ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 10/10/2020 11:10
ENCONTRO COM O MESTRE
Reprodução/Foto-RN176 Dr. Daisaku Ikeda e sua esposa Sra. Kaneko Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista e atualmente é o Mestre e Terceiro Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI
No Encontro com o Mestre desta edição, o Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), expõe sua perspectiva sobre a importante missão de propagar o Budismo de Nichiren Daishonin, ação que representa o espírito da Soka Gakkai e está em total acordo com os ensinamentos de Nichiren Daishonin.
- DAISAKU IKEDA
Minha esposa, Kaneko, e eu fazemos gongyo e recitamos Nam-myoho-renge-kyo juntos, em memória dos falecidos, no equinócio de outono.1 Oferecemos solenemente orações pela felicidade eterna de todos os que, em vida, contribuíram para o nobre empreendimento do kosen-rufu. Também oramos fervorosamente pela segurança e proteção dos nossos preciosos membros, visto que calamidades de vários tipos continuam fustigando a sociedade.
Nichiren Daishonin declarou:
Agora, no início dos Últimos Dias da Lei, eu, Nichiren, sou o primeiro a realizar, em todo o Jambudvipa, a propagação dos cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo. (…) Meus discípulos, formem suas fileiras e me sigam, e superem até a [discípulos extraordinários como] Mahakashyapa ou a [mestres budistas tão grandiosos como] Ananda, Tiantai ou Dengyo!2
Em 18 de novembro de 1930, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, primeiro e segundo presidentes da Soka Gakkai, respectivamente, fundaram a organização com esse grande juramento de Nichiren Daishonin pelo kosen-rufu mundial — a felicidade de toda a humanidade e a paz no mundo — como o seu juramento de mestre e discípulo.
Trinta anos depois, no dia 2 de outubro de 1960, zarpei mundo afora em minha jornada de mestre e discípulo, unido em juramento com meus dois predecessores.
Isso se deu em plena Guerra Fria. Entretanto, com a visão de longo alcance de transformar o carma de toda a humanidade, fui ao encontro de pessoas que enfrentavam grande angústia e sofrimento nos Estados Unidos, no Canadá e no Brasil. Muitos daqueles com quem me encontrei lutavam contra a solidão e o desespero ou lidavam com reveses que lhes impunham grande dificuldade para conseguir ganhar o sustento.
Orando profundamente pela felicidade deles, eu os despertei para o seu juramento como bodisatvas da terra que se encontrava dormente no âmago de sua vida.
Falamos que a oração no Budismo Nichiren significa recitar Nam-myoho-renge-kyo imbuído de um juramento. Em outras palavras, o juramento de realizar nossa própria revolução humana e lutar em prol do kosen-rufu nos locais pelos quais estamos ligados por profundos laços cármicos, e recitar daimoku para sermos capazes de dar o máximo de nós por esse propósito. Reunimos sabedoria por meio do poder da fé, aplicamos criatividade e esforço aos desafios e demonstramos provas reais de vitória. E exercendo o poder da fé de forma persistente e inabalável, podemos romper a resignação e a apatia, e transformar carma em missão.
A oração no Budismo Nichiren representou um revolucionário distanciamento daquele tipo de fé dependente, no qual as pessoas simplesmente aspiravam à graça divina vinda do céu ou confiavam suas orações a sacerdotes de forma passiva.
Um juramento é algo que nós próprios firmamos; algo ativo e autônomo. Nosso daimoku imbuído desse juramento, reverberando intensamente das mais vastas profundezas da nossa vida, é o som que bane a ignorância fundamental e revela nossa natureza original inerente iluminada.
Seis décadas se passaram desde que dei o primeiro passo pelo kosen-rufu mundial. O daimoku dos nossos membros em todos os recantos, imbuídos de um juramento conjunto, hoje abraça ampla e poderosamente o planeta inteiro.
E agora, chegou a hora de darmos a partida para uma nova etapa em nossa jornada de mestre e discípulo junto com os jovens do mundo, mantendo acesa a radiante chama do nosso ardente juramento pelo kosen-rufu.
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Ao longo de toda a assembleia na qual o buda Shakyamuni expõe o Sutra do Lótus, os discípulos fazem juramentos ao seu mestre de propagar a Lei Mística.
Quando assumimos como nosso o grande juramento do Buda de possibilitar aos seres vivos atingir a iluminação, a sabedoria e o poder do estado de buda brotam de dentro de nós.
Os bodisatvas da terra, em particular, firmam um juramento resoluto e inabalável, mesmo após ouvirem o Buda descrever os “seis atos difíceis e nove fáceis”3 e “os três poderosos inimigos”,4 figuras ilustrativas para demonstrar a dificuldade extrema envolvida na propagação do ensinamento do budismo nos Últimos Dias da Lei.
Há 75 anos (no dia 3 de julho de 1945) dando continuidade ao legado do presidente Makiguchi, que morreu na prisão dando a vida em defesa de sua fé budista, Toda sensei saiu da prisão com o espírito invencível de um bodisatva da terra. E lançou-se ao desafio de propagar amplamente a Lei Mística com o mesmo espírito de Daishonin quando declarou no escrito Abertura dos Olhos:
Declaro aqui: Não importa que os deuses me abandonem. Não importa que eu tenha de enfrentar todas as perseguições. Ainda assim, darei a vida em prol da Lei. (…) Eu serei o pilar do Japão. Eu serei os olhos do Japão. Eu serei a grande nau do Japão. Este é o meu juramento, e jamais renunciarei a ele!5
Esse é o espírito da Soka Gakkai, em perfeita consonância com o propósito do Buda. A Soka Gakkai é uma junção de bodisatvas da terra dedicados à concretização do kosen-rufu mundial por meio da propagação compassiva da Lei Mística. Prosseguiremos nos empenhando para cumprir nosso juramento com uma condição de vida intrépida e invencível, interligados, numa vasta e infinita rede de conexão, com todos os budas e bodisatvas das dez direções e das três existências, transcendendo limites de tempo e espaço.
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Minha esposa ficou profundamente emocionada com uma carta de uma jovem, publicada recentemente na coluna “Vozes dos Leitores”, do jornal diário da Soka Gakkai, Seikyo Shimbun.
A autora expôs que sua bisavó decidira ingressar na Soka Gakkai numa reunião de palestra realizada em agosto de 1952, em Sakai, cidade da província de Osaka (região de Kansai), da qual eu havia participado em minha primeira visita à localidade.
Também guardo recordações inesquecíveis daquela reunião de palestra como a estreia dos meus esforços em Kansai. Naquela ocasião, falei sobre a grandiosidade do meu mestre, Josei Toda, e relatei a experiência de superar a tuberculose por meio da prática budista. Disse ainda que o Budismo Nichiren se propagaria sem falta pelo mundo e que, um dia, seriam estabelecidas escolas dedicadas à pedagogia Soka de criação de valor.
O ato de falar aos outros sobre o Budismo Nichiren, por menor que seja a reunião, se torna uma causa externa positiva que faz as sementes do estado de buda germinarem na vida das pessoas. Tais esforços se transformarão de forma indelével numa “lembrança de sua existência neste mundo humano”,6 reluzindo como uma joia preciosa.
A jovem observou que sua bisavó foi a primeira das quatro gerações de sua família a trilhar o caminho Soka de luta conjunta de mestre e discípulo. E relatou que ela própria agora estava avançando unida na fé com seus companheiros rumo à Convenção Mundial dos Jovens [realizada no dia 27 de setembro de 2020].
Nossos pioneiros mantiveram firmemente seu juramento pelo kosen-rufu, determinados a jamais ser derrotados, lutando com incrível força e coragem diante dos desafios mais intimidantes. Esse juramento foi herdado pelos nossos preciosos jovens. E hoje, enquanto enfrentam as dificuldades impostas pela pandemia do Covid-19, eles estão se empenhando ativamente em criar valor para ensejar uma nova era de vitórias contínuas com sua paixão e energia, como cidadãos globais devotados ao kosen-rufu mundial.
Notas:
- Por tradição, no Japão, as cerimônias budistas em memória dos falecidos são realizadas durante os períodos de sete dias que coincidem, respectivamente, com os equinócios de primavera e de outono. O equinócio de outono, que neste ano caiu em 22 de setembro, é celebrado como feriado nacional no país.
- CEND, v. II, p. 23.
- Seis atos difíceis e nove fáceis (jap. rokunan-kui): Comparações expostas no capítulo “Torre de Tesouro”, (11º) do Sutra do Lótus, para ensinar às pessoas como seria difícil abraçar e propagar o sutra nos Últimos Dias da Lei. Os seis atos difíceis são: (1) propagar amplamente o Sutra do Lótus; (2) copiá-lo ou fazer com que alguém o copie; (3) recitá-lo mesmo durante um curto tempo; (4) ensiná-lo mesmo que seja para uma única pessoa; (5) ouvi-lo ou aceitá-lo e perguntar sobre seu significado; e (6) manter a fé nele. Os nove atos fáceis abrangem façanhas como: ensinar inumeráveis sutras diferentes do Sutra do Lótus, atravessar uma pradaria em chamas carregando um fardo de feno nas costas sem se queimar, e chutar um grande sistema de mundos para outro quadrante.
- “Três poderosos inimigos” (jap. sanrui-no-gteki). Também “três tipos de inimigos”. Três categorias de pessoas que perseguem aqueles que propagam o Sutra do Lótus após a morte do Buda, conforme descrito no capítulo “Encorajamento à Devoção” desse sutra. Eles são: (1) leigos arrogantes que, por ignorarem o budismo, fazem acusações contra os devotos do Sutra do Lótus e os atacam com espadas e bastões; (2) sacerdotes arrogantes e presunçosos que caluniam os devotos; e (3) sacerdotes respeitados como sábios pela sociedade em geral que, temendo perder fama e lucro, induzem as autoridades seculares a perseguir os praticantes do Sutra do Lótus. O grande mestre Miaole da China resume-os como leigos arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos sábios arrogantes.
- CEND, v. I, p. 293.
- Ibidem, p. 66.
Fonte:
Conteúdo composto por trechos do ensaio “Irradie a Luz da Revolução Humana”, de autoria do Dr. Daisaku Ikeda, publicado no jornal Seikyo Shimbun, no dia 22 de setembro de 2020.