ROTANEWS176 E POR SOCIENTIFICA 21/08/2020 10:55 Por Felipe Miranda
Seu corpo provavelmente seria dilacerado pela “espaguetificação”.
Reprodução/Foto-RN176A Vista simulada de um buraco negro na frente da Grande Nuvem de Magalhães. A razão entre o raio de Schwarzschild do buraco negro e a distância do observador a ele é de 1: 9. Digno de nota é o efeito de lente gravitacional conhecido como anel de Einstein, que produz um conjunto de duas imagens bastante brilhantes e grandes, mas altamente distorcidas da nuvem, em comparação com seu tamanho angular real. (Imagem: Domínio Público. CC BY-SA 2.5)
Buracos negros são os objetos espaciais mais admirados pelas pessoas, e um dos alvos das maiores curiosidades, tanto pela cultura pop quanto pelos cientistas. Afinal, o que aconteceria se você caísse em um buraco negro?
Interestelar é, com certeza, o maior símbolo das imaginações poéticas de como é cair no buraco negro. Lá (sem dar spoilers), Cooper acaba tendo acesso ao passado e caindo em um loop temporal e de acontecimentos.
A espaguetificação
Sem mais delongas, vamos direto ao ponto. Você já deve ter visto uma foto de um quasar, certo? Quaisquer dos núcleos galácticos ativos possuem algo que chamamos de disco de acreção.
Como o próprio nome sugere, um disco de acreção é um “disco”, que forma uma fila para a matéria entrar no buraco negro. Diferente do que todos pensam, um buraco negro não simplesmente engole um corpo.
Buracos negros são capazes de engolir objetos, em volume, muito maiores do que ele próprio, isso porque sua massa é extremamente concentrada. Por exemplo, o diâmetro do Sol é de 1.400.000 quilômetros. Um buraco negro com a mesma massa do Sol teria apenas 6 quilômetros de diâmetro.
O disco de acreção não ocorre porque o universo é inteligente e pensou em cada detalhe, mas simplesmente por um motivo: a física. A imensa gravidade de um buraco negro causa isso.
Em resumo, quanto mais próximo do centro do objeto, maior a força da gravidade. Em uma gravidade como a da Terra, é difícil notar essa diferença em distâncias muito pequenas.
Entretanto, em buracos negros, falamos em escalas inimagináveis. Um metro de distância já é coisa de outro mundo. Portanto, cada parte do objeto é puxada com uma força diferente, como se estivesse sendo desfiado.
É nessa linda dança de dilaceração da matéria, que forma-se o disco de acreção. E você viraria algo semelhante. Você seria esticado, já que seus pés estariam mais próximos do que sua cabeça. Isso é conhecido como espaguetificação.
E lá dentro?
Após ser dolorosamente esticado (mentira, nem daria tempo de sentir a espaguetificação), e tornar-se muita energia, você seria engolido pela obscuridade do objeto mais desconhecido e misterioso do universo.
Nem tudo, na verdade, é engolido. Já falamos aqui sobre o processo Penrose. Ele basicamente consiste na retirada de energia de um buraco negro através da força da gravidade e da rotação.
Esse caso seria exclusivo de um buraco negro rotativo. Você poderia ser catapultado pela distorção do espaço causada pela rotação. Mas mesmo nos outros buracos negros, é possível que radiação e matéria sejam catapultadas para fora.
O ponto realmente sem volta é o horizonte de eventos. De lá, nada escapa, a não ser pela radiação Hawking, mas isso não vem ao caso. A questão é: não sabemos o que há lá dentro.
Poderia ser, o buraco negro, um portal que dá em um buraco branco em outro universo? Sim. Pode ser simplesmente um portal para o nada? Também. Realmente não sabemos de nada além do horizonte de eventos. E não seria possível nada sobreviver a essa entrada para nos contar sobre, se você caísse em um buraco negro.