‘Lula está colhendo o que plantou’, diz presidenciável do PSTU sobre prisão de petista

ELEIÇÃO

Para Vera Lúcia Salgado, ex-presidente optou por governar com partidos corruptos e “se lambuzou”. Em campanha, ela promete revogar medidas de Temer e estatizar empreiteiras da Lava Jato

ROTANEWS176 E BBC BRASIL.COM 22/05/2018 14:40

O que acontecerá se a ex-operária e sindicalista Vera Lúcia Salgado, 50, tomar posse como presidente da República no dia 1º de janeiro de 2019, eleita pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU)? No dia 02 de janeiro, diz ela, todas as medidas de Michel Temer serão revogadas, as empreiteiras envolvidas na Lava Jato serão estatizadas.

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Reprodução/Foto-RN176  Esta é a 1ª disputa presidencial de Vera Lúcia, mas ela concorre a eleições pelo PSTU desde 2010Foto: BBC Brasil / BBCBrasil.com

“E depois disso, dizer aos trabalhadores que se organizem nos conselhos populares, porque eles precisam tomar o rumo do país. Porque não dá para governar com o Congresso eleito dentro dos marcos que ele é eleito hoje”, diz ela. No momento, porém, as chances da sindicalista nordestina chegar à Presidência são remotas, de acordo com as últimas pesquisas eleitorais.

Nascida em uma família pobre do sertão pernambucano e crescida em Aracaju (SE), Vera Lúcia Salgado, 50, representa uma renovação no PSTU: desde 1998, o partido é representado na disputa presidencial por José Maria de Almeida, o Zé Maria. Ao longo da vida, Vera Lúcia trabalhou como garçonete, faxineira e até datilógrafa. A militância política surgiu no fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990, quando ela já trabalhava como costureira na indústria calçadista da capital sergipana – ela participou da fundação e dirigiu o sindicato de sua categoria no Estado.

Vera Lúcia integrou o PT até ocorrer a dissidência que daria origem ao PSTU, em 1992. Hoje, ela faz críticas severas ao partido de Dilma Rousseff. Para Vera e o PSTU, o foco da esquerda não deveria ser a campanha pró-libertação de Lula, e sim “os mais de 20 milhões de desempregados, os 16 milhões que passam fome, os mais de 6 milhões que não têm uma casa para morar”.

Quando o PT era governo, o PSTU estava junto com outros partidos socialistas (PSOL, PCO, PCB) na oposição. Depois da prisão de Lula, porém, as demais siglas integraram a campanha pela libertação do ex-presidente, coisa que o PSTU não fez. “Não saímos em defesa de Lula porque ele optou por governar com esses setores que estão enlameados na corrupção, e se lambuzou também”, explica Vera Lúcia. Ela terá por vice outro militante do PSTU: o professor e militante do movimento negro Hertz Dias, de 48 anos.

O desenho na parede – feiro por uma militante do PSTU – mostra Leon Trotsky e o logo da 4ª Internacional

Casada e mãe de duas filhas já adultas, Vera Lúcia mora hoje em uma ocupação no bairro Coroa do Meio, em Aracaju. Ela conversou com a reportagem da BBC Brasil por cerca de 50 minutos na sede nacional do PSTU, um sobrado no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Abaixo, os principais trechos.

BBC Brasil – A senhora poderia contar um pouco da sua história?

Vera Lúcia – A minha trajetória de vida é a das pessoas pessoas comuns do Brasil. Venho do Nordeste brasileiro, do sertão pernambucano, mas vivi mais da metade da minha infância em Aracaju (capital de Sergipe).

Eu mesma comecei a trabalhar aos 14 anos de idade. Quando você é pobre, você trabalha naquilo que aparece, para sobreviver.

Mas, na fábrica (da Azaléia) é quando inicio minha trajetória no movimento das lutas da classe trabalhadora.

Entrei na fábrica com 19 anos de idade (…). E é lá também que eu vou ter contato com o movimento sindical, com o partido (na época, o PT) (…). Em 1992, o PSTU rompe com o PT. Na verdade não era ainda o PSTU, era a Convergência Socialista – que é expulsa do PT. E aí, depois de 2 anos de discussão, em 1994, o PSTU é legalizado como partido.

BBC Brasil – O PSTU marcou uma diferença para os outros partidos de esquerda porque não participou dos atos contra a prisão de Lula. A prisão foi justa?

Vera Lúcia – Não saímos em defesa de Lula porque ele optou por governar com esses setores que estão enlameados na corrupção, e se lambuzou também. Então não é tarefa da classe trabalhadora, no nosso entendimento, ficar numa disputa de se Lula ficará livre ou na cadeia.

A tarefa dos trabalhadores, neste momento de crise econômica e política, é encontrar uma saída para os seus próprios problemas.

Quem está fazendo essa discussão (sobre Lula) não está preocupado, por exemplo, com os mais de 20 milhões de desempregados (e subempregados), com os 16 milhões que passam fome, com os mais de 6 milhões que não têm uma casa para morar. Estamos vendo aqui a tragédia em São Paulo, no Largo do Paissandu. Aquilo não é um acidente: é uma tragédia anunciada e é uma realidade de milhões de trabalhadores.

Reprodução/Foto-RN176  Vera Lúcia (foto) encara sua candidatura como mais uma missão partidária Foto: Romerito Pontes / PSTU – Divulgação / BBCBrasil.com

BBC Brasil – Essas questões são mais relevantes para vocês do que Lula.

Vera Lúcia – Por que? Porque Lula fez uma escolha política ao longo da sua história. Que foi a de governar com o PMDB, com o PP, com todos os partidos que estão envolvidos em corrupção. Optou por ser financiado pelas empresas que estão envolvidas em corrupção. Optou por garantir que os contratos dentro da Petrobras fossem fraudulentos, para satisfazer essas empresas porque elas tinham garantido o financiamento de suas campanhas eleitorais.

Então, na verdade, o Lula está colhendo o que ele plantou.

BBC Brasil – As empreiteiras deveriam ser confiscadas e estatizadas?

Vera Lúcia – E colocadas sob o controle dos trabalhadores. Porque se fica só sob o controle do Estado, sendo este Estado corrupto, essas empresas também entrarão pelo mesmo caminho.

A Petrobras sempre teve esquemas de corrupção dentro dela. Agora, quando se quebra o monopólio estatal do petróleo no Brasil, e se estabelece a relação público-privada ali dentro, aquilo ali virou um jogo de cartas marcadas, de rapina mesmo.

BBC Brasil – Por que uma pessoa que se identifica com o socialismo deveria seguir a linha do PSTU e não de outros partidos que se reivindicam de esquerda, como o PSOL, o PCB ou o PCO?

Vera Lúcia – É que o PSTU é o único partido revolucionário socialista. Esses outros partidos podem até dizer…

BBC Brasil – Mas eles reivindicam essa posição política. O PCB reivindica, o PSOL…

Vera Lúcia – Correntes do PSOL reivindicam. O PSOL, enquanto partido, é um partido eleitoral, com as mesmas características do PT, e menos raízes na base (que o PT) e uma direção com menos caráter de classe do que teve o PT no passado.

O PSOL é um partido reformista. Quem entrar no PSOL achando que está entrando em um partido socialista está entrando no partido errado. Se quiser discutir a estratégia da saída revolucionária, um partido que não se organize em torno de eleições, mas a partir das necessidades da classe trabalhadora, o partido é o PSTU.