“Minha missão é cuidar das pessoas”

ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO 11/07/2020 16:10

RELATO

Ao buscar os sonhos, Lyca despertou a coragem para avançar e transformar tudo ao redor positivamente

Reprodução/Foto-RN176 Lyca na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde estudou. As fotos de sua colação de grau e na faculdade foram tiradas antes do isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus

Minha missão é cuidar das pessoas. Todos os dias oro para que eu consiga cumpri-la. Como médica, minhas conquistas me fazem ter cada vez mais certeza de que esse é o caminho que quero trilhar.

Logo que me formei, no fim de 2019, comecei a dar plantões em prontos-socorros, e com o início da pandemia do coronavírus, sentia ainda mais a necessidade de ajudar os outros. Nesse contexto, recebi uma proposta de um dos hospitais em que trabalho em São Paulo, onde moro, de viajar para os estados do Norte e do Nordeste para prestar assistência nesses locais mais carentes e com altas taxas de mortalidade devido à pandemia. Viajei para o Pará e para Salvador. Nesses lugares, atendi casos graves de insuficiência respiratória; vivenciei o desespero das pessoas, que perderam familiares e amigos próximos; presenciei mortes; e tentava dar o meu máximo para acolher cada um. O que mais me assustava era noticiar os familiares sobre a morte de seus entes queridos. Eram pessoas simples que agradeciam pelo atendimento, dizendo que não estavam acostumadas com médicos que ouviam e prestavam atenção aos pacientes. Em meio a tamanho desespero, às vezes, o que eles mais precisavam era de consideração e acolhimento. Foram dias de trabalho intensos e muito cansativos, em que tive a chance de contribuir um pouco para o bem-estar dos outros nesse cenário caótico. Com isso, a experiência e meu aprendizado foram únicos.

Após retornar de viagem, enviei uma carta a Ikeda sensei, o qual agradeceu pelos meus esforços e disse que estava orando pelo sucesso da minha atuação. Fiquei imensamente feliz.

 

Como tudo começou

Sou da quarta geração de uma família de praticantes do budismo Soka. Quando era criança, meus pais e eu morávamos com minha avó paterna e lembro-me de que minha mãe e eu dormíamos num colchão de solteiro no chão, almejando ter casa própria.

Desde pequena, sonhava ser médica e meus pais sempre se esforçaram para priorizar minha educação, o que me possibilitou estudar em bons colégios. Isso, somado ao aprimoramento que recebi na banda Anjos da Paz Kotekitai durante dezessete anos, me fez persistir em meu sonho.

O presidente Ikeda incentiva ao citar Miguel de Cervantes:

 

Sonhe, ainda que o sonho pareça impossível

Lute, ainda que o inimigo pareça invencível

Corra por onde o corajoso não ousa ir

Transforme o mal em bem, ainda que seja necessário caminhar mil milhas

Ame o puro e o inocente, ainda que seja inexistente

Resista, ainda que o corpo não resista mais

E ao final, alcance aquela estrela, ainda que pareça inalcançável.

 

(BS, ed. 2.384,19 ago. 2017, p. A8)

 

Na época do ensino médio, meus pais já desfrutavam melhores condições financeiras. Nós nos mudamos de um apartamento pequeno para uma grande casa que oferecíamos para as atividades da Gakkai.

Reprodução/Foto-RN176 Lyca e família em sua colação de grau. Da esq. para a dir., a mãe, Geni; ela, a irmã, Lyssa; e o pai, Sylvio. As fotos de sua colação de grau e na faculdade foram tiradas antes do isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus

Em paralelo, avançava em direção ao meu objetivo de ingressar na faculdade de medicina. Assim, iniciei o ensino médio num colégio preparatório para o vestibular.

 

Base para avançar

Na nova escola, percebi que estava defasada em relação às matérias, e a nota de corte a ser alcançada era muito alta. Após terminar o ensino médio, foram quatro anos de tentativas para entrar na faculdade. Tinha certeza de que essa conquista dependia do meu esforço e da minha determinação com base na prática da fé. Algumas vezes, pensei em optar por outro curso, mas sabia que não seria feliz se não conquistasse meu sonho. Estudava muito todos os dias no cursinho, desde cedo até a noite e fazia simulados nos fins de semana. Era um desafio conciliar os estudos e as atividades da organização, atuando como líder da Divisão Feminina de Jovens (DFJ).

No último ano de cursinho, tive a imensa felicidade de ser aprovada em grandes faculdades públicas do país: Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de São Paulo (USP). Optei pela USP e, após seis anos de graduação, eu me formei no fim do ano passado. Vitória!

Recordo-me de que, ainda na faculdade, ajudei uma querida amiga da Divisão Feminina (DF) da minha localidade, em São Paulo, com a descoberta de um diagnóstico de câncer de mama em seu estágio inicial ao compartilhar seu caso com um professor. Hoje, após o tratamento, ela desfruta muita saúde e disposição, algo que é gratificante.

Reprodução/Foto-RN176 movimento virtual de visitas realizado para a DE, da qual a jovem é líder na localidade. As fotos de sua colação de grau e na faculdade foram tiradas antes do isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus

Sempre atuei com grande carinho pelos membros da organização e, atualmente, na liderança da Divisão dos Estudantes (DE), tenho em mente que devo contribuir para que cada integrante da DE se torne uma pessoa de grande valor na sociedade e procuro transmitir-lhe as orientações sobre a unicidade de mestre e discípulo.

Com esse sentimento, continuarei a me esforçar para cumprir minha missão como bodisatva da terra e discípula de Ikeda sensei, lutando em prol do bem das pessoas e da construção de uma sociedade valorosa.

 

Lyca S. Kawakami, 28 anos. Médica. Resp. pela Divisão dos Estudantes da RM Pinheiros, CNSP, CGESP.