A jovem saudita que se trancou em hotel para evitar ser devolvida à família: ‘Eles vão me matar’

Rahaf Mohammed al-Qunun, de 18 anos se trancou dentro do quarto do hotel no aeroporto de Bangcoc e se recusa a ser deportada de volta para o Kuwait.

ROTANEWS176 E POR BBCNEWSBRASIL 07/01/2019 09:14

Uma jovem saudita que diz estar fugindo da família por temer pela sua vida se trancou no quarto de um hotel no aeroporto de Bangcoc, na Tailândia, e se recusa a ser deportada.

Reprodução/Foto-RN176 ‘Minha família ameaça me matar pelas coisas mais triviais’, disse Rahaf Mohammed al-Qunun Foto: AFP / BBC News Brasil

Autoridades de migração tailandesas querem levar Rahaf Mohammed al-Qunun, de 18 anos, de volta para o Kuwait, onde sua família se encontra.

Ela não aceitou embarcar em um voo para Cidade do Kuwait nesta segunda-feira, apesar das autoridades migratórias estarem de prontidão do lado de fora do seu quarto no hotel.

“Meus irmãos, familiares e a embaixada saudita estarão me esperando no Kuwait”, disse a jovem à Reuters. À BBC, ela afirmou que havia renunciado ao Islamismo e temia ser forçada a voltar à Arábia Saudita e ser morta pela família por causa da fuga.

“Eles vão me matar. Minha vida está em perigo. Minha família ameaça me matar pelas coisas mais triviais.”

Organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a ONG Human Rights Watch, manifestaram sérias preocupações em relação ao bem-estar de Mohammed al-Qunun.

“Ela se trancou no quarto e diz que não vai sair” até que tenha permissão para se encontrar com a agência de refugiados da ONU e solicitar asilo, informou Phil Robertson, vice-diretor para Ásia da Human Rights Watch, em sua conta no Twitter.

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Robertson disse que advogados tailandeses entraram com uma liminar no tribunal criminal de Bangcoc “para impedir a deportação de Rahaf para o Kuwait”, acrescentando que “o tempo é curto e ela enfrenta um grave perigo”.

Como o impasse começou?

Mohammed al-Qunun estava de férias com a família no Kuwait quando fugiu há dois dias. Ela estava tentando ir para a Austrália, onde esperava pedir asilo, em um voo com conexão em Bangcoc.

A jovem diz que seu passaporte foi apreendido por um diplomata saudita que a encontrou ao desembarcar do avião no aeroporto de Suvarnabhumi no domingo.

Ela insiste que tem visto para a Austrália e nunca quis ficar na Tailândia.

A embaixada da Arábia Saudita em Bangcoc afirma que Mohammed al-Qunun estava detida no aeroporto “porque não tinha passagem de volta” e que deve ser deportada para o Kuwait “onde vive a maior parte de sua família”.

Informou ainda que a Arábia Saudita não tem autoridade para mantê-la no aeroporto ou em qualquer outro lugar, e que as autoridades estão em contato com o pai dela.

“Parece que o governo tailandês está criando um enredo de que ela tentou pedir um visto e foi negado… na verdade, ela tinha uma passagem para a Austrália, ela não queria entrar na Tailândia para início de conversa”, afirmou Robertson, da Human Rights Watch, à BBC.

Ele argumenta que as autoridades tailandesas claramente cooperaram com a Arábia Saudita, uma vez que as autoridades sauditas puderam aguardar o avião quando este chegou.

Como a notícia se espalhou?

Mohammed al-Qunun começou a atrair atenção por meio de postagens nas redes sociais no fim de semana.

Ela concedeu acesso à sua conta no Twitter a um amigo, como contingência para o caso de algo acontecer com ela.

Ela disse ao BBC Newshour, programa de rádio da BBC, que estava em um hotel na área de trânsito do aeroporto.

“Eu compartilhei minha história e minhas fotos nas redes sociais, e meu pai está com muita raiva porque eu fiz isso… Não posso estudar e trabalhar no meu país, então eu quero ser livre e estudar e trabalhar como eu quiser”, disse.

Mohammed al-Qunun escreveu no Twitter que tinha decidido compartilhar seu nome e dados pessoais porque não tinha “nada a perder” agora.

E pediu proteção ao Canadá, Estados Unidos, Austrália e Reino Unido.

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Por que ela diz temer por sua segurança?

O correspondente da BBC em Bangcoc, Jonathan Head, diz que Mohammed al-Qunun está assustada e confusa.

Ela disse à BBC que havia renunciado ao Islamismo e temia ser forçada a voltar à Arábia Saudita e ser morta pela família.

“Mulheres sauditas que fogem de suas famílias podem enfrentar violência grave de parentes, privação de liberdade e outros danos sérios se forem devolvidas contra sua vontade”, afirmou Michael Page, vice-diretor para o Oriente Médio da Human Rights Watch, em comunicado.

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O major-general Surachate Hakparn, da polícia tailandesa, contou à BBC que Mohammed al-Qunun estava fugindo de um casamento.

Como ela não tinha visto para entrar na Tailândia, ele acrescentou, a polícia negou a entrada dela e está em processo de repatriá-la pela mesma companhia aérea em que chegou – a Kuwait Airways.

À agência de notícias AFP, ele disse ainda que essa era uma “questão familiar” e que a jovem “não possuía outros documentos, como passagem de volta ou dinheiro”.

O caso de Mohammed al-Qunun lembra o de outra mulher saudita que também tentou fugir para a Austrália em abril de 2017.

Dina Ali Lasloom, de 24 anos, pegou um voo do Kuwait via Filipinas, mas foi levada de volta para a Arábia Saudita do aeroporto de Manila pela família.

Ela usou o celular de uma turista canadense para enviar um vídeo, postado no Twitter, dizendo que sua família a mataria.

Seu destino ao voltar para a Arábia Saudita continua desconhecido.