ROTANEWS176 E POR SOCIENTIFICA 25/12/2020 14:23 Por Élisson Amboni
Conheça a história real
Reprodução/Foto-RN176 O primeiro leão, morto por John Henry Patterson, agora identificado como FMNH 23970. (Imagem: Field Museum)
Os leões de Tsavo, como ficaram conhecidos, vivem próximos do rio Tsavo, no Quênia. E, durante o final do século 19, foram as criaturas mais temidas do continente africano.
Durante a construção de uma ponte ferroviária sobre o rio Tsavo, no Quênia, a partir de 1898, o comportamento incomum dos leões começaram a assustar os trabalhadores e os moradores daquela região. Eles caçavam e comiam seres humanos incessantemente. Os trabalhadores da ferrovia eram as principais vítimas.
Para tentar minimizar os ataques, os trabalhadores construíram cercas com árvores locais e acendiam grandes fogueiras ao redor de seus dormitórios. Para nada. Os dois leões responsáveis pelo temor daquela gente demonstravam inteligência incomum. Eles burlavam as cercas e não demonstravam medo do fogo.
Muitas vítimas foram surpreendidas durante o sono, puxadas para fora e comidas próxima dali. Os trabalhadores sumiam de forma misteriosa, talvez fugindo da ameaça que era trabalhar naquele local, talvez comidos pelos dois machos de leões de Tsavo.
No início, eles nem sempre foram bem sucedidos em seus esforços para levar a vítima, mas passaram a enfrentar qualquer perigo para a obtenção de seu alimento favorito. Seus métodos, em seguida, tornaram-se tão misteriosos, e sua espreita e ataque tão bem cronometrados e tão certos do sucesso, que os trabalhadores acreditavam firmemente que não eram animais de verdade, mas sim demônios em forma de leão. — John Henry Patterson, em The Man-Eaters of Tsavo.
Os leões de Tsavo diferenciam em fisionomia com os seus parentes do restante da África. Os machos de outras localidades possuem grandes crinas, escuras ou claras, e os de Tsavo possuem crinas curtas, finas ou nenhuma. Você poderia confundi-lo facilmente com uma fêmea.
Reprodução/Foto-RN176 Os corpos dos dois machos em exposição no Field Museum, em Chicago.
A lenda popular proclamou até pouco tempo que mais de 130 pessoas haviam sido mortas pelos dois animais somente naquele período, mas pesquisas recentes mostraram evidências químicas que, meses antes de serem mortos, um dos leões havia comido 10 humanos e o outro 24. Números ainda assustadores.
Mas, afinal, por que leões de Tsavo gostam da carne humana?
Samuel Kasiki, diretor adjunto do Biodiversity Research and Monitoring with the Kenya Wildlife Service, dá uma resposta plausível para este fenômeno.
“Durante séculos, as caravanas de escravos árabes passaram por Tsavo a caminho de Mombaça. A taxa de mortalidade era alta; era uma área ruim para a doença do sono da mosca tsé-tsé; e os corpos dos escravos que morreram ou estavam morrendo foram deixados onde caíram. Assim, os leões podem ter adquirido o seu gosto pela carne humana comendo os cadáveres”, disse ele.
Ainda hoje, mesmo após 100 anos da grande caçada dos leões por humanos que trabalhavam na ferrovia, mortes são comuns por leões de Tsavo.
“Quando cheguei a Nairobi, chegou à capital a notícia de que um leão tinha acabado de matar uma mulher em Tsavo. Um pastor de gado tinha sido devorado semanas antes”, disse Paul Raffaele em artigo para o Smithsonian em 2010, quando partiu em expedição com Bruce Patterson, zoólogo do Field Museum of Natural History, nos Estados Unidos, que passou a última década estudando leões na região do rio Tsavo.
Caçando os leões
Para resolver a situação das matanças incessantes durante a construção da ponte ferroviária no século 19, o responsável pela obra, o tenente-coronel John Henry Patterson, entrou numa caçada mortal atrás dos dois leões. No livro The Man-Eaters of Tsavo, ele conta sua experiência com a construção da ferrovia e com os leões.
Reprodução/Foto-RN176 O segundo, leão morto por Patterson, agora identificado como FMNH 23969. (Imagem: Field Museum)
Depois de passar vários meses tentando caçar os animais, esperando em tocaia em locais que os leões haviam atacado anteriormente, ele conseguiu matar um dos machos em 9 de dezembro de 1898 e o segundo leão 20 dias depois, do qual Patterson escapou por pouco de ser morto.
Petterson vendeu seus corpos por 5 mil dólares, na época, para o Field Museum of Natural History, onde, empalhados, eles estão em exposição até hoje.
Pesquisas recentes comprovaram que os leões tinham os dentes infeccionados, dificultando a caça de animais maiores e com a carcaça mais dura. Humanos, por serem animais frágeis e lentos, foram a escolha para os dois leões de Tsavo não passarem fome. E ainda hoje somos a sua caça preferida, já que frequentemente há relatos de ataques na região.
Uma versão desta matéria foi publicada em dezembro de 2019.