ROTANEWS176 E DELAS 21/05/2018 05:00 Por Bárbara Saryne
De acordo com psicólogo, sentir certa frustração quanto ao sexo da criança é normal, mas acrescenta que, em casos assim, a ajuda psicológica é essencial
Dizem que as mulheres, ao descobrir que estão grávidas, conseguem “sentir” se o bebê é um menino ou uma menina apenas pelo “instinto materno”. O problema, no entanto, é que essa intuição nem sempre bate com o resultado do ultrassom que revela o sexo do bebê e, em muitos casos, a informação dada pelo médico decepciona a futura mãe, que, às vezes, já fez inúmeros planos para a criança acerca daquela suposição.
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Reprodução/Foto-RN176 Para psicólogo, grávidas que não aceitam o sexo do bebê precisam de ajuda e a família tem um papel importante nisso
Para alguns, a frustração é uma bobagem e “o que importa é ter saúde”, mas psicólogos afirmam que, quando as mulheres ficam excessivamente incomodadas com a revelação do sexo do bebê , precisam de ajuda especializada. É o caso de Vanessa (nome fictício), mãe matogrossense que, na última semana, resolveu desabafar em um grupo fechado do Facebook após se decepcionar com o resultado do ultrassom.
Na postagem, ela conta que já tem duas filhas e, quando engravidou, começou a sonhar com a possibilidade de ganhar um garotinho. Sem saber oficialmente se esperava um menino ou uma menina, ela escolheu o nome do filho, planejou as roupas que compraria e até as brincadeiras que faria com ele. Não demorou muito, porém, para o sonho ir por água abaixo.
Após fazer (e repetir) o exame para descobrir o sexo do bebê que está esperando, a mulher precisou encarar a realidade: ela será mãe de mais uma menina. “Quando o doutor falou, eu fiquei muito triste, com uma vontade imensa de chorar. Não consegui sentir emoção ou amor, apenas infelicidade. Pedi perdão para Deus, pois já tive depressão. Tenho medo de sentir ódio dessa criança”, conta ela, que está passando por um momento difícil com seus familiares e amigos.
Reprodução/Foto-RN176 A mãe que se chateou ao descobrir que espera uma menina, já sonhava com as roupinhas que compraria para o filho
“Minha família e meu ex-namorado estão me julgando demais, mas ninguém sabe o que se passa dentro de mim. Ninguém foi capaz de sentar comigo para conversar ou tentar ajudar de alguma forma”, completa, ressaltando que, por conta do comportamento dela, o pai da criança (e ex da moça) está pensando em criar a menina sozinho. Diante de tamanha decepção, ela admite que ficou feliz com a proposta e acha que conseguirá abrir mão da guarda da filha facilmente.
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“Muitas pessoas falavam que o bebê seria um menino e eu coloquei isso na minha cabeça. Acho que não vou conseguir sentir amor por essa criança. Sei que é errado o que estou dizendo, mas é o que eu estou sentindo”, comenta. A reação das outras mães que participam do grupo, porém, não foi como ela imaginou. Preocupadas, as mulheres tentaram aconselhá-la, lembrando-a de que a cor das roupas que ela comprou para a criança não é motivo de chateação, já que meninas e meninos podem usar azul, rosa ou qualquer outra cor.
“Aconteceu a mesma coisa comigo e eu poderia ficar triste ou com raiva, mas fiquei feliz, mesmo querendo muito uma menina. Quando a gente engravida, sabe que não dá para escolher o sexo. A criança não tem culpa de nada”, diz uma das grávidas do grupo. “Isso é porque você colocou na sua cabeça que seria um menino. É mais decepção de sua parte do que falta de amor pelo bebê, daqui a pouco você se acostuma com isso e tudo passa”, declara outra.
“Frustração precisa ser tratada”, afirma psicólogo
Reprodução/Foto-RN176 Com o tratamento psicológico, a chance de superar a decepção e seguir em frente é grande, segundo o especialista
Para o psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg, o comportamento dessa mãe representa uma tendência que ela tem de querer controlar a realidade com um processo de onipotência. Uma leve chateação por ter sonhado com o sexo de um bebê e o resultado do exame apontar outro é natural, mas dizer palavras pesadas e ameaçar não aceitar a gravidez de forma alguma é um sinal que a saúde da mulher não vai bem.
“Ela não está preparada para a maternidade”, diz ele, ressaltando que ela precisa lidar com essa frustração como quem lida com uma doença. “Essa mãe precisa superar, procurar um médico com urgência e fazer acompanhamento psicológico para compreender o papel dela, que é o de gerar uma vida, e não gerir um destino. Essa mulher vai ter de aprender a diferença entre ser poderosa, o que ela é, e ser onipotente, o que ela não é”, comenta o especialista.
Ainda segundo ele, todo mundo precisa ter em mente que a vida não é uma conta de matemática. Quando se fala em gravidez, não se pode levar em consideração o fato de uma mulher já ter gerado meninas para presumir que a próxima gravidez será de um menino ou vice-versa. “As grávidas não podem querer fazer o papel de arquitetas, como se estivessem construindo obras”, defende.
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O papel dos familiares dessas mulheres também é importante, segundo Jacob. Conforme explica o especialista, culpar e se recusar a compreender a decepção delas – como fez a família de Vanessa – só atrapalha. “A família deveria insistir para as mulheres procurarem ajuda com um tratamento. Não é questão de culpabilizar, é questão de compreender a angústia e ajudar a superar a fase difícil”, afirma.
Reprodução/Foto-RN176 Após o exame para saber se o bebê é menino ou menina, os amigos precisam entender a reação da mãe, já que é uma fase
No caso de Vanessa, Goldberg enfatiza que não dá para julgar e levar tudo “a ferro e fogo”. “Essa moça não é uma criminosa, é uma vítima de um anseio neurótico e precisa resolver esse problema”, explica ele, que torce para que ela consiga mudar suas atitudes o quanto antes. O psicólogo também enfatiza que muitas mulheres rejeitam o sexo do bebê dessa forma, e a única diferença entre elas e Vanessa é de que ela teve coragem de expor uma fraqueza na internet.
Adriana Severine, que também é psicóloga e atende muitas gestantes, crianças e adolescentes, concorda com Goldberg e acrescenta que é importante agir com rapidez para iniciar o acompanhamento profissional em casos como o de Vanessa o quanto antes. Segundo ela, isso é importante não apenas para o bem-estar da mãe, mas também para o do bebê, que sente a rejeição e pode ser afetado por ela.
“O bebê sente que é amado e desejado, e é bem legal quando ele já tem um nome para ouvir e se acostumar com o som”, aconselha, avisando que é bacana conversar com a própria barriga e declarar frases de amor e positividade durante o período de gestação.
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Apesar de a situação ser complicada e não ser fácil lidar com ela, os especialistas garantem que, com ajuda psicológica, nada está perdido. Segundo eles, mulheres que rejeitam o sexo do bebê durante a gravidez podem, sim, virar o jogo e mandar a decepção para longe. “Uma vez resolvido esse impasse, elas poderão entender a realidade e aceitar a criança, sendomenino ou menina , com o afeto que é necessário”, conclui Goldberg.