Cura para covid-19: os cientistas que buscam respostas no genoma de morcegos

ROTANEWS176 E POR BBC NEWS BRASIL 23/07/2020 17:50

Depois de sequenciar o genoma de espécies de morcegos, cientistas esperam que se abra caminho para tratamento para esta e futuras pandemias

Reprodução/Foto-RN176 Huw Evans picture agencyVocê sabia que os morcegos podem viver até 40 anos?

A imunidade excepcional dos morcegos lhes permite viver com o coronavírus sem adoecer. E o segredo pode estar em seu código genético.

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É por isso que um grupo de cientistas, depois de sequenciar o genoma de seis espécies de morcegos, espera poder usar essas informações para abrir caminhos para o tratamento desta e de futuras pandemias.

Emma Teeling, professora da University College Dublin, observa que as sequências genéticas “requintadas” que eles decifraram sugerem que os morcegos têm “sistemas imunológicos únicos”.

“Se pudéssemos imitar a resposta imune dos morcegos aos vírus, poderíamos encontrar uma cura”, disse à BBC.

A especialista ressalta que agora temos as ferramentas para entender os passos que devem ser dados. “Precisamos desenvolver os medicamentos para fazê-lo”, acrescenta.

Reprodução/Foto-RN176 Getty Images Morcegos não são cegos; eles têm um sistema de ‘visão’ muito especial

Teeling é co-fundadora do projeto Bat1K, que visa a decodificar os genomas das 1.421 espécies conhecidas de morcegos.

“Esses genomas são as ferramentas necessárias para identificar as soluções genéticas desenvolvidas em morcegos que em última instância poderiam ser aproveitadas para aliviar o envelhecimento e as doenças humanas”, disse.

Acredita-se que a covid-19 tenha surgido em morcegos e passado aos humanos através de outro animal, ainda não identificado. E que várias outras doenças virais, como Sars, Mers e Ebola, tenham afetado os seres humanos dessa maneira.

Ecologistas e conservacionistas alertaram que os morcegos não devem ser perseguidos e que, quando não são perturbados em seus habitats naturais, apresentam pouco risco à saúde humana.

E eles são vitais para o equilíbrio da natureza. Muitos são polinizadores, dispersam sementes de fruta e outros são insetívoros, comendo milhões de toneladas de insetos por noite.

O que os genomas revelam?

Seis espécies de morcegos foram sequenciadas: Rhinolophus ferrumequinum , Rousettus aegyptiacus , Phyllostomus discolor , Myotis myotis , Pipistrellus kuhlii , e Molossus molossus .

Ao comparar os morcegos com outros 42 mamíferos, eles foram capazes de descobrir onde esses animais estão na “árvore da vida”.

Os morcegos parecem estar mais intimamente relacionados a um grupo que consiste em carnívoros (cães, gatos e focas, entre outras espécies), pangolins, baleias e ungulados (mamíferos com cascos).

Um rastreamento das diferenças genéticas identificou regiões do genoma que evoluíram de maneira diferente nos morcegos, o que pode explicar suas habilidades únicas.

O trabalho de pesquisa revelou genes que podem ter contribuído para a ecolocalização (calcular distâncias através do som), que os morcegos usam para caçar e navegar na escuridão total.

Como essas informações podem ajudar a combater a pandemia atual e as futuras?

O estudo tem implicações para a saúde e as doenças humanas, ao revelar uma série de alterações genéticas que protegem os morcegos contra os vírus.

Reprodução/Foto-RN176 Barcroft Media/Getty ImagesEles geralmente vivem em colônias compostas por milhões de indivíduos

Os pesquisadores acreditam que conhecer o genoma dos morcegos pode ajudar a explicar como os mamíferos voadores toleram infecções por coronavírus, o que pode ajudar a combater pandemias no futuro.

“Essas mudanças podem contribuir para a imunidade excepcional dos morcegos e apontar a tolerância deles aos coronavírus”, disse Michael Hiller, do Instituto Max Planck de Biologia Celular e Genética Molecular, em Dresden, Alemanha.

Em muitas infecções virais, não é o próprio vírus que leva à morte, mas a resposta inflamatória aguda provocada pelo sistema imunológico do corpo.

Morcegos podem controlar isso. Portanto, embora possam estar infectados, eles não mostram sinais visíveis da doença.

A pesquisa foi publicada na revista Nature.