ROTANEWS176 E POR 06/11/2019 13h37 Por Robert Plummer – BBC News
Gary Lyon perdeu seu emprego como gerente de uma empresa por namorar uma subordinada, um caso que lança uma luz sobre as dificuldades que funcionários podem enfrentar com romances no local de trabalho.
O empresário australiano Gary Lyon ainda acha “bizarro” que tenha perdido um emprego por namorar uma colega. Mas tudo acabou bem: eles estão casados há 12 anos e têm uma filha, Charlotte, de 11 anos.
Reprodução/Foto-RN176 Tamra era subordinada a Gary quando eles começaram a namorar Foto: Gary Lyon / BBC News Brasil
Atualmente, Lyon e sua mulher, Tamra, têm sua própria empresa em Brisbane, na costa leste da Austrália, e ele diz que não teria objeções se dois funcionários se apaixonassem. “Isso não me incomodaria nem um pouco, desde que não afetasse o trabalho deles”, afirma Lyon.
O empresário entrou em contato com a BBC para contar sua história depois de saber que o McDonald’s havia demitido seu presidente, Steve Easterbrook, por ele ter um relacionamento com uma funcionária.
A companhia americana disse que tudo foi consensual, mas que Easterbrook “violou a política da empresa” e fez uma “avaliação equivocada” da situação.
A questão lançou uma luz sobre as dificuldades que os funcionários podem enfrentar com romances no trabalho, especialmente se um for hierarquicamente superior ao outro.
‘É uma visão arcaica do mundo’
No caso de Lyon, ele era gerente de operações de uma empresa que fabrica portas e janelas. Ele conheceu Tamra quando ela se juntou à sua equipe como coordenadora de projetos. Depois de três ou quatro meses, eles foram a um evento de colegas do trabalho.
“Sempre gostei dela, e ela deixou claro que também gostava de mim. Tudo começou aí”, diz o empresário.
Na época, ele tinha 41 anos e ela, 27. Eles inicialmente mantiveram o relacionamento em segredo, mas acabaram revelando para os outros que estavam juntos.
“Você não acha que será um problema, mas parece que é, e você não entende o motivo, porque isso não afeta seu trabalho”, diz Lyons.
O casal estava saindo havia cerca de três meses quando Lyon foi chamado e, como ele próprio diz, “veio o golpe”. Lyon perdeu o emprego, mas Tamra manteve o dela. “Ela ficou muito chateada, mas não há muito o que fazer. Você só precisa seguir em frente.”
Lyon diz que não havia um código claro no local de trabalho sobre namoro entre colegas. Ele diz que a decisão foi “muito arbitrária” e que isso representa “uma visão muito arcaica do mundo”.
“Os gerentes devem ser proibidos de namorar subordinados? Não, se for consensual. Você não pode escolher onde encontra o amor, então por que penalizar as duas partes demitindo uma delas?”
Conflitos entre paixões e cultura corporativa
Segundo vários estudos, entre um quarto e um terço de todos os relacionamentos de longo prazo começam no trabalho. Mas é claro que nem todas as relações entre colegas de trabalho se tornam namoros ou casamentos. Alguns são apenas casos.
Mas vários exemplos que se tornaram notórios servem de lembrete de como a vida pode se complicar quando as paixões humanas se chocam com a cultura corporativa.
Brian Krzanich deixou a presidência da fabricante de chips Intel em junho de 2018 por ter violado as regras da empresa ao manter um relacionamento consensual com uma funcionária.
O então presidente do site de reservas de viagens Priceline.com, Darren Huston, pediu demissão em abril de 2016 após uma investigação interna descobrir seu relacionamento com uma funcionária.
Mas, em outubro de 2009, Andrew Moss manteve-se no comando da companhia de seguros Avivsa, apesar de admitir um caso potencialmente comprometedor com uma funcionária que era casada com um de seus executivos. Ele saiu da empresa em maio de 2012.
Empresas estão mais cautelosas
Ao mesmo tempo, as alegações de assédio sexual contra o produtor de cinema Harvey Weinstein — que deram origem ao movimento #MeToo — tornaram os departamentos de recursos humanos mais cautelosos com relação a qualquer atividade sexual entre funcionários, especialmente nos Estados Unidos.
No entanto, Ben Willmott, chefe de políticas públicas do Chartered Institute of Personnel and Development, organização de profissionais de recursos humanos do Reino Unido, diz que apenas uma minoria das empresas têm políticas específicas sobre relacionamentos no trabalho.
Reprodução/Foto-RN176 Gary e Tamra têm uma filha, Charlotte, de 11 anos Foto: Gary Lyon / BBC News Brasil
“A maioria dos empregadores costuma adotar uma abordagem diferente. Têm políticas de dignidade e respeito e prevenção de bullying e assédio sexual, estabelecendo regras claras para lidar com reclamações sobre comportamento inadequado.”
Willmott ressalta que, de acordo com a Lei de Direitos Humanos no Reino Unido, os funcionários têm direito a privacidade e a vida familiar, de modo que as empresas precisam encontrar um equilíbrio.
“Se você tem uma abordagem muito restrititiva, pode indicar que não confia em seus funcionários para agirem como adultos no local de trabalho”, diz ele.
Obviamente, existe a chance de haver conflitos de interesse. “Se uma das partes do relacionamento é responsável por avaliações da outra, revisão de salário, oportunidades de promoção e até mesmo alocação de tarefas, existe o perigo de favoritismo e, por parte dos membros da equipe, percepção de injustiça”, diz Rebecca Thornley-Gibson, sócia do escritório de advocacia DMH Stallard, do Reino Unido.
“Também pode haver problemas como funcionários mais jovens que sentem que não podem dizer não às investidas de um superior, e isso cria um risco real de assédio sexual.”
É provável que proibir os relacionamentos não seja prático para os empregadores, diz ela, mas devem ser avaliadas políticas que minimizem as consequências negativas de um relacionamento no local de trabalho.
“Isso envolve a implementação e a comunicação de políticas sobre conduta, igualdade e políticas de diversidade com uma tolerância zero ao assédio sexual e também exige que funcionários declarem relacionamentos que provavelmente resultarão em um conflito potencial.”