Autor de matança na Nova Zelândia é acusado por assassinatos

ROTANEWS176 E POR AFP 16/03/2019 20h35

O extremista de direita autor do banho de sangue ocorrido nesta sexta-feira em duas mesquitas da Nova Zelândia – que matou 49 fiéis – fez o sinal dos supremacistas brancos ao comparecer neste sábado a um tribunal da cidade de Christchurch, onde foi acusado por vários assassinatos.

O australiano Brenton Tarrant, de 28 anos e fascista declarado, estava algemado e escutou impassível a leitura das acusações contra ele. Tarrant fez o sinal “OK” com a mão direita, símbolo usado pelos adeptos da supremacia branca.

Reprodução/Foto-RN176 Autor de atentado na Nova Zelândia mandou e-mail a premier (Foto: reprodução redes sociais)

O militante de extrema-direita, ex-preparador físico, de vez em quando olhava para os integrantes da imprensa presentes no tribunal durante a breve audiência realizada a portas fechadas por razões de segurança.

Tarrant não pediu fiança e permanecerá na prisão até a próxima audiência, marcada para 5 de abril.

O delegado Mike Bush disse à imprensa que dois suspeitos que tinham sido detidos em uma operação policial e que tinham armas de fogo em seu carro não estavam vinculados ao ataque.

Um deles, uma mulher, foi posta em liberdade, e o outro permanece sob custódia por porte de armas, acrescentou.

“Por enquanto só uma pessoa foi acusada em relação a estes ataques”, acrescentou em alusão ao extremista Brenton Tarrant.

Do lado de fora do tribunal, foi possível ver agentes de elite fortemente armados em todos os pontos de acesso.

No lado de fora, os filhos de um afegão de 71 anos, Daoud Nabi, que morreu no tiroteio, exigiram justiça.

“É repugnante, é uma sensação de repugnância”, declarou um dos filhos de Nabi.

Enquanto isso, 42 pessoas – incluindo uma criança de apenas 4 anos de idade – ainda eram tratadas em vários hospitais como resultado dos ferimentos sofridos durante os ataques de Tarrant.

A ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, disse neste sábado que as vítimas incluem cidadãos da Turquia, Bangladesh, Indonésia e Malásia.

Segundo o canal de televisão Al Arabiya, há pelo menos um cidadão saudita entre as vítimas, enquanto as autoridades paquistanesas alegam que cinco de seus cidadãos estão desaparecidos.

 

Usando um véu escuro, a primeira-ministra se reuniu neste sábado com sobreviventes e parentes das vítimas em uma escola que se tornou um centro de informação para os afetados pelo massacre.

Sahra Ahmed, uma neozelandesa de origem somali, disse ter ficado emocionada com o gesto de Ardern.

“Significa muito para nós. Foi um sinal, como se ela tivesse me dito: ‘Eu estou do seu lado'”, declarou Ahmed à AFP.

O número de mortos no ataque aumentou para 50, após a descoberta de um corpo durante a remoção de vítimas das duas mesquitas, informou a Polícia. Outras 50 pessoas ficaram feridas, das quais 36 permaneceriam hospitalizadas.

Ardern prometeu neste sábado que o país vai endurecer a legislação sobre o acesso às armas.

De acordo com Ardern, o australiano Brenton Tarrant tirou uma licença em novembro de 2017 que permitiu a ele comprar legalmente as armas que usou na matança nas duas mesquitas.

Ardern afirmou que Tarrant havia acumulado todo um arsenal e possuía armas autorizadas.

Pelo menos duas armas semiautomáticas, provavelmente duas AR-15, e dois rifles foram usados pelo agressor. Algumas armas foram modificadas para serem mais eficazes, explicou Ardern.

“O simples fato de que este indivíduo obteve uma licença e adquiriu armas com esse poder, faz com que as pessoas busquem claramente uma mudança, e eu estou comprometida com isso”, afirmou em entrevista coletiva.

“Eu posso dizer uma coisa agora: nossas leis sobre armas vão mudar”, enfatizou.

O suspeito documentou sua radicalização e os dois anos de preparativos para o ataque em um longo e rebuscado ‘manifesto’, repleto de ideias conspiratórias.

A chocante filmagem que ele fez ao vivo mostra um atirador implacável indo de sala em sala, matando uma vítima de cada vez, atirando à curta distância enquanto as vítimas tentavam rastejar para longe na principal mesquita de Christchurch.

A Polícia neozelandesa descreveu a filmagem feita pelo assassino – cuja autenticidade foi verificada pela AFP, mas não compartilhado – como “extremamente angustiante” e alertou usuários da internet de que podem ser condenados a até dez anos de prisão por compartilhar este conteúdo.

Antes de agir, o homem – que se apresentava como um alvo da classe trabalhadora com poucos recursos – publicou no Twitter um manifesto racista de 74 páginas intitulado “A Grande Substituição”, em referência a uma teoria originada na França e que está ganhando terreno entre os círculos da extrema direita.

De acordo com essa teoria, “povos europeus” são “substituídos” por populações de imigrantes não europeus.

O documento detalha dois anos de radicalização e preparativos. O extremista afirma que os principais momentos de sua radicalização foram o fracasso do líder ultra-direitista Marine Le Pen nas eleições francesas de 2017 e a morte da pequena sueca Ebba Åkerlund, de 11 anos, em um bombardeio jihadista em abril de 2017 em Estocolmo.

 

O ataque chocou os neozelandeses, acostumados com índices de violência de 50 homicídios ao ano em todo o país, de 4,8 milhões de habitantes, orgulhoso de viver em um lugar seguro e receptivo.

O ataque também chocou a população muçulmana local, formada em grande parte por refugiados.

Em reação, um grande movimento de solidariedade interreligiosa tomou conta de todo o país, com milhões de dólares de doações e compras de alimentos halal para as vítimas.

Muitos neozelandeses começaram a acompanhar os muçulmanos que tinham medo de sair às ruas.

“Continuamos a amar este país”, disse Ibrahim Abdul Halim, imã da mesquita de Linwood, um dos dois templos atacados, e prometeu que os extremistas “nunca diminuirão a confiança da comunidade muçulmana”.

Christchurch, uma cidade relativamente pequena na ilha sul neozelandesa, ocupou as manchetes dos jornais em 2011, quando foi atingida por um terremoto mortal, que deixou mais de 180 mortos.

Ataques a tiros são muito raros na Nova Zelândia, que tornou mais duras suas leis para armas para restringir o acesso a rifles semiautomáticos em 1992, dois anos depois de um homem com problemas mentais matar 13 pessoas a tiros na cidade de Aramoana, na Ilha