Quadrinho da vida real

ROTANEWS176 E POR JORNAL  BRASIL SEIKYO 19/12/2020   07:05

PELO MUNDO

REDAÇÃO

No Chile, o ilustrador Geraldo Borges comprova a alegria de viver da arte de desenhar e de criar a própria história de vitórias

O cearense Geraldo Borges começou a desenhar quando ainda era criança e, encantado por contar histórias, viu nos quadrinhos uma forma de combinar seus talentos. No entanto, não imaginava que o hobby de infância se tornaria um trabalho reconhecido no Brasil e no mundo, realizando projetos nas consagradas DC Comics e Marvel. Hoje, vivendo no Chile com a família, compartilha seu conhecimento na escola de desenho que idealizou por lá.

Reprodução/Foto-RN176 Foto  Editora Brasil Seikyo – BSGI

Em entrevista para o Brasil Seikyo, o ilustrador, revela detalhes dessa saga aventureira.

Brasil Seikyo: Como seu talento para desenhar se transformou em uma possibilidade de carreira profissional?

Geraldo Borges: Tive a primeira experiên­cia profissional em 1997, desenhando uma revista chamada Capitão Rapadura, criação do cartunista Mino, em Fortaleza, CE. Porém, a profissão de quadrinista ou desenhista de quadrinhos, estava longe de ser um ofício reconhecido. Então, quando terminei a faculdade de engenharia civil, eu me conformei em trabalhar como engenheiro e ter as histórias em quadrinhos (HQs), com os super-heróis de que tanto gostava, como um sonho distante e impossível. Isso mudou em 2001, quando viajei a trabalho para Manaus, AM, e lá conheci o Nam-myoho-renge-kyo e a BSGI por intermédio da colega Ana Cláudia, que hoje é minha esposa. Motivado, passei a ver meu sonho inalcançável como objetivo, iniciando a prática budista naquele mesmo ano.

BS: Foi assim que o sonho se tornou realidade?

GB: Sim. Motivado, entrei em uma agência brasileira que representava artistas no mercado americano e, a partir daí, comecei a produzir revistas para os Estados Unidos. Assim surgiu a chance de trabalhar para a DC Comics, ilustrando praticamente todos os personagens da editora, como Batman, Super-Homem, Mulher-Maravilha, Liga da Justiça, Legião dos Super-Heróis, Aquaman, Lanterna Verde, Asa Noturna, Mortal Kombat. Mais recentemente, trabalhei na Marvel desenhando os X-Men, Apocalipse, Homem-Aranha, Wolverine, Star Wars.

Um dos momentos mais emocionantes que vivi foi em 2017, durante a Comic Con Experience (CCXP), realizada em Recife, quando meus pais participaram do evento vendo meu trabalho de perto pela primeira vez. Uma semana depois meu pai faleceu e, apesar desse sofrimento, tranquiliza-me saber que ele pôde atestar que segui por um bom caminho. Destaco também a atuação na Convenção dos 50 anos da BSGI, em Manaus, na qual, além das atividades nos bastidores, fui contratado pela Secretaria de Educação para fazer uma ilustração de Ikeda sensei com motivos amazônicos para presenteá-lo.

BS: Como se deu a ida para o Chile e sua adaptação profissional nesse país?

GB: Sempre li nas orientações de Ikeda sensei sobre ser cidadão do mundo, então pensava nessa possibilidade junto com minha família. Em 2018, fui convidado para participar de um grande evento no Chile, onde meu trabalho já era reconhecido, e aproveitamos para fazer a mudança, saindo de Natal, RN. Em Santiago, nós nos adaptamos ao espanhol, mesmo sem conhecer o idioma, e montei uma escola de desenho com uma sócia chilena. Com outro sócio chileno, abri uma agência que representa artistas do Chile, da Argentina, da Colômbia e do Brasil para o mercado internacional, e também criamos a revista El Último Detective, publicada no Chile, nos Estados Unidos e, no ano que vem, no Brasil.

Neste momento em que as pessoas estão mais distantes, com dificuldades econômicas, sociais e psicológicas por conta da pandemia, procurei incentivá-las, através de plataformas on-line, a desenhar e a ler (ou mesmo criar suas próprias) HQs e, com a arte, levar a esperança de que “O inverno nunca falha em se tornar primavera”,1 tal qual diz Nichiren Daishonin.

BS: Como foi a adaptação na Soka Gakkai da localidade?

GB: Logo passamos a fazer da parte de um grupo (equivalente ao bloco no Brasil) para participar das reuniões. Minhas filhas Ana Maria e Ana Júlia fazem parte da banda feminina Kotekitai e atuam como líderes e junto comigo no grupo de tradutores. Minha esposa e eu também somos líderes de comunidade, apoiando cinco grupos diferentes. Colaborar com ilustrações para RDez, Brasil Seikyo e Terceira Civilização me permitiu contribuir hoje com desenhos para a revista Fortuna, da SGI-Chile. Recentemente, Ana Cláudia e eu compartilhamos nosso relato numa atividade em nível nacional. Minha filha, Ana Maria, entrou para a Universidade de Chile, e a Ana Júlia foi uma das representantes do país na Convenção Mundial dos Jovens, em setembro deste ano.

BS: E como visualiza seu trabalho no futuro?

GB: Pretendo seguir desenhando e criando minhas histórias até o fim da minha existência, promovendo os ideais Soka por meio do meu trabalho e das minhas ações, junto com minha família e com base no juramento de jamais abandonar a Gakkai e a prática budista, não importando onde esteja.

Nota:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, v. I, p. 559.