ROTANEWS176 E O DIA 18/02/2018 00:00
Anísio Abraão David falou ainda sobre a situação de Laíla: ‘Quero que fique, mas se quiser sair, que vá’. Leia a entrevista completa
Reprodução/Foto-RN176 Anísio – Eduardo Hollanda/Divulgação
Anísio Abraão David é uma das maiores personalidades do samba. Aos 80 anos, o presidente de honra da Beija-Flor é respeitado por todos os dirigentes das agremiações do Rio e por sua comunidade Nilopolitana. Anísio é pai de Gabriel Davi, que junto com a comissão de carnaval, trouxe o título para a escola com o enredo ‘Monstro É Aquele Que Não Sabe Amar’, uma crítica social forte que conquistou os jurados e os espectadores. Um ano perfeito para a escola de Nilópolis, não fossem as brigas internas entre os diretores e o desabafo de Laíla, em rede nacional, após a apuração, pedindo a Anísio para sair da escola. A coluna foi recebida por seu Anísio no barracão da escola, na Cidade do Samba, um dia depois do título. E ele não fugiu de nenhuma das perguntas. Confira:
Esse título se deve a quem?
A todos que trabalham no barracão, a minha comunidade, aquela que é tudo na escola. Ela que domina, dá garra, faz bateria, harmonia, evolução e muito mais. No fim, a comunidade é tudo! Deve-se a toda equipe que trabalhou no barracão e a diretoria da escola.
O jornalista Ascânio Selene do ‘O Globo’ falou que faltou uma crítica ao Partido dos Trabalhadores, nominal, porque a corrupção na Petrobras deve-se ao governo PT. Você acha que faltou falar?
Não há necessidade. Fizemos um conjunto geral, todos que pecaram já estão dentro. Não tem PMDB, PT ou o que quer que seja. Serviu a quem a carapuça cabe. Não tenha dúvida disso.
O jornalista Leonardo Bruno, do ‘Extra’ falou que tanto o rebaixamento da Grande Rio quanto o título da Beija-flor foram injustos, porque, segundo ele…
Uma pessoa falando contra milhões que aprovaram? Eu não vou nem responder esse cara.
A Beija-Flor fez uma crítica à corrupção, aos políticos e à política… Mas seu irmão, Farid, é prefeito, seu primo, Simão Sessim, deputado, e seu sobrinho, Sergio, também já foi prefeito. A crítica também vale para os de casa?
A vida deles de políticos é uma, a minha é outra. Eles têm o direito de serem políticos, isso não tem nada a ver. Cada um tem sua cabeça e se alguém errar, tem que pagar. Quem erra tem que pagar! Já fui preso por coisa que não fiz, e muitas vezes! Então quem erra tem que pagar! Claro que tem! Eu que não errei, paguei… A crítica aos políticos vale para todos, inclusive minha família.
A Folha de São Paulo insinuou que seria hipocrisia o senhor criticar a corrupção. O que o senhor tem a dizer?
Isso não me desabona em nada, dizer que já fui condenado? Vai ver o processo! Minha conduta é tranquila, ando na rua de cabeça erguida, sou muito bem recebido pelo povo e estou satisfeito por isso.
O samba enredo teve uma participação fundamental no desfile, né?
Sem dúvida! O samba enredo foi o fundamental. Foi ele que deu vida a toda escola, tudo que você viu na avenida, foi o samba que deu.
Inclusive aquele arrastão que aconteceu depois da escola?
Também! Tudo pelo samba enredo! Não tenha dúvida disso, eu nunca vi aquilo no samba. Quando acabou o desfile, olhei e vi que não podia nem passar ali, acabei tendo que dar a volta. Me assustei, com 62 anos de samba nunca tinha visto aquilo!
A imprensa disse que os jurados sofreram influência do público, que eles foram pra casa após o desfile da Tuiuti e viram a repercussão na internet. Que o mesmo aconteceu com o arrastão da Beija-Flor, e isso teria influenciado nas notas.
Claro que não! Antes do arrastão não tinha quem não dissesse que a escola estava linda, tranquila e formosa.
Quando o Gabriel veio com esta ideia o senhor logo concordou? Nunca duvidou?
Não duvidei De maneira nenhuma, se eu duvidasse, não deixava.
Mas o estilo mudou!
Nós já queríamos mudar, já existia essa ideia. Nós mudamos ano passado e não deu certo, então não foi só esse ano que tentamos, viemos mudando no carnaval há anos.
E o senhor não teve medo?
Não! O que a imprensa tinha que pensar mais um pouco é que a Beija-Flor foi tricampeã em 76,77 e 78 trazendo o carro de empurrado lá de Nilópolis pela Dutra e depois pela Brasil. É isso que eles tinham que ver mais um pouquinho, que a escola luta e sempre lutou pra ser campeã no carnaval.
Reprodução/Foto-RN176 O presidente de honra da Beija Flor de Nilópolis como Anísio e seu filho Gabriel
O senhor tem 5 filhos e sempre esteve em busca de um que tomasse gosto por carnaval, hoje, com o Gabriel, sua busca terminou?
O Anderson sempre participou, mas não queria tomar conta. O Anisinho saiu comigo vários anos, mas também não é do agrado dele, então ótimo! Nem todo mundo tem obrigação disso. A Aline também desfilou várias vezes nos carros alegóricos. O primeiro desfile da Aline foi no carro da Xuxa. A Micaela é doida igual ao irmão, o Gabriel. Hoje mudou tudo. A garotada está mais no samba.
Mas o que o Gabriel tem de diferente?
O Gabriel tem umas ideias dele, criadas por ele. Ele tem uma empresa de eventos que está dando certo. Ele está tomando conta da vida dele sozinho, não está dependendo muito de mim e estou satisfeito. Acho que ele é um empreendedor.
Perguntei se ele preferiria o título para a Beija-flor, ou que o seu camarote fosse o mais bem sucedido na história. Ele disse que o título, mesmo sabendo que o senhor quer que ele seja um empreendedor.
O que quero primeiro é o diploma dele. Afinal, o que você quer para o seu filho? Você quer o bem, ao menos o estudo. Depois, que ele se dê bem na firma dele e se vire sem depender do papai. Ele tem que depender dele, exclusivamente, e talvez amanhã ou depois carregar a irmã mais nova junto.
O senhor está mais aliviado sabendo que seu filho está cuidado do seu legado?
Ele vai continuar sendo o que ele é na escola hoje, não presidente! Presidente só depois, ele tem que se formar primeiro.
Quais foram as maiores dificuldades da Beija-flor esse ano? Financeiras, por causa da crise, ou se foram as internas, por conta das brigas?
Não admito essa briga. Pra mim, está tudo bem.
Antes do carnaval acontecer, eu tinha recebido informações de que o Laíla sairia, o senhor disse que isso não existia.
O Laíla só pode sair depois que falar comigo. Ele pode falar com o mundo inteiro, enquanto não falar comigo, não saiu. Ainda estive com ele ontem depois da apuração e ele só fez elogio sobre a escola e a mim!
Ele falou o seguinte: “Não quero passar pelo que passei este ano”. O que ele passou?
Disso eu também não sei!
Como assim, Anísio?
Não sei! Eu sei que ele está com uma idadezinha já, precisa descansar um pouco, não pode assumir toda a responsabilidade. Ano passado ele me pediu e eu dei a ele todas as responsabilidades. Aquelas alas que ele criou foram bonitas, mas não funcionaram. Este ano ele tinha que entender que tinha que mudar algo pra tentar dar certo. O Laíla é um cara a quem a escola deve milhões de favores, assim como ele também deve, já que a escola o ajudou bastante.
É uma troca.
Sim. Nunca vou mandar ele embora! Quero que Laíla fique mas, se ele quiser ir, que vá, não posso prendê-lo. Aqui ninguém nunca assinou contrato. Componente, diretor, carnavalesco, ninguém nunca assinou nada com a Beija-flor! O que vale é a palavra. Então e só chegar, dizer que não quer mais e acabou.
Mas ele não chegou?
Não! E tenho certeza que não vai chegar.
Mas porque ele então foi para televisão falar isto em rede nacional?
Deve ter sido uma hora de nervosismo. Ano passado ele também dizia que estava com excesso de trabalho.
O que achou da queda da Grande Rio?
Pra mim foi uma grande infelicidade, até mesmo para o carnaval porque é uma escola com o porte bom, mas houve essa infelicidade.
Ano passado teve uma manobra para Tijuca não cair…
Ano passado teve um problema muito mais grave. Sou franco, se dependesse de mim, a Grande Rio ficava, acho que o carnaval vai perder. A grande rio faz falta na avenida.
Reprodução/Foto-RN176 Laíla, Gabriel e Anísio – Reprodução
Então está tudo normal, o Laíla continua?
Até agora, sim. Não é a primeira vez que o Laíla fala isso tudo.
Mas em rede nacional? Na Globo. Ao vivo?
E o que é que tem? Vê o que ele falou na Globo e compara com o que ele disse no palanque da escola. É o mesmo.
Como o senhor vê o futuro?
Triste! Se o governo não tomar uma providência financeira para as escolas, acho que vai ser difícil. Você conseguir dinheiro com patrocínio, com a situação que se encontra o Brasil hoje, é difícil.
O senhor votou no Crivella? Acha que foi um erro as escolas terem apoiado ele?
Não, voto em Nilópolis. Mas até eu pedi as escolas para apoiarem o Crivella. O que ele falava era a favor do samba. Eu não me arrependo de nada, veja se está me entendendo. Mas que não foi, bom não foi. Agora, as escolas cobraram dele sério! Esse enredo da Mangueira é algo sério contra ele.
A crítica social nunca foi uma marca da Beija-flor…
Mas o momento pede isso. A escola está satisfeita e eu também estou.
E se vier algum patrocínio pra falar de alguma cidade ano que vem, o senhor fará?
Logico! Não tenha dúvida disso! Olha, já ganhei com Maranhão, Macapá…
Mas você acha que o fato de ser uma crítica de corrupção, com tudo o que o Rio está vivendo hoje, influenciou?
Se eu fizer um enredo de uma cidade que merece tomar pau, dou! Se posso elogiar porque ela é boa, vou elogiar. A cultura do Brasil qual é? não é mostrar a verdade? Então e isso ai!
E qual é a sua mensagem para o povo de Nilópolis?
Meu povo, lhes conheço bem e sei que me amam. E eu também. O que fiz até hoje pra vocês é pouco, então o que posso mandar para é um beijo no coração de todos!