Obter sabedoria para cultivar boa saúde

ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO 18/04/2020 07:18

ENCONTRO COM O MESTRE

Reprodução/Foto-RN176 Dr. Daisaku Ikeda e sua esposa Sra. Kaneko Ikeda, ele  é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista  e atualmente é o Mestre e Terceiro Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI. Ele  e sua esposa, Kaneko, fazem exercícios juntos no Centro de Treinamento de Miami, Estados Unidos, em fevereiro de 1993 – Editora Brasil Seikyo – BSGI

O Budismo de Nichiren Daishonin está diretamente ligado à vida diária. Ele engloba questões comuns, mas importantes, inclusive a saúde. No Encontro com o Mestre desta edição, BS apresenta tópicos do diálogo do presidente da Soka Gakkai Internacional, Dr. Daisaku Ikeda, publicados no livro Sabedoria na Saúde em que ele relaciona a saúde com a prática budista.

  1. DAISAKU IKEDA

Fortalecer a mente por meio do budismo

A saúde é uma aspiração universal dos seres humanos. Por mais rica ou poderosa que a pessoa seja, a saúde é o fator mais precioso e que está acima de tudo. Houve um homem que, de um rapaz pobre, conseguiu chegar a ser uma das pessoas mais ricas do mundo.

Ele adoeceu e confessou que daria toda a sua riqueza em troca de juventude e saúde. Não se importava em voltar a ser pobre contanto que tivesse saúde e força para trabalhar. Acredito que todos nós devemos valorizar esse ponto. O budismo reconhece a doença como um dos sofrimentos básicos que os seres humanos experimentam — como podemos observar a partir de sua inclusão como um dos “quatro sofrimentos” da vida: nascimento, envelhecimento, doen­ça e morte.

Visando libertar as pessoas desse sofrimento, o budismo e a medicina partilham de um objetivo comum. Qual é o segredo para viver plena e vigorosamente dia após dia? Consideremos essa questão da perspectiva do budismo e da ciên­cia médica.

Budismo e realidade

A relação entre a mente e a doen­ça, a mente e a saúde, é um ponto em que o budismo e a medicina convergem. As escrituras budistas também apresentam muitas formas de classificar as doenças. No GoshoNichiren Daishonin escreve sobre as 404 enfermidades do corpo e os 84 mil tipos de doenças da mente, e os últimos surgem dos “três venenos” — avareza, ira e estupidez.1

O budismo não é simplesmente um ensinamento espiritual; tampouco se trata de teoria abstrata. Ele focaliza a realidade das doenças físicas e mentais e procura amenizar o sofrimento a partir das perspectivas de sua filosofia e da medicina.

Além disso, é muito natural que o budismo se preocupe em primeiro lugar com o papel da mente. E como as doenças relacionadas ao estresse aumentam, a relação entre a mente e a saúde em geral será ainda mais focalizada.

Desafio e criatividade

O Dr. Norman Cousins2 resumiu sua crença numa única palavra: “esperança”. A esperança, ele dizia, era sua arma secreta. Em nosso diálogo, ele observou:

A morte não é a maior tragédia que nos recai em vida. É muito mais trágico uma parte importante de si mesmo morrer enquanto ainda se está vivo. Não há tragédia mais terrível do que esta. O mais importante é realizar algo na vida.3

A saúde não é simplesmente uma questão de não ocorrência de doença. Saúde significa constantes desafios, constante criatividade. Uma vida produtiva sempre avan­ça, revelando amplas perspectivas, ou seja, uma vida verdadeiramente sã. Um espírito indomável é o que sustenta a força de querer sempre avançar.

Cuidar da saúde também é sinal de fé

Lembrem-se: as pessoas não existem para o bem da religião; a religião exis­te para beneficiar as pes­soas. Além disso, o budismo baseia-se na razão. É natural valer-se de cada meio da medicina, da forma mais valiosa, a fim de proteger nossa saúde. É um erro pensar que jamais adoeceremos só porque temos fé; proceder dessa forma é, na realidade, um ato de arrogância.

Quando tivermos qualquer incômodo, é correto e natural consultarmos o médico. Na realidade, é justamente por praticarmos a fé que devemos dar uma atenção especial à saúde. Conforme Nichiren Daishonin escreveu: “A vida é o tesouro mais raro. É dito que mesmo os tesouros de todo um grande sistema de mundos não podem se igualar ao valor do corpo e da vida”.4 Conforme acumulamos mais boa sorte, mais capacitados estaremos para proteger o budismo. A razão fundamental de eu ter iniciado esta série é porque desejo enviar uma mensagem aos nossos dedicados companheiros para que desfrutem uma vida longa e saudável.

O médico auxilia o poder de cura inerente aos pacientes

O segundo presidente da Soka Gak­kai, Josei Toda, disse certa ocasião que há dois problemas fundamentais com as pessoas de hoje. Um deles é a confusão entre conhecimento e sabedoria, e outro é a confusão entre doença e morte. Conhecimento e sabedoria não são a mesma coisa. Há muito o que dizer sobre a relação entre os dois.

Com referência ao budismo e à ciência médica, podemos dizer, muito genericamente, que a medicina combate a doença com o conhecimento científico. O budismo, por outro lado, desenvolve a sabedoria humana de forma que possamos encontrar nosso próprio ritmo e fortalecer nossa energia vital.

Isso assegura a eficácia do tratamento médico e também nos ajuda a vencer a doença por meio de nossos próprios poderes naturais de cura.

(…)

O budismo nos dá sabedoria para utilizarmos a medicina adequadamente. A sabedoria é o ingrediente básico para a saúde, a longevidade e a felicidade. O novo século da saúde, portanto, deve ser um novo século de sabedoria.

Doença como ponto para reflexão

A doença não necessariamente leva à morte. Nichiren Daishonin escreveu: “A doença faz surgir em nós a determinação de entrar no caminho”.5

A doença pode nos obrigar a examinar nossa existência. Ela pode ser um fator motivador extremamente importante e precioso. Certa pessoa disse que aquele que nunca ficou doente só consegue compreender metade da vida.

(…)

A luta contra a doença nos leva a compreender a vida humana e desenvolve em nós um espírito indomável. Eu próprio sofri por ter uma constituição frágil desde a infância. Tive tuberculose e, por essa e outras razões, não imaginava que passaria dos 30 anos.

No entanto, essa experiência nos leva a compreender os que se encontram doentes. E essa é a razão de cada momento ser extremamente importante para mim, de eu ter determinado realizar tudo o que puder enquanto estiver vivo sem desperdiçar um minuto, e de ter vivido intensa e plenamente todos esses anos.

Saúde física e saúde mental

Há muitas pessoas saudáveis fisicamente, mas cujo interior é doente. E há também aquelas que sofrem de alguma doença física, mas cuja energia vital interior é saudável. Todos nós haveremos de sofrer com algum tipo de doen­ça durante a nossa existência. Eis por que é importante obter a sabedoria para lidar com ela adequadamente.

Embora possam parecer contraditórias, da perspectiva budista a saúde e a doença não estão separadas, tampouco a vida e a morte. Elas são parte de um único todo. Por essa razão, a perspectiva budista sobre a saúde não se limita a essa única vida. Seu foco principal é uma vida saudável pelas “três existências” — passado, presente e futuro.

Por exemplo, mesmo após entrarmos na fase da morte, nossa vida em si continua em um estado tranquilo, latente, aguardando por uma nova oportunidade de dar prosseguimento à nossa missão. Quando essa oportunidade surge, ela entra na fase da vida novamente e renasce. Nós, então, resplandecemos com uma vida eternamente saudável. Nesse sentido, no final de tudo, estamos lutando pela boa saúde tanto na vida como na morte.

Ter saúde é viver em harmonia

O budismo expõe sobre a harmonia dos quatro elementos. Os antigos hindus consideravam que a vida consistia de quatro elementos: terra, água, fogo e vento.

O corpo, os ossos, os cabelos, os dentes e os músculos eram todos considerados como componentes da terra. O sangue e outros fluidos do corpo eram considerados como a água. A temperatura do corpo era o fogo. A respiração, o vento. Todos esses elementos combinados harmoniosamente formavam o indivíduo.

As doenças do corpo eram como um desequilíbrio ou uma desarmonia entre esses elementos.6

Prevenir-se contra doenças respiratórias

É realmente importante não dei­xar que a exaustão se acumule. Evitar a fadiga crônica é o melhor meio de prevenir todas as doenças. Quando estiver cansado, deve ir para a cama cedo e dormir. O ideal seria tentar eliminar o cansaço no mesmo dia. Tudo isso faz parte da batalha para se manter saudável. Precisamos ser cuidadosos ao distinguirmos entre forte fé e fé excessiva. Quando você se esforça demasiadamente, não consegue ir muito longe.

Fazer gargarejos e lavar as mãos também são medidas importantes para se prevenir dos resfriados.

[Resposta do Dr. Shuhei Morita, que participou do diálogo, ao comentário do presidente Ikeda: Sim. Os vírus do resfriado espalham-se quando as pessoas espirram ou tossem. Nós respiramos os vírus ou os transportamos de nossas mãos para a boca, sendo dessa forma infectados. Portanto, é preciso que lavemos cuidadosamente as mãos e façamos gargarejos.]

A saúde dos nossos membros é minha prioridade máxima. Meu mais sincero desejo é que todos sejam saudáveis e cheios de energia para que possam participar de forma plena na sociedade. Estou sempre orando pela saúde dos membros.

Notas:

  1. CEND, v. II, p. 378.
  2. Norman Cousins (1915–1990): Jornalista norte-americano e ativista da paz. Seu diálogo com o presidente Ikeda foi publicado em livro. [IKEDA, Daisaku; COUSINS, Norman. Seikai Shimin no Taiwa (Diálogo entre Cidadãos do Mundo). Tóquio: Mainichi Shimbunsha, 1991.]
  3. IKEDA, Daisaku. Watashi no Kuyuroku (Diálogos Íntimos com os Pioneiros Globais). Tóquio: Yumiuri Shimbunsha, 1996. p. 20.
  4. CEND, v. II, p. 393.
  5. Ibidem, p. 202.
  6. De acordo com o Maka Shikan (Grande Concentração e Discernimento), de Tiantai. Para referência, ver A Cura da Doença Cármica(CEND, v. I, p. 659).

Fonte:

Este conteúdo é composto por trechos do livro Sabedoria na Saúde, diálogo do presidente Ikeda com os Drs. Shuhei Morita e Hiroyuki Toyofuku. O diálogo foi publicado em formato de livro pela Editora Brasil Seikyo, em 2010.