AMOR E SEXO
Frustrada com sua vida amorosa, americana se lançou a explorar o mundo do sexo e da realidade virtual. A experiência, que a deixou mais confortável consigo mesma, virou livro.
ROTANEWS176 E POR BBC NEWS BRASIL 23/06/2018 18:17
Faz sete anos que a americana Emily Witt decidiu começar a escrever seu livro. Ela tinha 30 anos na época e havia acabado de terminar um relacionamento.
LEIA TAMBÉM
Diários de Einstein revelam racismo e xenofobia desconhecidos
Reprodução/Foto-RN176 Emliy Witt começou seu livro frustrada com sua vida amorosa, mas acabou se sentindo mais confortável consigo mesma Foto: Noah.Kalina / BBC News Brasil
“Eu estava frustrada”, conta. “Só queria me casar, me acomodar. Achava que isso ocorreria automaticamente à medida que as pessoas envelhecessem. Mas obviamente não aconteceu comigo.”
Na ocasião, o aplicativo Tinder havia acabado de ser lançado, e a paquera online vivia um boom.
A pornografia na internet e chats de vídeo ao vivo também povoavam o inconsciente de Witt. Mas ela, como autodeclarada tradicionalista, descartava qualquer uma dessas possibilidades.
“Achava que, se quisesse conhecer um namorado sério que fosse virar meu marido, tinha que seguir os rituais tradicionais de namoro.”
A subversão dessas noções preconcebidas acabou virando o cerne de seu livro, Future Sex (Sexo Futuro, em tradução livre), em que Witt se lança a explorar a fundo suas possibilidades sexuais.
Reprodução/Foto-RN176 Cerimônia de casamento coletivo: autora sonhava com um casamento tradicional, mas viu que seu futuro não caminhava para isso Foto: Getty Images / BBC News Brasil
Namoro online
Foi justamente o primeiro passo – registrar-se em um site de relacionamentos – que deu a Witt um novo impulso.
“Havia um sentimento real de ‘você não está sozinha’. São tantas pessoas na mesma situação. Não consigo imaginar o quão desesperador deveria ser para os solteiros antes de existir o namoro online.”
O passo seguinte a levou além: ela foi contratada para escrever a respeito de um site que transmitia vídeos de sexo. “Achei que seria algo típico, entediante. Mas diversas mulheres estavam usando isso (o site) de um modo diferente”, conta Witt.
“Elas estavam experimentando; era algo mais relacionado a autoconhecimento, a usar o site para intermediar encontros anônimos e tentar coisas novas. Para muitas, era uma forma de ganhar autoconfiança e de se sentir desejada.”
Reprodução/Foto-RN176 Prática do poliamor (como a mostrada na foto acima) mudou atitude da autora diante dos relacionamentos Foto: BBC Scotland/Love Unlimited / BBC News Brasil
Acima de tudo, diz Witt, ela notou um número crescente de pessoas se abrindo a novos tipos de relacionamento, inclusive os que não se limitavam a um casal.
“Os poliamorosos acabaram sendo os meus guias”, conta a autora. “Eles acreditam que você pode ter mais de um relacionamento simultaneamente. Eles experimentam e conversam e têm estratégias para lidar com conflitos, para se assegurar de que as conversas são honestas – é um tipo de inteligência emocional.”
Witt diz que isso mudou radicalmente sua atitude diante dos relacionamentos.
“Aprendi a gostar de tudo o que eu antes considerava uma ameaça às relações tradicionais. Eu tinha muito medo de até mesmo considerar a ideia de um relacionamento aberto ou de (consumir) pornografia.”
Reprodução/Foto-RN176 Até começar seu livro, Witt diz que sequer considerava explorar pornografia ou relacionamentos abertos Foto: Getty Images / BBC News Brasil
A experiência mais reveladora de sua pesquisa foi visitar o set de filmagem de um filme pornográfico.
“Tive a chance de ver pessoas tão confortáveis com seus corpos e sua sexualidade; não há praticamente nada que possa envergonhá-los. Isso me fez pensar: ‘por que eu tenho tantas neuras quanto a ficar pelada?’.”
Essa pequena jornada fez Witt reavaliar sua própria atitude diante do sexo.
Futuro do sexo – e robôs?
“Tantas mulheres foram ensinadas a pensar no sexo como algo secundário dos relacionamentos, ou alimentaram essa ideia de que você é mais atraente se for reservada quanto a seus desejos sexuais”, opina a autora.
“E isso simplesmente não é verdade. Todo o mundo se dá melhor quanto se sente confortável e confiante. Isso não significa que você precisa ser dominadora – só que suas relações serão mais saudáveis quanto mais você souber de seu valor sexual.”
Reprodução/Foto-RN176 Para autora, inteligência artificial e realidade simulada podem ajudar no autoconhecimento sexual Foto: ALEKSANDAR PLAVEVSKI/EPA / BBC News Brasil
Witt hesita quando a conversa se volta ao tema de robôs e sexo por realidade virtual.
“A maioria dos robôs do sexo – como eles são imaginados – serve para um propósito de trabalho sexual ou doméstico, não para um relacionamento. Uma pessoa solteira não poderá descrever a um fabricante de robô como fabricar uma pessoa que eu ame. Não é algo que possa ser gerado.”
Mas ela vê com otimismo o potencial da tecnologia, se usada de forma mais inventiva.
“Eles (robôs) podem ajudar muito na questão do autoconhecimento. Desde consolos sexuais até experiências de realidade simulada, a tecnologia permite que você experimente coisas. Sim, muito da sexualidade tem a ver com a prática física, mas em primeiro lugar trata-se de entender quais são as suas fantasias e o que te atrai.”
Aceitação de ser solteira
Witt conta que, ao escrever Future Sex, temia não conseguir mais encontrar um namorado. “Achei que ninguém ia querer sair comigo depois de eu ter tido tantas experiências sexuais”, diz.
Mas ela acabou descobrindo que o livro ajudou sua vida social.
“Apesar de no momento eu estar em um relacionamento, me sinto muito mais calma quanto a ficar solteira outra vez, se isso acontecer”, conta. “Não tenho mais medo de viver uma vida diferente. Se você é solteiro, há menos estigma e mais oportunidade de encontrar uma comunidade e praticar sexo seguro e proveitoso, principalmente como mulher.”