ROTANEWS176 E POR SOCIENTIFICA 19/12/2020 16:00 Por Felipe Miranda
Reprodução/Foto-RN176 (Senckenberg)
Famosas são as amedrontadoras serpentes píton. Embora nem sempre tão grandes, elas ainda possuem força e poder suficiente para esmagar e quebrar os ossos de sua presa, antes de engoli-la. Agora, então, um grupo de pesquisadores encontrou o fóssil mais antigo já registrado de uma píton, com aproximadamente 48 milhões de anos de idade.
Encontrada em um antigo lago em um local da área onde situa-se hoje a Alemanha, o fóssil ajudará os pesquisadores a traçar uma linha temporal da localização das pítons. Não sabia-se com certeza se eles sempre habitaram a ásia e a áfrica, como nos dias de hoje (não há mais pítons na natureza da Europa), ou se originaram-se em outro local. A serpente na Alemanha, então, traz novas peças para o quebra-cabeça.
A equipe de pesquisadores do Senckenberg Research Institute and Natural History Museum, na Alemanha, e da Universidade de São Paulo (USP), descreveram a descoberta em um artigo publicado no periódico Biology Letters.
Fóssil de píton
O fóssil não representa nenhuma espécie viva ou catalogada de píton. Então, os pesquisadores batizaram a nova espécie de Messelopython freyi, em homenagem ao paleontólogo Eberhard “Dino” Frey, pesquisador no Museu Estadual de História Natural de Karlsruhe (SMNK), localizado na Alemanha.
Reprodução/Foto-RN176 (Senckenberg).
Os fósseis, cada um com aproximadamente um metro de comprimento e 275 vértebras, localizavam-se no Sítio Fossilífero de Messel, na Alemanha. Trata-se de um Patrimônio Mundial da UNESCO, por sua importância na paleontologia, devido ao grande número de fósseis ali depositados.
Como destacado no início, hoje, as pítons distribuem-se naturalmente pela África, sul e sudeste da Ásia e pela Austrália, único país continental da Oceania.
“A origem geográfica das pítons ainda não está clara. A descoberta de uma nova espécie de python no Poço de Messel é, portanto, um grande salto para a compreensão da história evolutiva dessas cobras”, diz o pesquisador Dr. Krister Smith, do Senckenberg Research Institute and Natural History Museum em um comunicado do Instituto.
Reprodução/Foto-RN176 (Hessian State Museum Darmstadt).
Então, eles precisavam encontrar fósseis mais antigos e entender um pouco mais sobre a origem desse gênero de serpentes. “De acordo com nossas descobertas, essas cobras já ocorreram na Europa na época do Eoceno, há mais de 47 milhões de anos. Nossas análises traçam sua história evolutiva até a Europa!”, diz o Dr. Hussam Zaher, da USP.
Em busca das origens
As cobras constritoras são serpentes não peçonhentas que imobilizam suas presas estrangulando-as – então, elas não picam. As cobras peçonhentas, isto é, as cobras venenosas, liberam as substâncias tanto para se defender, como para matar ou paralisar uma presa, como pequenos mamíferos, aves e roedores.
Reprodução/Foto-RN176 Píton da Índia, uma das espécies modernas de Píton. (Diego Delso).
A píton é constritora, e é parente da Jibóia, pois ambas são anatomicamente muito parecidas. Hoje, elas separam-se por longas distâncias geográficas, mas suas ancestrais já viveram juntas. “Conforme o clima global começou a esfriar novamente após o Mioceno, as pítons mais uma vez desapareceram da Europa”, diz Smith; isso ocorreu entre 23 e 5 milhões de anos atrás.
“No entanto, em Messel, tanto Messelopython freyi quanto jibóias primitivas como Eoconstrictor fischeri viviam juntos no mesmo ecossistema – temos, portanto, que revisitar a tese de que esses dois grupos de cobras competiam entre si, tornando-os incapazes de compartilhar o mesmo habitats”, explica Smith no comunicado.
Em outras palavras, então, além de demonstrar um pouco do caminho até a origem do gênero taxonômico das pítons, a descoberta abre portas para novas leituras da separação entre as jibóias e as pítons. Além de alguns trechos da África, Ásia e da América do Sul, as jibóias continuam a habitar a Europa até hoje. Se não por competição, o que levou a esse afastamento das pítons?
O estudo foi publicado no periódico Biology Letters.
Com informações de Live Science e Senckenberg Research Institute and Natural History Museum.