ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 05/09/2020 12:25
CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA
Capítulo “Origem”, volume 29
PARTE 21
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração da Editora Brasil Seikyo – BSGI
Shin’ichi perguntou-lhe: “Durante a sua longa vida, o que lhe trouxe maior alegria? E a maior tristeza?”. Com a resposta, ficou ainda mais claro o modo de viver otimista do primeiro-ministro Desai.
— Até hoje, nunca me senti triste. Para mim, tudo é muito alegre e prazeroso.
— É difícil pensar dessa forma. Então, entre as lembranças felizes, qual foi a mais agradável?
Com sorriso no rosto, o primeiro-ministro respondeu:
— Cada momento é de felicidade. Como poderia explicar que apenas em determinado momento fui feliz? Para mim, quando há comida, sinto-me feliz; e quando não há, também.
Com certeza, é por ter sentido isso verdadeiramente que ele conseguiu dedicar a vida ao tão severo movimento de desobediência civil. Até então, o primeiro-ministro havia se engajado quatro vezes em greve de fome ao custo da própria vida. Nos anos mais recentes, em abril de 1975, realizou uma greve de fome de uma semana até que fosse atendido nos protestos contra o governo central em relação à adoção da lei de segurança pública. Nessa ocasião, já com 79 anos, diz ter perdido peso na proporção de um quilo por dia.
O primeiro-ministro narra seus sentimentos da época da seguinte forma: “Com corpo e mente livres, estava feliz. Era uma condição de paz e tranquilidade tanto em relação a mim mesmo como no que se refere ao mundo”.1 E ainda, o encarceramento pela quinta vez o aguardava logo depois. A vida na prisão durou dezenove meses. Entretanto, o primeiro-ministro afirma: “Essa foi uma época das mais benéficas para a minha vida. (…) Durante a prisão, vivia refletindo. Sempre perguntava a mim mesmo ‘Como posso me aprimorar?’; ‘Quais são os meus defeitos?’; ‘Meu coração está tranquilo?’; ‘Não estou causando algum sentimento desagradável a alguém?’”.2
Para uma pessoa que vive pela missão e visa o autoaprimoramento, o momento de adversidade se torna o aprendizado para produzir muitos frutos e a suprema academia para polir a si próprio.
PARTE 22
Shin’ichi disse-lhe:
— Por favor, venha sem falta ao Japão.
Se fosse realizada uma viagem ao Japão, seria sua quarta visita.
— Sinto vontade de ir ao Japão, mas não tenho planos. Na verdade, gostaria de receber o primeiro-ministro japonês na Índia.
Quando Shin’ichi lhe perguntou qual era sua maior expectativa em relação ao Japão, ele respondeu de imediato:
— É a amizade. Se os laços de amizade se fortalecerem, todo o resto se realiza naturalmente. E se tornará ainda uma força que contribui para a paz mundial. Queremos aprender muita coisa com o Japão. Os japoneses são disciplinados, diligentes e possuem forte sentimento patriótico. O fato de nos tornarmos amigos é o ponto de partida para tudo.
Shin’ichi estava feliz, pois a importância da amizade era um ponto que ele vinha enfatizando constantemente.
O primeiro-ministro disse ainda: “Gostaria que a política adotasse a postura de buscar a verdade. Considero esse o principal tema da política”. E, como se visualizasse o futuro, falou semicerrando os olhos: “Se tornarmos o desarmamento uma realidade no mundo, as pessoas de todos os países serão amigas e viverão em harmonia. Meu desejo é que chegue uma época em que seja criada uma política mundial e todos os países possam cooperar entre si de forma solidária”.
O diálogo de cerca de uma hora de duração passou num piscar de olhos. Por fim, quando Shin’ichi expressou seus profundos agradecimentos pela sincera recepção, o primeiro-ministro o presenteou com um livro. Era a obra Uma Visão do Gita de sua própria autoria sobre as suas interpretações de Bhagavad Gita [Poesia dos Deuses], que faz parte do épico Mahabharata, considerado uma sagrada escritura da Índia. Diz-se que também foi um sustentáculo dos pensamentos de Gandhi.
Na parte inicial de Uma Visão do Gita consta: “A felicidade se encontra na conquista da paz e da alegria no coração. Ela nasce do senso de plena satisfação de suas próprias realizações”. É uma frase de profunda natureza filosófica. O diálogo com o primeiro-ministro Desai foi digno do início de uma viagem de pesquisas da Índia, a grande nação espiritual.
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Notas:
- DESAI, Morarji. The Story of My Life [A História de Minha Vida]. v. 3. Pergamon Press.
- Ibidem.