ROTANEWS176 E POR RUNNER’S 04/12/2019 13:35
Reprodução/Foto-RN176 Foto: Acervo Pessoal
Como será que é a rotina dos atletas da Etiópia, conhecida como um dos berços dos maiores campeões da história do atletismo? Para matar a curiosidade, fomos conversar com a administradora e atleta amadora Fernanda Pereira. Ela teve a oportunidade de treinar com os etíopes por 10 dias e conta para nós o que aprendeu com os monstros do esporte. Confira:
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Como descobriu a possibilidade de treinar com os etíopes
Fernanda corre há 15 anos, mas entrou para uma assessoria esportiva apenas em 2017 porque quer fazer a sua primeira meia maratona. “E não foi nem para treinar melhor não. Foi porque eu precisava me informar sobre como e quando aconteceriam as inscrições das provas”, lembra. Ela já havia feito a tão sonhada distância e estava rodando 10K por dia, todos os dias (incluindo os finais de semana), quando ficou sabendo da oportunidade de ir para a África por meio de um treinador que seguia nas redes sociais. “Ele postou que estava indo. Me interessei, falei com ele, e entrei para o grupo.”
Como funciona
A empresa que organiza a experiência leva o nome de Run Africa. Ela realiza treinamentos de corrida em altitude e caminhada de acordo com o tempo de estadia e nível de condicionamento dos clientes. Ou seja, você não precisa ter um rendimento fenomenal para fazer parte do time.
Reprodução/Foto-RN176 Fernanda na Great Ethiopian Run. Foto: Acervo Pessoal
Dois tipos de pacotes são oferecidos: o primeiro serve para quem já está com as passagens compradas e o hotel reservado. Todos os dias, a empresa busca o atleta no local em que ele está hospedado de manhã. E o traz de volta logo depois do treino. Já o segundo pacote tem estadia, alimentação e passeios inclusos. Fernanda optou pelo primeiro. E programou a sua agenda para que seu último dia no país fosse o dia da Great Ethiopian Run, um percurso de 10 quilômetros tão importante para os africanos quanto a São Silvestre é para os brasileiros.
Como é a rotina dos africanos
A atleta amadora lembra que os treinos da manhã começavam às 6h30. “E os etíopes provavelmente acordavam cerca de duas horas antes. Eles dependiam do transporte público de lá, que é bem complicado”.
De acordo com ela, a maioria das pessoas que treinam em campings não trabalham. Então, depois do treino, geralmente iam para casa descansar. “E voltavam à tarde, para a segunda corrida do dia. Lá, cada um fazia, aproximadamente, 600K semanais. E isso porque estamos falando de atletas da segunda divisão, e não os olímpicos”, ela diz.
Reprodução/Foto-RN176 Sessão de alongamento pós-corrida. Foto: Acervo Pessoal
Entre uma rodagem e outra, há sempre uma sessão de alongamento ativo (aquele feito com movimento). “Percebi também que eles fortalecem muito o core. Fazem muitas abdominais por dia.”
Com relação à alimentação, Fernanda afirma que a comida etíope tem as suas semelhanças com as do Brasil. Ovos, feijões e pães reinam em todas as refeições — incluindo o café da manhã.
O que ela aprendeu ao treinar com os etíopes
Das coisas que aprendeu por lá, a administradora conta que vai tentar incorporar algumas delas em seus treinos aqui no Brasil. Como o fato de variar os terrenos e sair do asfalto. “Lá, eles só correm em montanhas e na terra. E ficam chocados quando você fala que pratica corrida no asfalto, porque é um terreno que machuca muito e recruta sempre os mesmos músculos”, ela explica. “Pretendo ir mais vezes em parques de terra batida aqui em São Paulo. Pelo menos aos sábados”. Os treinos em subidas são tão intensos por lá que servem como fortalecimento para muitos deles — a maioria não faz nenhum tipo de cross-training.
Reprodução/Foto-RN176 Foto: Acervo Pessoal
“Outra coisa que chamou a minha atenção é que eles só correm em fila indiana — com o mais experiente na frente, ditando o caminho e o ritmo. E sem relógio ou nenhum tipo de tecnologia: são guiados pela sensação de esforço, e mandam muito bem nisso”, conta.
Lições de vida
Reprodução/Foto-RN176 Foto: Acervo Pessoal
Apesar de não poder falar que sentiu uma evolução em seu desempenho no tempo em que esteve na Etiópia (afinal, Fernanda ficou somente 10 dias), ela conta que aprendeu muito. “Primeiro, a questão do asfalto — vou correr nele o mínimo que eu puder. Além disso, pude entender o que é enxergar a corrida com simplicidade. Ver beleza no esporte como ele é, sem suplementos, dispositivos ou roupas caras. É sobre pegar o tênis e sair para correr.”