ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 21/11/2020 11:30
BUDISMO NA VIDA DIÁRIA
A presente série, “Momento BVD (Budismo na Vida Diária)”, trata de temas do cotidiano com base nos ensinamentos do Budismo de Nichiren Daishonin de forma sucinta. Apresenta, sempre, trechos dos escritos de Nichiren Daishonin acompanhados de explanações e de orientações do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda. Essas matérias poderão ser utilizadas em diversas atividades da organização, em especial, nas reuniões de palestra. Naturalmente, uma pesquisa mais aprofundada poderá ser desenvolvida a partir de matérias publicadas nos diversos periódicos e livros da BSGI. Em particular, na Biblioteca de Materiais de Referência do DEB, poderão ser encontradas matérias correspondentes a cada tema na forma de explanações completas e trechos do romance Nova Revolução Human
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de uma família na ilustração Editora Brasil Seikyo – BSGI
Neste trecho inicial do escrito Um Pai Abraça a Fé, Nichiren Daishonin expressa sua imensa alegria pela vitória comunicada pelos irmãos Ikegami em convencer o pai a se tornar seguidor do Sutra do Lótus. Na sequência, ele descreve as características de declínio dos Últimos Dias da Lei em que “veneráveis e reverenciáveis se retiram do mundo e a terra se enche de caluniadores, aduladores, hipócritas sorridentes e de pessoas de princípios desonestos”. Além disso, Daishonin destaca que nesta era “a discórdia reinará entre pai e mãe, entre marido e mulher e entre irmãos mais velhos e mais novos”.
Nichiren Daishonin ensina que a essência desses problemas se encontra na escuridão ou ilusão fundamental da vida que pode ser ultrapassada por meio de uma profunda fé na Lei Mística. Por outro lado, a fé é uma batalha constante contra os obstáculos e as funções da maldade. No caso dos irmãos Ikegami, eles comprovaram a harmonia familiar ao superarem os obstáculos e as maldades, seguindo fielmente as orientações do mestre, Nichiren Daishonin, sobre a forma correta de devoção filial sob a visão do budismo.
Escrito de Nichiren Daishonin
Um Pai Abraça a Fé
Estava bastante preocupado, já que não recebia notícias suas há muito tempo. Não há nada mais esplêndido do que o ocorrido a Tayu no Sakan1 e ao senhor. É realmente maravilhoso!
Lemos nos sutras que é costumeiro, quando uma era começa a declinar, veneráveis e reverenciáveis se retirarem do mundo e a terra se encher de caluniadores, aduladores, hipócritas sorridentes e de pessoas de princípios desonestos. Para dar um exemplo, quando o nível da água baixa, o lago se altera, e quando o vento sopra, o mar se agita. Também lemos que quando a última era se iniciar e ocorrerem secas, epidemias, chuvas fortes e vendavais, até as pessoas de grande coração se tornarão mesquinhas, e até os que aspiram ao caminho adotarão ideias errôneas. Em consequência, os sutras dizem que a discórdia reinará entre pai e mãe, entre marido e mulher e entre irmãos mais velhos e mais novos, que se enfrentarão como caçador e cervo, como gato e rato, como gavião e faisão; para não falar da relação entre estranhos. (CEND, v. II, p. 106)
Resumo e Cenário Histórico
Nichiren Daishonin escreveu esta carta em Minobu, no nono mês de 1277 — segundo outra fonte, 1278 — e a endereçou a Ikegami Hyoe no Sakan Munenaga, o mais novo dos irmãos Ikegami. Nela, Daishonin expressa sua alegria pela conversão do pai de Munenaga, Saemon no Tayu Yasumitsu. Durante vários anos, Yasumitsu se opôs de modo obstinado à fé dos dois filhos, e havia tentado até pôr um contra o outro: deserdou duas vezes o mais velho, Munenaka, e prometeu fazer de Munenaga seu herdeiro se este abandonasse a fé no ensinamento de Nichiren Daishonin. Munenaka superou essa provação; recusou-se terminantemente a abandonar a sua fé; mas Munenaga chegou a vacilar em alguns momentos. No entanto, graças às constantes cartas de incentivo de Daishonin, o filho mais novo resistiu com firmeza à pressão de Yasumitsu por meio da determinação na fé. Tempos depois, Daishonin escreveu a presente carta, quando finalmente os dois irmãos superaram a oposição do pai e o persuadiram a abraçar o Sutra do Lótus.
Explanação do presidente da SGI
Os sutras budistas em geral afirmam que, quando os Últimos Dias da Lei chegam, as pessoas sábias e dignas desaparecerão, e, ao contrário, caluniadores, aduladores, hipócritas sorridentes e aqueles de princípios desonestos proliferarão na terra (cf. CEND, v. II, p. 106). Em outras palavras, trata-se de uma era maléfica invadida por conspiradores interesseiros que semeiam a desconfiança entre as pessoas.
Nichiren Daishonin enfatiza também que uma característica especial dessa época degenerada é que conflitos e discórdias se intensificarão não somente entre a população em geral, mas mesmo entre aqueles que têm relações estreitas, como entre pai e filho, marido e mulher, e irmãos.
Em suas primeiras cartas endereçadas aos irmãos Ikegami, Daishonin mostrou que o pai deles — enganado por influências negativas como Ryokan,2 líder sacerdotal do templo Gokuraku-ji — estava manifestando as funções dos três obstáculos e das quatro maldades3 em suas ações para coagir os dois a abandonar sua fé. Compreendendo profundamente a verdadeira natureza dessa situação com base na Lei Mística, Daishonin lutou incansavelmente contra as insidiosas tramoias de Ryokan e outros.
Ao mesmo tempo, porém, Nichiren Daishonin instruiu os irmãos a demonstrar fiel devoção filial, pois o pai havia sido desviado por um mestre errado, e que persistissem em seus esforços para guiá-lo ao caminho da iluminação por meio do poder da Lei Mística. Isso estava baseado na crença de Daishonin de que a melhor maneira de serem bons filhos era eles atingirem o estado de buda — mesmo que isso por um tempo aparentasse desobediência ao pai, porque permitiria que eles os conduzissem à felicidade no sentido mais verdadeiro e profundo. Daishonin nunca perdeu de vista essa mais importante questão de os irmãos orientarem seu pai para o ensinamento do Sutra do Lótus.
Por diversas vezes nas cartas endereçadas aos irmãos Ikegami, Nichiren Daishonin citou a história dos irmãos Acervo Puro e Visão Pura,4 que conduziram seu pai, o rei Adorno Magnífico, a abraçar a fé no ensinamento do budismo. Ele pede aos irmãos Ikegami para seguir esse exemplo e, em última instância, para criar uma família harmoniosa, dizendo: “Seu pai é como o rei Adorno Magnífico, o senhor e seu irmão são como os príncipes Acervo Puro e Visão Pura. A época é diferente, mas o princípio do Sutra do Lótus permanece exatamente o mesmo” (CEND, v. I, p. 666).
Meu mestre e segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, por diversas vezes também se referiu à história dos irmãos Acervo Puro e Visão Pura para incentivar os jovens cujos familiares não praticavam o Budismo Nichiren. Certa vez, ele disse: “Os irmãos Acervo Puro e Visão Pura convenceram seu pai a abraçar a fé no ensinamento do Sutra do Lótus, demonstrando o poder da Lei Mística na própria vida. Da mesma forma, não há necessidade de vocês se apressarem e começarem a ensinar a seus familiares os princípios do budismo. Mesmo que leve algum tempo, primeiro se esforcem para se tornarem boas pessoas, deixando seus pais tranquilos. Quero que sejam pessoas que realmente se importam, respeitam e apreciam seus pais”.5
A orientação de Toda sensei sobre a “Prática da fé para a harmonia familiar” expressa um de nossos objetivos mais fundamentais como praticantes do Budismo Nichiren. Ele também afirmou que não devemos permitir que nossa prática budista se torne fonte de discórdia ou de conflitos em nossa família. A sinceridade é de primordial importância. Devemos sempre ser sinceros e respeitosos em nosso relacionamento com os outros. Devemos assumir o papel principal sendo alegres e otimistas, e manifestar sabedoria e benevolência para apoiar e abraçar calorosamente os que nos cercam. Nossos contínuos esforços para cultivar essas relações harmoniosas em nosso ambiente são a chave para a vitória na fé, e brilham com a sabedoria do budismo.
Quando a revolução humana e a revolução familiar das pessoas que praticam a Lei Mística difundirem a ideologia do Sutra do Lótus de que todos somos budas e dignos do maior respeito, será possível realizar uma grande transformação do carma de conflitos incessantes dos Últimos Dias da Lei. E, por fim, essa filosofia cheia de esperança se propagará por toda a sociedade e para o mundo todo, restaurando uma calorosa corrente de benevolência em nossa época maléfica.
Trechos do romance Nova Revolução Humana
NRH, cap. “Retorno do Budismo para o Oeste”, v. 3, p. 58
— Manter a decisão de fazer que seu marido venha a praticar é muito natural. Porém, não deve criar conflito por causa disso. A senhora deve ser uma boa esposa e manter a vida conjugal com amor. No caso dos homens, devido à posição na empresa ou por concepções sobre a vida, não se convertem facilmente. Contudo, vendo a esposa mais alegre e os filhos crescendo saudáveis com a prática budista, virá sem falta a abraçar a fé. Mais do que qualquer argumento, a conversão de familiares é decidida pela comprovação real, principalmente no aspecto do desenvolvimento humano. Tudo depende de a senhora tornar-se uma boa mãe e esposa prestativa. A base fundamental de tudo isso é a oração. O importante é ter um objetivo de recitação de daimoku e orar com firmeza.
NRH, cap. “Broto”, v. 6, p. 95
— Eu tenho cinco filhos. Lamentavelmente, um filho e uma filha não são praticantes. Isso me incomoda porque não consegui realizar a “harmonia familiar na prática da fé” conforme uma orientação do presidente Josei Toda.
— Quantos anos têm os seus filhos?
— Todos já passaram da maioridade.
Shin’ichi explicou-lhe então:
— O senhor se engana em pensar que, pelo simples fato de ser pai, seus filhos irão seguir suas recomendações. A crença religiosa é algo que deve ser abraçado livremente.
— É mesmo?
Shingo mostrou-se surpreso com essa inesperada resposta.
— Pensar que seus filhos irão aceitar a prática budista porque o senhor está praticando é superestimar a condição de pai. Se eles são maiores de idade, já possuem seus próprios pensamentos e vivem com base neles. Cabe ao senhor, de um lado, respeitar a opinião deles. De outro, se deseja realmente que eles compreendam e aceitem a prática do budismo, o senhor próprio deve provar em sua vida diária o quanto a prática budista é extraordinária. Em todo caso, o senhor deve esforçar-se em tornar-se alvo do orgulho e do respeito de seus filhos. Por convivermos intimamente, não há como enganar nossos familiares. Eles nos avaliam com muito rigor. Por exemplo, se uma mãe fica reclamando e criticando os companheiros e líderes diante de seus filhos, apesar de se empenhar assiduamente na prática budista e nas atividades da Gakkai, eles jamais irão pensar em seguir a crença de sua mãe. Por outro lado, se o senhor deseja a felicidade de seus filhos e ora sinceramente para concretizá-la, esse sentimento atingirá o coração deles e certamente despertarão para a prática da fé. Além disso, essa oração irá produzir benefícios e boa sorte para proteger seus familiares. Por isso, não há nenhuma necessidade de ficar aflito, nem de impor a prática do budismo.
Material de apoio:
Leia mais:
Biblioteca de Materiais de Referência: Tema de Estudo 3 — Harmonia Familiar I.
CEND, v. II, p. 106.
Notas:
1.Tayu no Sakan é outro nome de Ikegami Munenaka, o mais velho dos irmãos Ikegami.
- Ryokan (1217–1303): Também conhecido como Ninsho, foi um sacerdote da escola Preceitos-Palavra Verdadeira no Japão. Com o patrocínio do clã Hojo, Ryokan tornou-se sumo sacerdote do templo Gokuraku-ji em Kamakura, e exercia enorme influência tanto sobre os funcionários do governo como sobre o povo. Era hostil a Daishonin e conspirava com as autoridades para que ele e seus seguidores fossem perseguidos. O senhor feudal Ema e o pai dos irmãos Ikegami estavam entre os seguidores dele
3 .“Três obstáculos e quatro maldades” (jap. sanshō-shima): Vários obstáculos e adversidades que tentam impedir a prática budista. Os três obstáculos são: (1) obstáculo dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma, que pode se manifestar na forma de oposição do cônjuge ou dos filhos; e (3) obstáculo da retribuição, também interpretado como obstáculos causados pelas pessoas às quais o praticante deve obediência, como governantes e pais. As quatro maldades são: (1) maldade dos cinco componentes; (2) maldade dos desejos mundanos; (3) maldade da morte; e (4) maldade celestial.
4 Acervo Puro e Visão Pura: Dois príncipes mencionados no capítulo 27, “Os Feitos Iniciais do Rei Adorno Magnífico”, do Sutra do Lótus. O pai deles era o rei Adorno Magnífico, e sua mãe, a Virtude Pura. Os dois irmãos manifestaram vários poderes sobrenaturais para convencer o pai, um seguidor dos ensinamentos não budistas, a aceitar o Sutra do Lótus
5 Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 2, p. 317-318, 1982.