A primavera sempre chega

ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO 04/07/2020 20:15

RELATO

Conheci o budismo Soka ainda na infância, ao ser adotada. Minha mãe era membro da BSGI e meu pai, apesar de não praticar, oferecia total apoio. Com isso, cresci em meio às atividades da organização, sendo impulsionada a cultivar grandes sonhos e a superar os desafios por meio da prática budista.

Reprodução/Foto-RN176 Paula no Parque da Cidade, em Santarém, PA. Todas as fotos foram tiradas antes do isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus

 

Grande vitória

Cursei pedagogia na Universidade Federal do Pará (UFPA), estado onde moro. Nessa época, conciliava o tempo entre a faculdade, o trabalho e as atividades da Divisão Feminina de Jovens (DFJ), da qual eu era líder, e do grupo Cerejeira. Motivada, aprofundei-me nos estudos do modelo humanístico da educação Soka, obtendo nota máxima no Trabalho de Conclusão de Curso.

A alegria de estar formada durou pouco, pois não tinha mais emprego; além disso, preferia atuar com educação não escolar. Felizmente, logo consegui um trabalho num escritório e iniciei uma especialização em recursos humanos para trabalhar com este tipo de educação.

Em julho de 2013, estava desem­pregada novamente e saí de Santarém para morar em Altamira, ambas no Pará, com a meta de ingressar na empresa responsável pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (a quarta maior hidrelétrica do mundo). Entretanto, um mês depois, dava aulas para dezesseis turmas no Sesi. Que desafio!

Na organização, em meio aos esforços para desenvolver a localidade, fundamos o Bloco Altamira. Em paralelo, avançava meus objetivos, sendo contratada para trabalhar na Usina de Belo Monte, após quatro processos de seleção. Foi uma grande vitória!

Transformar a vida

Estava muito feliz nessa nova fase e encontrei um companheiro que considerava ideal. No entanto, quando engravidei, tudo desmoronou. Ele se afastou de mim e, apesar de assumir o bebê, não ficamos juntos.

O fato de não ter a família que sonhava e o julgamento das pes­soas me causaram muito sofrimento. Venci essa dor com a prática budista e com o apoio dos amigos Soka nos momentos mais difíceis.

Reprodução/Foto-RN176 Com a mãe, Maria das Dores, e a filha, Ana Heloísa. Todas as fotos foram tiradas antes do isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus

Em junho de 2015, retornei para a casa da minha família em Santarém para dar à luz Ana Heloí­sa, que, apesar dos desafios emocionais que passei na gravidez, nasceu saudável.

Agora, eu me preocupava com a situação no trabalho quando retomasse às atividades. Como aprendemos no budismo que não há oração sem resposta, nesse período recebi um convite para atuar no setor jurídico da empresa em Santarém!

Era o emprego que precisava para conseguir cuidar da minha filha. Apesar das viagens que fazia, a carga de trabalho foi reduzida consideravelmente e continuei recebendo o salário integral e mais a participação nos lucros. Ao fim da obra da usina, em 2018, encerrei os trabalhos sendo considerada uma das melhores funcionárias.

Sempre avançar

Em 2019, iniciei uma segunda especialização, desta vez em educação, para romper a resistência ao ambiente escolar. Também fiz cursos na área administrativa e resolvi tirar carteira de habilitação. Na organização, atuava na vice-liderança do grupo Zenshin.

Em dezembro, ao participar do Encontro de Educadores Soka, no Centro Cultural Campestre da BSGI, em Itapevi, SP, como coordenadora pedagógica da Magia da Leitura na localidade, objetivei me recolocar no mercado de trabalho.

Ao chegar o ano 2020, em casa, comemorava a vitória do meu pai sobre um câncer de pele em fase inicial. E, em meio aos desafios diários de daimoku, visitas, atividades e estudos, concluí minha especialização.

Com a pandemia do novo coronavírus tudo mudou. Tive de recusar vagas de emprego, prezando pela saúde. As atividades se tornaram virtuais e, em maio, iniciamos, por etapas, um Curso de Aprimoramento (Capri) do Zenshin pela internet.

No mesmo mês, meu pai faleceu repentinamente. Sem pensar, assumi a responsabilidade de cuidar da família, em especial da minha mãe, que ficou bastante abalada. Na semana seguinte, ela e eu testamos positivo para o Covid-19.

 

Prontamente, as mensagens e ligações de incentivos das companheiras da Divisão Feminina (DF) e do Zenshin encheram meu coração de força e esperança. Aos poucos, fui me recuperando, recitava daimoku e, com o estudo, renovei a convicção de que meu avanço também seria o da minha família.

Reprodução/Foto-RN176 Com o grupo Zenshin da localidade. Todas as fotos foram tiradas antes do isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus

 

Nos escritos de Nichiren Dai­shonin consta:

Eu e meus discípulos, ainda que ocorram vários obstáculos, desde que não se crie a dúvida no coração, atingiremos naturalmente o estado de buda. Não duvidem, mesmo que não haja proteção dos céus. Não lamentem a ausência de segurança e tranquilidade na vida presente. Embora tenha ensinado dia e noite a meus discípulos, eles nutriram a dúvida e abandonaram a fé. Os tolos tendem a esquecer o que prometeram quando chega o momento crucial. (CEND, v. I, p. 296)

Ciente de que todo treinamento é precioso, continuei participando do Capri, ao passo que minha mãe e eu recuperamos a saúde, transpondo mais um dos sofrimentos da vida. Seguimos com a certeza no coração de que, ao viver cada dia junto com Ikeda sensei, não há inverno que não se torne primavera!

 

Paula Furtado Barreto, 33 anos. Pedagoga. Resp. pela DF da Comunidade Tapajós e vice-resp. pelo grupo Zenshin da Área Tapajós, CGRE.