Coluna: Silvio Santos, Sheherazade e o jornalismo “do bem”

ROTANEWS176 E BASTIDORES DA TV 19/03/2015 23h34

Empresário sempre deixou de lado um dos pilares da programação

 

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 Reprodução/Foto-RN176 Jornalistas do SBT se encontram com Silvio Santos no Troféu Imprensa

Não é de hoje que Silvio Santos admite em público que não gosta de jornalismo na TV, principalmente em sua emissora, o SBT. Mantém telejornais diários, unicamente porque toda emissora aberta tem que cumprir uma cota diária de 5% de informação. Mesmo assim, o canal foi divisor de águas no telejornalismo, criando conceitos como o “Aqui Agora” e o “TJ Brasil”.

E se ainda alguém se admira quando o Patrão decide acabar com três horas de jornalismo ao vivo para exibir no lugar 3h de desenho animado, certamente é porque não conhece os gostos do grande apresentador, que como diretor de emissora, nunca foi um bom estrategista, principalmente por mexer na grade, conforme seu estado de humor.

No dia 3 de março de 1988, Silvio Santos escreveu os Princípios Editoriais do Jornalismo do SBT. O texto, direcionado aos funcionários da emissora deixa claro como os jornalistas da casa devem se portar: “O tom do Jornalismo deve ser otimista, procurando mostrar que, mesmo nas situações mais trágicas, é possível dar a volta por cima”

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Reprodução/Foto-RN176 Carta de Silvio Santos em março de 1988

Em pronunciamento, também em março de 88, Silvio Santos disse que “jornalista que quer trabalhar no SBT não pode ser investigador, porque quem tem que investigar é a polícia. Na minha estação de televisão ele só tem que dar a notícia e encontrar as qualidades da pessoa”.

Certamente estes não são os princípios ensinados nas faculdades de Jornalismo. Não é a toa que após anos sem investir em jornalismo, o empresário resolveu dar uma oportunidade as ex-Casa dos Artistas, Analice Nicolau e Cíntia Benini, no “SBT Notícias Breves”, jornal que ficou conhecido na época pelo jogo das pernas das apresentadoras.

Silvio Santos, muitas vezes se contradiz como empresário, como quando contratou a jornalista Rachel Sheherazade, da afiliada paraibana, após criticar o Carnaval. Bancou sua vinda para São Paulo e lançou um novo “SBT Brasil”, com direito aos comentários de Rachel, no principal telejornal. Mas foi só a apresentadora falar demais e comprometer a relação política de Silvio Santos com o governo federal que Rachel ganhou uma mordaça e foi proibida de omitir opiniões e recentemente até de demonstrar expressões faciais no ar. Outra exceção ocorreu com Boris Casoy, quando ele estreou o “TJ Brasil”, sendo o primeiro âncora comentarista do telejornalismo brasileiro. Atualmente, Roberto Cabrini e seu premiado “Conexão Repórter”, também seguem uma exceção nos olhos de Silvio Santos. Mesmo que Cabrini atue no jornalismo investigativo, Silvio mudou seu programa para os domingos com a saída de Marília Gabriela e vem alcançando desde sua reestreia, momentos de liderança.

Com o fim do “Notícias da Manhã”, atualmente, o SBT mantém no ar o “SBT Brasil”, as 19h45, e o Jornal do SBT, após o “The Noite”. Este último tem duas reprises as 04h e as 05h da manhã, apenas para São Paulo. Mesmo com boletins em todos os comerciais, anunciando reportagens que serão destacadas nos seus telejornais, o SBT chega a ficar 14h diárias sem um telejornal. Difícil dar credibilidade assim. Num Troféu Imprensa recente, o próprio Silvio Santos disse que o futuro da TV seria a teledramaturgia e o jornalismo. Por economia, ou por mágoa, Silvio esqueceu o segundo dos pilares. O dono do SBT, desde os tempos que começou no rádio e depois comprava espaço na TV, sempre foi bastante atacado pela imprensa. Quando conseguiu o SBT, se sentiu ainda mais acuado pelos meios de comunicação da época e quis inserir seu DNA de entretenimento na sua empresa. O jornalismo, infelizmente foi deixado em segundo plano, sempre é claro, com algumas raras exceções.