ROTANEWS176 E POR VEJA 29/04/2020 06h45 Por Vilma Gryzinski
A montagem tosca mostrando o desaparecido numa urna de vidro já se infiltrou na Coreia do Norte e aumenta pressão para que ele apareça
Reprodução/Foto-RN176 Montado: aumenta a boataria e circula até na Coreia do Norte a foto falsa de seu cadáver, mas o jovem Kim continua sem dar as caras Reprodução/Twitter
Morreu, está em coma, está com gota, está fugindo do coronavírus. Estas são as hipóteses sobre o sumiço público do bizarro, mas esperto líder hereditário de um país que funciona como uma espécie de seita.
Ou então Kim Jong-un está aprontando alguma outra coisa.
De qualquer maneira, a boataria voltou a ser forte.
“Eu sei como ele está, relativamente falando. Mas não posso falar sobre isso agora”, disse Donald Trump, para aumentar o enigma.
Pode ser um trumpismo aleatório, pode ser um indício de que foi um tanto precipitada a montagem em que Kim Jong-un aparece embalsamado, como uma versão surreal de uma Branca de Neve dos infernos.
A foto fake foi baseada na imagem real de Kim Jong-Il, o líder número dois da dinastia vermelha, que morreu de enfarto em 2011, legando o poder para o filho, na época com 28 anos e reputação de bon vivant.
As cenas das grandiosas cerimônias fúnebres, onde era estritamente vigiado o nível de choro do “povo” – as multidões selecionadas para prantear o Estimado Líder -, demonstraram ao mundo o nível absurdamente coreografado do exercício do poder na Coreia do Norte.
A morte de Kim Jong-Il demorou 51 horas para ser confirmada. Depois do anúncio, pela televisão, da famosa apresentadora, em prantos, foi informada a formação do comitê encarregado dos rituais fúnebres: tinha 232 nomes.
O primeirão era o do filho. Nenhuma dúvida, portanto, sobre a sucessão.
É este constante teatro do absurdo, encravado na própria natureza do regime, que levanta suspeitas quando alguma peça sai do lugar.
Embora mantenha o método de aparecer e sumir sem maiores explicações, Kim Jong-un não poderia faltar ao Dia do Sol, 15 de abril, assim denominado para marcar o aniversário do fundador da dinastia, seu avô, Kim Il-Sung.
O Eterno Presidente, entre outros títulos grandiloquentes, é tratado como uma figura mítica, uma semidivindade que criou o melhor país do mundo. Dele também emana a legitimidade da dinastia.
Foi a ausência do baby Kim nesse ritual que desencadeou a onda de boataria.
Não é a primeira, obviamente. Muitas são criadas pelos serviços de inteligência da Coreia do Sul – do Japão também.
Outras, nascem nos computadores de sul-coreanos comuns, fascinados, como o resto do mundo, por um país que parece viver numa realidade paralela, criada por uma formidável máquina de propaganda, com seus líderes de ópera bufa armados com mísseis nucleares.