Revolução que vem de dentro

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 12/09/2020 06:22

RELATO

A dedicação de Marcio à prática budista fez surgir a força para vencer os desafios e ser feliz

Reprodução/Foto-RN176 Marcio Vinicius da Silva Rodrigues Editora Brasil Seikyo – BSGI

Sou budista há 28 anos e meus esforços em compreender o significado da prática da fé me fizeram desafiar os limites e enfrentar os obstáculos com a determinação de jamais ser derrotado, de vencer, independentemente das circunstâncias.

Com a pandemia do coronavírus não foi diferente, determinei superar qualquer transtorno e sofrimento decorrentes desta crise. A decisão surgiu junto com os amigos veteranos do Gajokai, grupo de bastidores da Divisão Masculina de Jovens do qual fiz parte por quase vinte anos.

Não demorou muito e senti as consequências do distanciamento social no meu orçamento, pois sou professor de educação física e a academia onde trabalho fechou. Fiquei dois meses sem salário, época em que realizava os trabalhos finais da pós-graduação na área de educação física que cursei.

Não podia pagar a faculdade e outras despesas. Além disso, sem computador e com acesso restrito à internet, tive dificuldades para assistir às aulas on-line pelo celular. Mas, diante dessas questões, intensifiquei a recitação do Nam-myoho-renge-kyo e venci cada desafio que surgiu. Acompanhando os estudos pelos livros, consegui excelentes notas nas provas e concluí o curso com nota máxima.

Em paralelo, no trabalho, recebi os salários atrasados e quitei as dívidas. Também fui contratado como personal trainer, dando novo passo em minha carreira. E sem poupar esforços, na organização segui contribuindo para o kosen-rufu de todas as formas, tal como objetivei.

Base para a vida

Venho de família simples de Belém, PA, e minha mãe, Tereza, mesmo separada do meu pai, se esforçou muito para que meus três irmãos e eu tivéssemos uma vida digna.

Nós morávamos com nossos avós maternos quando conheci o budismo, em 1992. Fui numa reunião da BSGI a convite de uma amiga e nessa atividade me senti tão acolhido que iniciei a prática budista pouco tempo depois.

No início, recitava daimoku na casa de membros da localidade e comemorei o primeiro benefício dessa prática no dia em que recebi o Gohonzon, pois meu avô, que tinha problemas oftalmológicos e no coração, havia sido internado às pressas naquela semana, tendo alta médica horas antes da cerimônia de consagração.

Motivado, ingressei no grupo Gajokai, atribuindo um novo significado à minha luta em prol da felicidade das pessoas. Com isso, meus esforços com base na fé me permitiram cuidar dos meus avós até que cumprissem sua missão.

Segui me dedicando às atividades e lutando contra as próprias fraquezas. Eu era muito tímido, mal conseguia olhar nos olhos das pessoas. Sentia-me excluído, além de tudo, pela minha condição financeira. Assim, o aprimoramento que recebia na organização — em meio às atividades, à luta pelo shakubuku e à revolução humana —, tornou-se a base para vencer muitos aspectos.

Minha mãe, apesar de não praticar, me apoiava em tudo para que eu atuasse com tranquilidade. Quando ela descobriu um tumor no seio, em 2009, recitou daimoku e a cirurgia foi um sucesso. No entanto, em 2014, ela faleceu serenamente em meio à batalha recorrente contra o câncer. Foram sete meses de desafios em que tivemos o apoio dos membros da localidade. Superamos os momentos difíceis com o tratamento dela; e tenho certeza de que seus esforços permitiram que ela não sofresse e fizeram minha família mais unida e forte.

No coração, mantinha a convicção na prática da fé tal como Nichiren Daishonin conclama: “Não duvidem, mesmo que não haja proteção dos céus. Não lamentem a ausência de segurança e tranquilidade na vida presente. Embora tenha ensinado dia e noite a meus discípulos, eles nutriram a dúvida e abandonaram a fé. Os tolos tendem a esquecer o que prometeram quando chega o momento crucial1

Incentivar as pessoas

Continuei determinado a vencer em tudo, e, dando um passo adiante, entrei para a faculdade de gestão ambiental, com financiamento do governo, sendo o primeiro da família a ingressar numa universidade. Eu me formei em 2013 e resolvi fazer a segunda graduação, em educação física, pois sempre pensei que bem-estar e ambiente estão interligados.

Desfrutando uma condição de vida melhor, na organização passei a atuar com grande empenho na Divisão Sênior (DS) e agora integrando o grupo Ohjohkai. Ainda na faculdade, consegui estágio remunerado numa escola particular e numa academia, sendo contratado ao término do curso, em 2019, e lá dou aulas até hoje. Com o intuito de me tornar um profissional ainda melhor, também cursei pós-graduação.

Oro para contribuir para a qualidade de vida de todos e procuro me aperfeiçoar nos estudos e no trabalho a cada dia, prezando cada pessoa e ensinando sobre a filosofia da dignidade da vida para ela. Meus esforços têm sido reconhecidos. Que reviravolta! Hoje, quando olho para trás, vejo que mudei o rumo da vida daquele jovem inseguro, vindo de uma realidade com poucas perspectivas.

Isso me fez perceber que é batalhando pela felicidade das pessoas que conquistamos uma vida valorosa. E que foi no caminho da revolução humana e do desejo sincero de corresponder a Ikeda sensei e de lutar pelo kosen-rufu com todas as forças, que compreendi o significado da prática da fé.

Nota:

  1. Coletânea dos Escritoos de Nichiren Daishonin, v. I, p. 296.

Marcio Vinicius da Silva Rodrigues, 46 anos. Professor. Resp. pelo Distrito Senador Lemos; RM Belém Oeste, Sub. Amazônia Oriental, CRE Oeste, CGRE.