Tinha perdido um dente. Meu cabelo estava raspado, porque eles tiveram de dar pontos na minha cabeça. Metade do meu rosto estava paralisado.
Quando me olhei no espelho pela primeira vez, eu só chorava. Tinha 20 anos, e foi devastador. No entanto, minha fé era tão forte que eu sabia que eu não estava ainda aqui na Terra para ficar brava com minha aparência. Eu só sentia que havia sido abençoada por estar viva.
Recebi implantes nos dentes, e minhas cicatrizes suavizaram com o tempo. Fiz uma cirurgia nos nervos e músculos, o que ajudou a regenerar meu rosto e me devolveu meu sorriso. Estava ansiosa para voltar à escola e ao trabalho assim que possível.
Pensava que ficaria solteira para o resto da minha vida. Nunca imaginei que alguém fosse querer namorar comigo. Mas acreditava que poderia usar minha experiência para ajudar os outros. Queria falar com pessoas envolvidas em relações abusivas para que soubessem que elas mereciam ser amadas, respeitadas e valorizadas.
Em uma de minhas palestras, em outubro de 2012, fiquei feliz ao conhecer a equipe de emergência que salvou minha vida. Um dos bombeiros, Cameron, convidou minha mãe e a mim para ir jantar no seu quartel na semana seguinte. Fiquei muito animada com isso.
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Depois, não conseguia parar de pensar em Cameron. Sabia que gostava dele, mas tentava ignorar isso. Pensava: ‘Estou me sentindo assim por que ele foi um dos bombeiros que me ajudou?’. Mas, quanto mais a gente conversava, mais eu percebia que a gente tinha coisas em comum.
Ele me deu seu telefone e disse: ‘Você sabe que pode contar comigo’. Pensei que ele apenas estava sendo legal. Ainda assim, sabia que tinha de vê-lo de novo, então, liguei e disse que tinha um cartão de agradecimento para dar para toda a equipe.
Ele falou para eu aparecer no quartel. Entreguei o cartão a eles e pensei que iria embora em seguida, mas eu e Cameron acabamos conversando por seis horas seguidas. Sentia como se pudesse conversar com ele para sempre, e foi então que ficou claro que havia algo especial ali.
Tivemos alguns encontros. Um deles foi em uma escola de tiro, onde Cameron me mostrou como melhorar minha pontaria – hoje, tenho porte de arma. Isso faz eu me sentir melhor, por poder me proteger.
Cameron estava ao meu lado em agosto de 2013 quando fui ao tribunal e fiquei frente a frente com o homem que tentou me matar.
Quando chegou minha vez de testemunhar, Robert olhava fixamente para mim, tentando me intimidar, mas me recusei a desviar o olhar dele.
No fim do julgamento, quando todas as evidências já haviam sido apresentadas, ele deixou a cabeça cair sobre a mesa. Ele finalmente teve de lidar com o que havia feito e percebeu que não tinha mais qualquer poder.
Ele foi setenciado à prisão perpétua sem direito a liberdade condicional. Fiquei muito aliviada e agradecida. Saí de lá sentindo como se tivessem me devolvido minha vida.
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Cameron e eu continuamos a namorar. Entrei para a faculdade, mas decidi que não estudaria Enfermagem – queria dedicar minha vida à falar contra a violência doméstica, então, cursei Administração de Empresas e Liderança Organizacional.
Alguns anos depois, fui convidada para fazer o primeiro arremesso de um jogo de beisebol, em reconhecimento a meu trabalho com palestras em escolas sobre relacionamentos violentos.
Estava a postos quando percebi que não tinha nenhuma bola para arremessar. Foi quando Cameron entrou em campo para me entregar uma. Nela, estava escrito: ‘Casa comigo?’.
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oi a maior surpresa da minha vida. Não pude falar por um momento, não encontrava palavras. Foi incrível saber que ele havia se esforçado tanto para me surpreender de uma forma tão especial. Claro que disse sim.
Vamos nos casar daqui a algumas semanas. Convidamos todas as pessoas que me salvaram, do primeiro policial a chegar ao cirurgião.
Hoje, sinto-me muito abençoada por estar aqui. Sei que o ataque foi só um dia da minha vida, e isso nunca vai definir quem eu sou.”
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