Ser feliz e ter um ideal

ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO 14/14/2020 09:03

RELATO

A prática budista despertou em Pedro a determinação para transformar os desafios

Nasci numa família simples e numerosa, pois tenho onze irmãos. Cheguei a Antônio João, MS, quando era criança e, aspirando ter um bom futuro, comecei a trabalhar muito jovem.

Reprodução/Foto-RN176 Pedro Paulo Feita Gonçalves, Resp. pelo Distrito Ponta Porã, CRE Oeste, CGRE – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Em 1973, mudei-me para Ponta Porã, para estudar; posteriormente, acabei servindo o Exército Brasileiro. Assim, segui carreira militar, na área de arma de cavalaria, sendo depois requalificado para arma de engenharia. Após 31 anos de serviço, aposentei-me, em 2015.

Minha esposa, Isabel, é professora e, em certa fase, apresentou depressão e crises de transtorno do pânico, que se agravaram quando nós nos mudamos para nossa casa própria e a residência foi assaltada. Foi a gota d’água. Eu havia retomado o trabalho gerenciando obras do Exército e, como ela ficava boa parte do tempo sozinha, seu estado de saúde só piorava.

Nessas circunstâncias, Daniele, professora da escola em que dava aula, pôs a gente em contato com sua mãe, Luzia, que nos ensinou o Nam-myoho-renge-kyo. Isabel participou de duas reuniões e sentiu nascer a coragem em seu coração. Curioso, participei de um encontro comemorativo da BSGI no qual estavam conhecidos militares e até mesmo um amigo de longa data. Aquilo me chamou a atenção, mas principalmente os objetivos da organização em meio à sociedade e a possibilidade de aprimoramento me fizeram perceber que o budismo era a filosofia que deveria seguir.

Passamos a frequentar as atividades, e por meio do Brasil Seikyo e da Terceira Civilização eu me aprofundava no estudo do budismo. Então, em fevereiro de 2017, recebi o Gohonzon. Três meses depois, assumia a liderança de um bloco da localidade. Em setembro daquele ano, passei no Exame de Budismo de Admissão.

Em 2018, tornei-me responsável pela comunidade. Minha esposa, numa condição de vida melhor, assumiu a liderança de um bloco. Participamos de cursos de aprimoramento para líderes e iniciamos uma luta em prol do desenvolvimento da localidade, a começar pelas visitas.

Foi assim que auxiliei Leonardo, um amigo de infância, o qual estava acamado por causa de uma cirurgia malsucedida. Ensinei-lhe o Nam-myoho-renge-kyo e, pouco tempo depois, ele recebeu o Gohonzon. Com sua fé, prolongou a vida por onze meses até falecer no fim de 2018. Ele foi meu primeiro shakubuku e jamais vou me esquecer dos momentos que vivemos juntos.

Vencer os desafios

Em março de 2019, minha esposa e eu assumimos a liderança do distrito. Em paralelo, havia ensinado o budismo para meu filho, Fabini. Ele se tornou membro da BSGI, praticando em Campo Grande, MS. Sua sincera fé fez muita diferença no desafio que estaria por vir, pois em junho [2019], ele foi diagnosticado com um tumor cerebral.

Após um mês de internação, ele foi submetido a um procedimento que durou cinco horas e as próximas etapas seguiram com radio e quimioterapia, muitas dores e desconforto. Os resultados do tratamento não foram positivos, gerando outras complicações. Um médico lhe explicou que não havia mais tentativas clínicas a se fazer, e meu filho, seguro de si, não se desesperou. À noite, recitamos daimoku juntos; após, tivemos um sincero diálogo no qual ele demonstrou serenidade e bravura ao se despedir de mim e solicitar que realizássemos uma cerimônia budista com seus amigos quando falecesse. “Nós somos budistas e vamos nos entender”, ele me disse.

Fiquei sem chão, mas meu filho me transmitiu imensa coragem. Em 30 de julho, esse grande guerreiro e amigo encerrou sua missão nesta existência, deixando uma filha linda para dar continuidade à sua luta. Então, fizemos uma cerimônia emocionante para ele, tal como desejou.

Percebi que praticar o budismo me preparou para lidar com a morte do meu amigo e, agora, com a do meu filho. Compreendi que a morte não é uma angústia e sim um fato comum da vida. Encorajado, segui me desenvolvendo, com o apoio dos familiares, amigos e membros da organização. Dois meses depois, Isabel e eu fomos aprovados no Exame de Budismo de 1º Grau.

Na localidade, fizemos planos de reformar o espaço, e tínhamos muitas atividades planejadas para 2020. No entanto, em meio à pandemia do coronavírus, tivemos de nos adaptar e reorganizar tudo. No começo, ficamos um pouco perdidos e refletíamos como incentivaría­mos as pessoas sem sair de casa. Estamos numa região rural em que poucas pessoas utilizam a internet. Por isso, iniciamos um movimento para popularizar o uso do WhatsApp e intensificamos o daimoku. Logo surgiram os resultados positivos e realizamos vários encontros virtuais. Num deles, tivemos a chance de dialogar com o presidente da BSGI, Miguel Shiratori, transpondo a barreira da distância física e nos impulsionando a vencer os desafios visando o futuro.

Há muitas pessoas sofrendo que precisam ouvir sobre o budismo e minha decisão é divulgar cada vez mais o movimento pelo kosen-rufu para elas nos lugares mais remo­tos. Quero levar a filosofia que mudou minha vida para o máximo de pessoas e transmitir-lhes a felicidade que sinto e a determinação de que tudo pode ser transformado.

Pedro Paulo Feita Gonçalves. 51 anos. Aposentado. Resp. pelo Distrito Ponta Porã, CRE Oeste, CGRE.