Para cientistas, fenômeno é ‘mistério intrigante’; pesquisa identificou 124 novos genes ligados a variação da cor de cabelo.
ROTANEWS176 E BBC BRASIL.COM 18/04/2018 11:17
Mulheres de origem europeia têm duas vezes mais chances de serem naturalmente loiras do que homens, de acordo com o maior estudo genético já feito sobre pigmentação – que analisou quase 300 mil pessoas de ascendência europeia.
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Reprodução/Foto-RN176 Pesquisadores revelaram que a proporção de mulheres loiras é maior do que a de homens, mas ainda não sabem o motivo Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
O estudo encontrou 124 novos genes que desempenham um papel importante na determinação da variação da cor do cabelo humano. E isso também pode ajudar a aumentar a compreensão sobre alguns tipos de câncer e de doenças do aparelho digestivo.
Os autores do relatório dizem não saber ao certo, entretanto, as razões que explicam o número bem maior de mulheres loiras do que homens e chamam o fenômeno de “mistério intrigante”.
O estudo, publicado na revista Nature Genetics, usou dados fornecidos pelo UK Biobank, que desenvolve pesquisas no Reino Unido na área de saúde, pela empresa americana de testes de DNA 23andMe e pelo Consórcio International Visible Trait Genetics e seus parceiros de estudo na Holanda, Austrália e Itália.
Eles escolheram pessoas de ascendência europeia por causa de sua variedade de cores de cabelo.
E descobriram que os homens eram três vezes mais propensos do que as mulheres a ter cabelos escuros.
Tim Spector, autor principal do estudo, do King’s College de Londres, disse à BBC que os pesquisadores não esperavam encontrar mais mulheres loiras do que homens.
“Isso é um mistério e é intrigante porque não era o que procurávamos. Achamos que fosse uma espécie de juízo pré-concebido, mas ela não ia embora e o constatamos em todos os subgrupos de populações que analisamos”, disse ele.
“É um mistério curioso, porque tem um efeito muito grande – ver efeitos duplos e triplos em uma variedade inteira de populações americanas e europeias foi realmente surpreendente”.
Reprodução/Foto-RN176 Segundo a pesquisa, meninos com mães loiras não estão mantendo seus cabelos geneticamente dessa cor quando crescem. Seus cabelos escurecem Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
Os pesquisadores dizem que isso abre uma nova frente de pesquisa – para descobrir o por que -, mas Spector tem algumas teorias.
“Achamos que poderia ter algo a ver com a atração das mulheres por homens de pele mais escura e vice-versa – mas não achamos que os genes sejam diferentes. Achamos que os genes estão sendo expressos de forma diferente – por alguma razão os genes loiros que podem estar lá no nascimento persistem nas mulheres mas somem (ou não são ativados) no sexo masculino”.
Ou seja, mulheres loiras têm a mesma probabilidade de dar à luz tanto garotos loiros quanto garotas loiras, mas os meninos não estão mantendo seus cabelos geneticamente loiros quando crescem.
O processo de mudança de expressão dos genes – sua ativação e desativação – é conhecido como epigenética.
Spector disse que pode haver outros genes afetando o processo, e há exemplos disso em estudos com camundongos em que substâncias químicas, estresse e hormônios afetam a maneira como alguns dos genes do pigmento funcionam.
“Mas parte disso pode ocorrer por razões evolutivas, porque as mulheres loiras têm maior probabilidade de ter sucesso com homens e os homens são mais propensos a ter mais sucesso com as mulheres se elas tiverem cabelos escuros ao invés de cabelos claros.
“Muito disso é especulação – mas abre uma nova frente de pesquisa para tentar descobrir por que os genes podem ser expressos de maneira diferente em homens e mulheres e qual seria o motivo disso – e se esta é uma mudança cultural recente”.
Reprodução/Foto-RN176 Descoberta de novos genes ligados à cor do cabelo também pode trazer respostas a alguns tipos de câncer e a doenças do aparelho digestivo Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
A descoberta de 124 genes ligados à cor do cabelo também revelou algumas relações com cânceres, como os de pele, testículos, próstata e ovário.
Outros genes de pigmento que os pesquisadores identificaram afetam chances de ter a doença de Crohn – uma inflamação crônica que afeta o sistema digestivo – e outras formas de doença intestinal.
Os pesquisadores, que incluem especialistas da Erasmus MC University Medical Centre, em Roterdã, esperam que suas descobertas ajudem a melhorar a compreensão dessas doenças e a desenvolver novas drogas para atacar esses genes.
Os genes também tornam mais fácil e mais preciso prever a cor do cabelo a partir do DNA, o que poderia ajudar a ciência forense na resolução de crimes, acrescentam.
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