ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO 06/04/2019 19:00
ENCONTRO COM O MESTRE
Reprodução/Foto-RN176 Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakai Internacional
Sabedoria para criar a felicidade e a paz (Parte final)
Conteúdo complementar
A coletânea de orientações apresentada na série “Sabedoria para Criar a Felicidade e a Paz”, que nos últimos anos foi publicada no caderno Encontro com o Mestre deste jornal, reuniu preciosos incentivos do Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional. O conteúdo foi dividido em três temas: “Felicidade”, “Revolução Humana” e “Kosen-rufu e Paz Mundial”, sempre organizados por subtemas. As orientações de Ikeda sensei, fonte de luz que brilha como sol da esperança, são direcionamentos para toda a eternidade, para o futuro do kosen-rufu e para o fortalecimento da Soka Gakkai. A partir da edição 2.456, BS publica o conteúdo complementar que finaliza a série, também dividido em três temas: “Direcionamentos para o Futuro”, “O Kosen-rufu É Definido pela Divisão dos Estudantes” e “O Significado do Aprimoramento por meio do Estudo do Budismo”.
Nesta edição, serão publicados os últimos trechos selecionados de orientações de Ikeda sensei relacionados ao significado do aprendizado com o estudo do budismo da Soka Gakkai (kyogaku). Por todas as localidades da Soka Gakkai Internacional, cada vez mais intensamente os praticantes do budismo têm se fortalecido com sua participação nas atividades de estudo e do exame de budismo.
O estudo do budismo é um dos pilares do princípio de “fé, prática e estudo”. Como continuar a aprender e a se desenvolver com o estudo do budismo? Por que ele é importante? Qual a base do estudo do budismo da Soka Gakkai? A partir de agora, vamos estudar profundamente as orientações do presidente Ikeda sobre esse tema e avançar bravamente pelos corretos caminhos da fé, da prática e do estudo.
3.1 O movimento da filosofia do povo
INTRODUÇÃO
Uma passagem do romance Nova Revolução Humana, relembra a ocasião da reunião nacional de líderes, de fevereiro de 1961, em que o presidente Shin’ichi Yamamoto fala a respeito do Exame de Budismo a ser realizado no mês seguinte. No dia do exame, o presidente Yamamoto conta sobre o profundo amor benevolente que ele tem pelos participantes. No trecho apresentado, foi registrado o sentimento depositado por Ikeda sensei nessa importante atividade.
DISCURSO DO PRESIDENTE IKEDA
Trecho extraído do romance Nova Revolução Humana, v. 4, capítulo “Tempestade Primaveril”.
[Na Reunião Nacional de Líderes de 25 de fevereiro de 1961]
Reprodução/Foto-RN176 Desde a sua fundação, a Soka Gakkai traz na base o estudo do budismo que, incentivado pela SGI, se tornou um grande movimento para levar a filosofia budista a todas as pessoas. Na foto, jardins do Memorial Makiguchi de Tóquio (Japão, abr. 2017)
Shin’ichi falou sobre o Exame de Budismo que seria realizado no início de março.
— Estando próximo do exame, acredito que os senhores estejam muito atarefados. O que eu gostaria de enfatizar hoje é que aqueles que forem aprovados não se tornem arrogantes e, em caso de reprovação, não fiquem tristes ou desanimados. O Exame de Budismo da Gakkai foi criado como forma de estimular o estudo da filosofia de vida de Nichiren Daishonin ao longo da nossa vida. Por isso, aquele que se tornar arrogante e desprezar os outros só por ter sido aprovado no exame, na realidade estará sendo reprovado na prática da fé. Por outro lado, mesmo que não sejam aprovados, devem fazer disso uma oportunidade para desafiarem a si mesmos e se empenharem ainda mais no estudo do budismo e serem aprovados na prática desta fé que abraçaram. Aliás, isso é o mais importante. Espero que todos gravem as frases dos escritos profundamente em seu coração e desenvolvam uma fé realmente firme e forte que não se abale diante de quaisquer obstáculos ou infortúnios — eis o objetivo do estudo do budismo.
O Exame de Budismo foi realizado no domingo, dia 5 de março, em mais de 180 locais abrangendo 125 cidades. Na parte da manhã, com início às 9 horas, foram realizados os exames de 2o Grau e Grau Médio para os membros; e a partir das 14 horas, o Exame de Admissão para os novos membros.
O total de participantes foi pouco mais de 110 mil pessoas. Esse número era três vezes maior que o do último exame realizado menos de dois anos antes, em 1959.
Era mais outro aspecto do fenomenal progresso da Soka Gakkai sob a liderança de Shin’ichi Yamamoto. Entre aqueles que prestaram os exames havia donas de casa, presidentes de empresa, estudantes e professores, desde adolescentes até pessoas idosas. Todos, criando algum tempo entre as tarefas diárias do lar, do trabalho, estudos, ou entre atividades da Gakkai, se esforçaram para ler os escritos de Nichiren Daishonin e aprender sobre a filosofia budista. Surgiram até mesmo histórias de muitos analfabetos que aprenderam a ler e a escrever por meio de tenazes esforços.
A construção de uma nova era e de uma nova sociedade inicia-se quando o povo abraça uma sólida filosofia de vida e tem uma clara conscientização de sua própria missão. O programa de estudo da Soka Gakkai tornou-se, assim, um grande e inédito movimento filosófico de educação das pessoas comuns.
Ao final do dia em que foi realizado o exame, Shin’ichi Yamamoto conversou com o coordenador do Departamento de Estudo do Budismo, Chuhei Yamadaira, na sede da Soka Gakkai.
— Como está se desenrolando a correção do exame em todo o país?
— Está sendo realizada de forma satisfatória.
Shin’ichi falou em voz baixa:
— Os que prestaram o exame esforçaram-se bastante, gostaria de poder aprovar todos …
— Isso não é possível! – respondeu Yamadaira categoricamente.
Shin’ichi sorriu.
— Obviamente não é possível. Afinal é um exame… Contudo, esse é o meu sentimento. Mas fico pensando, por exemplo, na dificuldade de uma senhora que precisa cuidar de seu filho pequeno e ainda se empenhar arduamente no estudo do Gosho e nas atividades da Gakkai — isso é algo muito difícil de fazer. Quando quer estudar com calma, a criança começa a chorar e é preciso ainda dedicar-se aos afazeres de casa como limpar e cozinhar. É o mesmo que abrir o Gosho no meio de um campo de guerra. Por ser uma atividade budista, isso pode parecer algo natural, mas o que eu não gostaria é de frustrar essas pessoas com o resultado do exame. Aquelas que forem aprovadas são excelentes. Mas o que eu sempre penso é de que maneira incentivar aquelas que não conseguiram aprovação.
3.2 O grande caminho fundamentado no Gosho
INTRODUÇÃO
Neste trecho, Ikeda sensei afirma que a Soka Gakkai pôde avançar sem hesitar perante quaisquer perseguições exatamente porque mantém o Gosho como base.
DISCURSO DO PRESIDENTE IKEDA
Proferido na conferência para representantes de divisão, realizada no dia 26 de dezembro de 2008, em Tóquio, Japão.
O espírito de procura de quem se empenha nos “dois caminhos da prática e do estudo” está se expandindo por todo o planeta. Os povos do mundo todo estão estudando e agindo baseados no grande budismo do humanismo. As orientações testamentais de Daishonin vêm se tornando realidade por meio das ações da Soka Gakkai, conforme desejo e ordem do Buda.
Nossa organização sempre terá o Gosho como base. Ele representa o escrito da esperança que mostrou plenamente a toda humanidade que “o inverno nunca falha em se tornar primavera” (CEND, v. I, p. 560); é a “escritura da dignidade da vida” que afirma resolutamente “que a vida é o supremo tesouro” (CEND, v. II, p. 393). É a “escritura da paz” que abriu o caminho do “estabelecer o ensinamento correto para a pacificação da terra” (rissho ankoku).
O Gosho é a “escritura da vitória” que elucida plenamente que “a razão vence o poder autoritário” (CEND, v. I, p. 99) e que “a justiça vence o perverso mal” (Ibidem, p. 646).
Ao abrir os escritos de Nichiren Daishonin, somos banhados pelos raios da esperança. Ao estudar o Gosho, surge a coragem e emerge a sabedoria, isso porque o sentimento de Daishonin pulsará em nossa vida. É exatamente aí que incandescerão as chamas da “prática da fé para superar as dificuldades”.
Minha esposa, quando pequena, presenciou uma cena numa reunião de palestra realizada em sua casa. Na ocasião, ela viu o primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, dar o “rugido do leão” lendo o Gosho ao ser vigiado pela Polícia Superior Especial japonesa (Tokko),1 e gravou essa imagem do mestre em sua vida.
Ela recebeu do segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, o treinamento de que “a Divisão Feminina de Jovens deve se levantar com base no estudo do budismo (kyogaku)!” Por isso, ela passou a ler ininterruptamente, com seriedade, os escritos de Nichiren Daishonin, quaisquer que fossem as circunstâncias.
Mesmo depois de se tornar membro da Divisão Feminina (DF), continuou a ler os escritos aproveitando todos os instantes possíveis, inclusive estudando-os num canto da cozinha entre suas atividades. Durante o redemoinho do que chamamos de “Incidente da Liberdade de Expressão”,2 um repórter veio me entrevistar. Ele presenciou, então, por acaso, a imagem da minha esposa que estudava tacitamente o Gosho. Soube que esse repórter ficou surpreso e expressou seu pensamento: “Ela está estudando os ensinamentos do budismo até mesmo num momento como esse!”.
Por isso, minha esposa não foi derrotada. A DF não se abalou. Permaneceu imperturbável também em meio às grandes perseguições, e incentivaram as companheiras com sorriso no rosto. As fontes dessa vitória são a recitação do daimoku e a leitura do Gosho.
Toda sensei ensinou a postura de estudar o Gosho: “Devem continuar a ler concentradamente, linha por linha, com o forte sentimento de ‘Deve ser assim! É exatamente desta forma!’”.
Pode ser apenas um trecho do Gosho. O importante é ler todos os dias e pôr o que leu em prática. Desejo que estudem bastante, pratiquem o que aprenderam e estabeleçam imponentemente o marco dourado da vitória ou derrota com base no budismo.
Reprodução/Foto-RN176 Representante da DF participa do Aprimoramento para Explanadores de Graus Avançados do Departamento de Estudo do Budismo da BSGI (Itapevi, fev. 2019)
3.3 Integrantes da DFJ, levantem-se com o estudo do budismo!
INTRODUÇÃO
“Estudar a mais elevada filosofia do mundo” é a segunda das “Cinco diretrizes eternas da DFJ”, direcionada para a Divisão Feminina de Jovens. Essas importantes orientações foram apresentadas por ocasião de sua primeira visita à Sede da Divisão Feminina de Jovens da Soka Gakkai, inaugurada em 2006. Além de enfatizar o significado de pôr em prática essa segunda diretriz, destacou a importância de se dedicar ao estudo.
DISCURSO DO PRESIDENTE IKEDA
Proferido na Conferência Comemorativa do Terceiro Aniversário de Inauguração da Sede da Divisão Feminina de Jovens da Soka Gakkai, em 4 de junho de 2009, em Tóquio.
Nichiren Daishonin afirmou de forma contundente: “Se a Lei é suprema, a pessoa que a abraça também é suprema” (CEND, v. I, p. 63).
O que define a grandiosidade de uma pessoa? Isso não é decidido por coisas como fortuna, fama ou beleza. Não são poucas as pessoas que passam a sua existência em ciclos de infelicidade, mesmo ao se tornarem famosas e estarem momentaneamente sob os holofotes.
A grandeza de uma pessoa é definida pela filosofia que ela abraça e estuda e o que põe em prática. Aquelas que abraçam a “suprema filosofia de vida do mundo” são as pessoas que viverão “a mais nobre e plena juventude do mundo” e as que trilharão “a mais valorosa existência de vitórias do mundo”.
O ser humano, inevitavelmente, volta seu olhar para um mundo de brilho e glamour. Ao ser bajulado pela sociedade, ele se vê como alguém mais importante que os demais. Se tiver uma alta posição social, pensa ser uma pessoa inalcançável. Tudo isso não passa de mera ilusão.
Não existe um tesouro superior à própria vida. Não existe felicidade fora de si, e não existe originalmente nada tão maravilhoso quanto a própria vida.
Façam resplandecer o supremo tesouro que existe em si mesmas — essa é a verdadeira filosofia, isso é budismo.
De forma geral, ao olhar para outra pessoa, pode acontecer de compará-la consigo. É claro que é importante o desejo de aprender os pontos positivos das outras pessoas, no entanto, não tem graça invejar o outro: “Que boa é a situação daquela pessoa. Parece ser feliz. Perece ser maravilhosa”. Isso não serve de nada. Uma pessoa vitoriosa é a que vive a lapidar a si mesma, sentindo em si a razão de viver. Espero que registrem isso em seu coração.
O Sutra do Lótus, através do conceito da “iluminação das mulheres”, enaltece a filosofia da vida, que delineia a história mundial abrindo o caminho da igualdade, dignidade e felicidade de toda a humanidade.
Constam registradas no Gosho frases como: “a iluminação das mulheres é apresentada como exemplo [da iluminação de todos os seres vivos]” (CEND, v. II, p. 195) e “e de todos os ensinamentos contidos neste sutra [Sutra do Lótus], o que expõe sobre a iluminação das mulheres é o principal” (Ibidem).
Reprodução/Foto-RN176 Ikeda sensei incentiva a DFJ a vencer com base no estudo do budismo. Na foto, componentes da divisão participam do Primeiro Encontro Nacional de Estudo do Núcleo Sabedoria Kaiyo (São Paulo, 17 set. 2017)
Foi graças às sérias orações e aos fortes e tenazes esforços das suas nobres veteranas que o “século da vida” se expande cada vez mais. O glorioso palco onde vocês “saltarão bailando” está crescendo pelo mundo inteiro.
“Empenhe-se nos dois caminhos da prática e do estudo. Sem prática e estudo não pode haver budismo. Deve não só perseverar como também ensinar aos outros. Tanto a prática como o estudo surgem da fé” (Ibidem, p. 405) — este é um importante trecho de O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos.
Espero que vocês experimentem e comprovem, conforme este dito, quão nobre é uma juventude que se empenhou nos “dois caminhos da prática e do estudo”.
Assim consta também registrado nos ensinamentos de Nichiren Daishonin: “Outras pessoas leem o Sutra do Lótus de modo superficial e não com o coração. E mesmo que leiam o Sutra com o coração, eles não o leem com suas ações. Uma atitude de fato louvável é ler o sutra com ambos o corpo e a mente” (CEND, v. I, p. 212).
Por terem emitido o rugido da justiça do rei leão, sem nenhuma divergência com o coração de Daishonin, sofreram perseguições que chegaram a custar a vida e continuaram a lutar ininterruptamente contra todos e quaisquer obstáculos e maldades — assim agem mestre e discípulo Soka. Desejo que também as integrantes da Divisão Feminina de Jovens (DFJ) sucedam diretamente este caminho resplandecente de glórias.
“Membros da DFJ, levantem-se com o estudo do budismo (kyogaku)!” — essa é a eterna diretriz de Toda sensei.
Como é grandiosa a filosofia de felicidade e paz da humanidade do Budismo Nichiren! Revoluciona a vida de cada pessoa, une o coração dos povos e transforma o destino do mundo. Esse caminho fundamental só é possível ao manifestar a sabedoria budista.
Toda sensei refutou de forma rigorosa:
Não importando quanto se busque respostas no mundo externo, não há como chegar ao profundo mundo da felicidade da própria vida.
Nichiren Daishonin buscava saber como a humanidade poderia se tornar feliz. Quando nós estudamos e colocamos plenamente em prática essa filosofia de vida de Daishonin, resplandece a suprema capacidade que possibilitará, sem falta, que nos tornemos felizes.
Meu venerado mestre, disse também a respeito do significado de se ter uma filosofia de vida:
Por que estudar a filosofia é importante para o ser humano? Por que o budismo é importante para a vida? Se apenas agíssemos como quiséssemos, sem leis, não haveria necessidade de ir à escola estudar ou mesmo de fazer a prática da fé budista. Se alguém agir assim, sem falta, terá arrependimentos.
O ato de estudar a filosofia e o budismo é como ter contato com as profundezas da vida. É um imenso júbilo manifestar um grande coração, derramar profundas lágrimas de emoção, demonstrar eterna alegria e verdadeira felicidade.
Como é imensa a felicidade de compreender, além dos profundos mistérios da vida, a própria existência repleta e transbordante de ilimitada alegria.
Toda sensei afirmou também:
A Soka Gakkai, ao tornar o Gohonzon sua base, avança com o nobre objetivo chamado kosen-rufu e nos incentiva a agir pondo em prática o estudo do budismo, que é a essência do budismo do oriente e a suprema filosofia do mundo.
A profundidade dos laços cármicos daqueles que vivem em prol do kosen-rufu unidos à Gakkai é imensurável.
Meu mestre ensinou às jovens da DFJ:
Observando atentamente a vida, o budismo reúne plenamente quatro visões: de si mesmo, da vida, da sociedade e do universo. Leiam mais atentamente o Gosho, pois está tudo plenamente escrito lá.
Qualquer que seja o problema que venha a surgir, se fizerem do Gosho a base da sua vida, jamais serão confundidas ou ludibriadas. Ao se levantarem tendo como base a visão de valor chamada Lei Mística, saberão como proceder em qualquer situação.
Ao observarem com os olhos da prática da fé, verão o caminho a ser seguido. Não serão iludidas pela vaidade ou pela hipocrisia.
É realmente muito grande o significado de estabelecer no coração o estudo do budismo como inabalável pilar desde a época da juventude, período no qual os sentimentos oscilam bastante.
3.4 Possibilitar que todas as pessoas manifestem seu estado de buda
Prefácio em português da Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, v. I, publicada no dia 18 de novembro de 2013.
Como dar esperança ao ser humano? Como dar sentido à vida humana? Presume-se que nessas questões esteja a missão original da religião. Todas as religiões almejam conduzir o ser humano à paz espiritual e o mundo à paz e à felicidade. Nesse sentido, supõe-se que, fundamentalmente, a intenção de todas as religiões seja tornar-se uma “religião em prol do ser humano”. Estou certo de que ter profunda consciência deste ponto comum representa o requisito essencial para uma religião no mundo contemporâneo, dito globalizado. As bases para a promoção do diálogo inter-religioso, considerado um desafio para a civilização, também se encontram nesse ponto.
Naturalmente, cada religião possui algo que lhe é próprio e que a distingue. Por exemplo, em relação à concepção da verdadeira paz espiritual, é de se supor que os pontos de vista variem de uma religião para outra. As religiões apresentam diferentes respostas para esta questão, tais como: “o amor divino”; “a sujeição a um poder invisível”; “uma ação embasada no bem”, “a paz no coração” e “o controle dos desejos mundanos”.
As diferenças entre as religiões originam-se das complexas influências de fatores primários como, por exemplo, a “diversidade dos seres humanos”, as “diferenças de época”, as “diferenças regionais”, as “diferenças históricas”, entre outros. Todavia, apesar dessas diferenças, em todas as doutrinas há sempre uma verdade, bem como um meio para a obtenção da felicidade humana. Em um diálogo inter-religioso nos dias atuais, o reconhecimento das diferenças e a postura de aprender uns com os outros o ponto de vista e a verdade das respectivas religiões possibilitarão, com certeza, um aprimoramento mútuo como “religião em prol do ser humano”. Sou uma das pessoas que nutrem o profundo desejo de que as religiões da humanidade evidenciem o seu valor característico, unam-se como uma “religião em prol do ser humano”, e se tornem a mais suprema força para a concretização da paz do mundo, caminhando sempre pela estrada do diálogo e do aprimoramento recíproco.
Diz-se que o século XX foi a época em que as diversas religiões da humanidade passaram a se conhecer mutuamente. De fato, a séria reflexão sobre a tragédia causada por duas grandes guerras mundiais trouxe uma nova consciência sobre os verdadeiros objetivos de uma religião: a felicidade do ser humano e a paz mundial. Foi a partir dessa consciência que o fluxo do mútuo reconhecimento se iniciou. A missão das religiões neste século XXI é expandir essa correnteza tornando-a uma tendência efetiva.
A Soka Gakkai foi fundada em 1930, no intervalo entre as duas grandes guerras mundiais. Na época, todas as religiões do Japão haviam sido incorporadas à estrutura do Estado para servi-lo e não tinham força nem coragem para bloquear a tendência belicista da sociedade. Nessa circunstância, a Soka Gakkai redescobriu o potencial do Budismo de Nichiren Daishonin e do alicerce deste, o Sutra do Lótus, no que se refere à “religião em prol da felicidade do ser humano”. Desenvolveu uma prática religiosa visando à realização da felicidade humana e, em consequência, sofreu forte pressão do governo militarista da época que conduziu o primeiro e o segundo presidentes Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda ao cárcere. O primeiro presidente encerrou sua vida como mártir na prisão.
De acordo com o Sutra do Lótus – a quintessência do budismo Mahayana – o desejo dos bodisatvas, a “felicidade de si próprio e dos outros”, representa a aspiração principal dos seres humanos e de todos os seres vivos. Despertar as pessoas para esse desejo fundamental e inspirá-las a manifestar a bondade inerente, eis a missão primordial não só do budismo, mas de todas as religiões.
O Sutra do Lótus elucida o surgimento, no mundo real, de incontáveis bodisatvas encarregados desta missão primordial da religião. São os chamados “bodisatvas da terra”. Este é um assunto da máxima importância, pois mostra que todas as pessoas podem se tornar bodisatvas da terra quando despertam para o desejo original da sua vida.
No Sutra do Lótus, resplandece também a figura do bodisatva Jamais Desprezar que nunca interrompeu a sua prática de reverenciar as pessoas. Mesmo sofrendo perseguições, ele recitava este verso do sutra a todos com quem encontrava: “Eu os reverencio profundamente”. Pode-se dizer que aqui se encontra o âmago da prática do bodisatva – prezar e respeitar a todos por acreditar na existência da natureza de buda em si próprio e no outro.
Nichiren Daishonin declarou solenemente: “O coração dos ensinamentos de toda a existência do Buda é o Sutra do Lótus, e o coração da prática do Sutra do Lótus se encontra no capítulo ‘Jamais Desprezar’. Qual o significado do profundo respeito que o bodisatva Jamais Desprezar sentia pelas pessoas? O propósito do advento do buda Shakyamuni, o senhor dos ensinamentos, neste mundo reside em seu comportamento como ser humano” (WND, v. I, p. 852; CEND, v. II). Esta declaração é o brado de que a conduta do bodisatva Jamais Desprezar de “respeitar as pessoas” constitui a essência da prática do Sutra do Lótus e dos ensinamentos do Buda.
Nichiren Daishonin concluiu que na época em que ele vivia, no Japão do século XIII, o grande desejo do Buda de tornar realidade a consecução do estado de buda para todas as pessoas estava para ser esquecido. Quando se perde de vista o grande desejo do Buda de mostrar o caminho do supremo potencial da vida, o ser humano é levado pelo egoísmo, e os três venenos – avareza, ira e estupidez – invadem a vida das pessoas e da sociedade tal como uma torrente de impurezas. No final, chega-se a uma época na qual prevalece o ciclo de infelicidade que conduz à infelicidade e do mal que conduz ao mal.
Em uma época crítica como essa, Nichiren Daishonin bradou ser necessário, para a realização do grande desejo do Buda, herdar a missão dos bodisatvas da terra e a ação do bodisatva Jamais Desprezar, transmitindo-as ampla e vigorosamente para todas as pessoas. Com esse intuito, Daishonin assumiu a vanguarda na expansão de seus ensinamentos para todas as direções.
(…)
Recordo-me de que a edição da Soka Gakkai de Nichiren Daishonin Gosho Zenshu – a coletânea dos textos originais em japonês contidos na presente obra – foi publicada em abril de 1952, cerca de um ano após a posse do meu venerado mestre, professor Josei Toda, como segundo presidente. Podemos afirmar que o notável avanço da Soka Gakkai sob a liderança do professor Toda, após o término da Segunda Guerra Mundial, teve início com a publicação do Gosho. A partir de então, os membros da Soka Gakkai do Japão fizeram deste Gosho Zenshu a base de sua prática da fé e de sua vida diária, e empenharam-se em prol da felicidade e da paz da humanidade, ou seja, da realização do kosen-rufu, o testamento de Nichiren Daishonin. Assim, personificaram maravilhosamente a figura do bodisatva descrita no Sutra do Lótus.
(…)
Aos amigos da SGI que farão desta obra o nutriente para fortalecer sua fé, gostaria de destacar alguns pontos essenciais para a leitura do Gosho. Ler o Gosho nada mais é que nos relacionar com o mais nobre e, ao mesmo tempo, o mais rigoroso espírito de Nichiren Daishonin, que elucidou e propagou a verdadeira Lei, devotando a sua vida para libertar as pessoas do sofrimento.
Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda dedica a vida à promoção do kosen-rufu, concretizando os ideais do seu mestre, tendo como base o Gosho (Japão, mar. 2011)
Em cada linha dos escritos de Nichiren Daishonin, podemos apreciar o brilho de sua notável espiritualidade. Por exemplo, sempre que leio a frase do juramento de Daishonin: “… os vários sofrimentos a que os seres vivos são submetidos são todos sofrimentos do próprio Nichiren” (WND, v. II, p. 934; CEND, v. III), sinto inevitavelmente sua grandiosa compaixão de “jamais deixar de libertar as pessoas do sofrimento”. Em consonância com o desejo de Daishonin e fazendo deste o seu próprio coração, a Soka Gakkai se levantou com a disposição de aplicá-lo no mínimo que fosse. Em outras palavras, colocando-se ao lado das pessoas que mais sofrem, a Soka Gakkai perseverou no processo de incentivá-las e revitalizá-las, incutindo-lhes a esperança genuína de que todos possuem a natureza do buda. Assim foi construída a rede de solidariedade embasada nesta maravilhosa filosofia que, hoje, abrange o mundo.
Outra frase dos escritos que me comove profundamente, e considero uma verdadeira joia, diz: “Pode parecer que, por ter nascido nos domínios do governante, eu deva segui-lo em minhas ações. Porém jamais o seguirei em meu coração” (p. 605). Em termos contemporâneos, pode-se interpretar essa frase como uma expressão de “livre-arbítrio”, de “liberdade de crença” e de “liberdade de pensamento”. Para conquistarmos a liberdade, precisamos consolidar em nosso interior o “coração do rei leão” que não se curva a quaisquer tipos de natureza maligna do poder. Creio que, somente quando se vive uma existência com convicção na justiça, superando a todos os tipos de sofrimentos e manifestando o “coração do rei leão”, pode-se dizer que a passagem mencionada foi lida com a própria vida.
O estudo do Gosho tem como objetivo aprofundar a prática da fé e nos relacionar com a nobre espiritualidade de Nichiren Daishonin. Ao estudarmos os profundos princípios do budismo, fortalecemos a convicção de que a esperança, a paz e a felicidade absolutas residem na nossa própria vida. Aprendendo com as ações de Daishonin, que triunfou em todas as perseguições, podemos evidenciar a coragem para desafiarmos os sofrimentos e as adversidades. Essa importante proposição de “estudo do budismo posto em ação” é imutável pelas três existências – passado, presente e futuro.
Desejo, do fundo do coração, que os associados da SGI de todo o mundo dediquem-se com seriedade no estudo do Gosho, fazendo arder cada vez mais as chamas do espírito de procura e da prática da fé.
A coletânea de orientações de Daisaku Ikeda “Sabedoria para criar a Felicidade e a Paz”, que veio sendo publicada desde abril de 2014 (na revista Daibyakurenge), foi concluída nesta edição. Muito obrigado.
Comissão de Editoração da Coletânea de Orientações do Dr. Daisaku Ikeda
Notas:
- Tokko: ou Tokk, foi um grupamento da polícia japonesa fundado em 1911 para investigar e controlar especificamente grupos políticos e ideológicos considerados uma ameaça para a ordem pública do país.
- Descrito na NRH, v. 14, capítulo “Vendaval”.
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Desde a sua fundação, a Soka Gakkai traz na base o estudo do budismo que, incentivado pela SGI, se tornou um grande movimento para levar a filosofia budista a todas as pessoas. Na foto, jardins do Memorial Makiguchi de Tóquio (Japão, abr. 2017)
Representante da DF participa do Aprimoramento para Explanadores de Graus Avançados do Departamento de Estudo do Budismo da BSGI (Itapevi, fev. 2019)
Ikeda sensei incentiva a DFJ a vencer com base no estudo do budismo. Na foto, componentes da divisão participam do Primeiro Encontro Nacional de Estudo do Núcleo Sabedoria Kaiyo (São Paulo, 17 set. 2017)
Presidente Ikeda dedica a vida à promoção do kosen-rufu, concretizando os ideais do seu mestre, tendo como base o Gosho (Japão, mar. 2011)